Archives de l’auteur : yannbeauvais

A gente saía de manhã sem ter idéia (sobre José Agrippino de Paula) (Pt)

in Lugar Comun n° 28, Estudos de mídia, cultura e democracia, Rio de Janeiro, 2009

Há quase seis anos, morria José Agrippino de Paula, importante artista da contra-cultura brasileira que deixa uma obra singular composta de romances, de uma peça de teatro e de alguns filmes.

Obra chave da literatura brasileira, PanAmérica1compartilhava grande número de aspirações da juventude brasileira da épocaos anos 60, apropriando-se de boa parte da cultura americana. Neste romance e na peçaUnited Nations, José Agrippino de Paula desmontava, por meio do excesso, as mitologias cotidianas produzidas pela indústria cultural.

José Agrippino de Paula nasceu em São Paulo em 1937. Após estudos de arquitetura, ele passa a residir no Rio de Janeiro onde estuda até 1964.

É nesta cidade que ele vai escrever seu primeiro romance: Lugar Público2 . Trata-se de um verdadeiro romance de formação no qual o choque entre as culturas é patente. Ao formidável desenvolvimento das cidades da América do Sul corresponde uma expectativa da juventude que busca outros modelos no cinema e na música americana. O confronto entre uma ordem vacilante e o retrato de uma nova geração que sobrevive em uma cidade que supomos ser o Rio de Janeiro e que sofre diretamente o golpe de Estado de 64; A descrição de uma manifestação de operários, reprimida pelo Exército; A irrupção de tanques na cidade desertada e o anúncio do golpe de Estado no rádio são incorporados no romance. São aspectos relevantes do texto, mas não tão recorrentes como o tema da morte do pai ou como a questão da homossexualidade e da prostituição. O romance multiplica as descrições de zonas urbanas desoladas ou em pleno desenvolvimento, e é atravessado pelas derivas de um grupo proteiforme de amigos que tem enormes dificuldades para garantir sua sobrevivência. O interesse pela paisagem urbana e pela mitologia cotidiana é compartilhado com outros autores brasileiros dos anos 60 mas, no caso de Agrippino, esse interesse manifesta potencialmente uma cenografia que irá se desdobrar nos happenings realizados com Maria Esther Stockler e no seu filme Hitler 3o Mundo. Ele reconhece que “sua formação

em arquitetura tem tudo a ver com cenografia”  3 .  Desde 1961, tirando proveito do teatro Arena da universidade, ele monta uma adaptação de Crime e Castigo.

De volta a São Paulo, ele freqüenta os ateliês de Roberto Aguilar e de Maria Esther Stockler, onde ela ensaia um solo. José Agrippino e Maria Esther vivem juntos por breve tempo e trabalham separadamente em um primeiro momento: ela monta dois espetáculos no seio do

grupo Móbile 4  e ele escreve seus dois primeiros romances. Por ocasião de um festival produzido e financiado pelo Sesc SP, eles trabalharão juntos na peça Tarzan do 3o Mundo. O espetáculo, apresentado durante quinze dias, é o resultado de uma experimentação em laboratório por eles realizado na ocasião. Cada cena recorre a um artista plástico. Para além das diferenças, Maria Esther percebe a existência de uma linha que, embora não diretiva, assinala uma estética: a do collage. A justaposição ou simultaneidade das situações apresentadas moldavam um estilo singular. Se trata de uma colagem «as autoridades falando sempre coisas que (…) não tem interesse (…) nem muita sinceridade,

(…) as pessoas nem ouvem(…)» como o observa Maria Esther Stockler 5. Trata-se de uma escrita que justapõe blocos autônomos seja mais ou menos autobiográficos (referência à morte do pai, vida estudantil,…), seja exploradores de uma imagem cuja amplificação chama sempre outras. A potência fabuladora das imagens participam do sonho e da alucinação. Provenientes da linguagem cinematográfica, ela afirma as rupturas e permite justaposições de blocos temporais distintos que não devem seguir um desenvolvimento causal bem definido. A sucessão de eventos em blocos distintos se efetuam segundo uma lógica interna própria. As justaposições desencadeiam novas perspectivas e favorecem a multiplicidade das ligações afirmando suas próprias virtualidades. É pelo fato de proliferarem e fugirem que as imagens conduzem a nós de virtualidade que a narrativa, o filme ou o happening resolvem cada qual a sua maneira. A proliferação das imagens corresponde mais a um “pop-fantástico” do que a uma nova manifestação latina de um surrealismo fantástico. Podemos encontrar este “pop-fantástico” nas colagens de Erró dos mesmos anos, assim como em Science Friction(1959) ou Breathdeath (1964) de Stan VanDerBeek em que um mosaico, um tecido de relações rompe com a linearidade ou simetria da trama. Em José Agrippino de Paula, este fenômeno é reforçado pela presença de um “Eu” que não pertence a si mesmo, de um Eu anônimo e deslocado que cria uma pluralidade de vozes sem que nenhuma domine. Estamos constantemente na oscilação entre um Eu e um Outro, em um tempo diferido, por vir ou que já veio. O tempo privilegiado é aquele que vê a confrontação e a proliferação das imagens se suceder ao acaso das associações conforme ritmos e velocidades que manejam furos e suspensões ao longo da ação ou do evento. Os blocos são freqüentemente serializados emThe United Nations e PanAmérica; suas ocorrências não sistematizadas acenam para o aleatório. Zé Agrippino de Paula se apodera do cinema à maneira de um artista pop quando recicla os ícones do cinema hollywoodiano – Marilyn ou Liz. Mas utiliza todo o dispositivo cinematográfico produtor de irrealidade como faria o poeta. “Ao citar Marilyn Monroe, eu procurava fazer

como Warhol: criticar os mitos quotidianos criados pela indústria cultural.” 6 Os atores dos filmes, quase íntimos nossos graças à mídia, são por sua vez incorporados nas ficções. Esse trabalho lembra o de Warhol na medida em que se apropria de imagens de estrelas e de desastres, apaga detalhes da imagem em proveito dos planos e, desse modo, produz ícones que ele recoloca em circulação. Em Zé Agrippino, os atores se tornam protagonistas de um cinema pessoal: eles são colocados em cena como um sonho, uma alucinação, um delírio. Di Maggio, Marilyn Monroe são imagens sem espessura, são soldados de chumbo que passeiam por cenários que mudam constantemente. Eles não ocupam o espaço: eles estão na superfície da imagem, prontos para se deslizar para dentro de alguma aspereza da narrativa, do cenário. Em Warhol, Marilyn se desmagnetiza na proliferação cromática. Em de Paula, posta em cena sexualmente, Marilyn se torna uma imagem com a qual podemos gozar. Não se trata do mesmo desvio do sentido, embora ambos se inscrevam no Pop. A abertura de PanAmérica traz a produção delirante de uma filmagem que evoca a versão de Cecil de Mille. José Agrippino de Paula amplifica o mito da realização do filme transformando-o em uma epopéia a serviço do delírio de um tirano, encenada por um autor que não podemos verdadeiramente determinar. O cinema que interessa e aprecia José Agrippino de Paula é o cinema hollywoodiano; gosto que ele compartilha com alguns cineastas underground americanos (Kenneth Anger, George et Mike Kuchar et Jack Smith, por exemplo) que vêem em Hollywood uma fonte inesgotável de inspiração. A descrição das cenas de filmagem multiplica os pontos de vista de acordo com velocidades variáveis e de modo semelhante a uma edição paralela que permite a existência quase simultânea de várias cenas. Essa simultaneidade lembra o funcionamento do circo Barnum que, com suas três pistas, certamente influenciou a produção de happenings durante os quais diversos eventos ocorrem ao mesmo tempo em lugares distintos.

A descrição das filmagens, a polifonia e a proliferação dos pontos de vista nos colocam no seio do cinema. Não somos mais meros espectadores: nós agimos e produzimos nosso cinema. Hollywood já não é mais longe, mas se torna um prolongamento do nosso imaginário a partir do qual fabricamos novas imagens. Esta apropriação do cinema comercial permite a emancipação das regras e do bom gosto: passamos da referência a irreverência, com a maior candura. Modalidades particulares, nas quais a dilatação temporal e o percurso vertiginoso das novas imagens produzidas desempenham um papel preponderante, estão operando. Em The United Nations, os protagonistas de um jogo de xadrez gigante se misturam aos atores na filmagem de uma ficção, com Charles Boyer como Napoléon. Nos romances, as interrupções funcionam como parênteses autônomos e são produtoras de novas narrativas. As manifestações que precedem ou seguem o golpe de Estado são dispersadas ao longo de Lugar Público. Elas literalmente se encaixam com os personagens, e os mergulham e desencaminham para outros espaços mentais. Personagens recorrentes habitarão as narrativas, seja das peças de teatro seja dos longas-metragens: Hitler, o papa, Che Guevara (em PanAmérica eThe United Nations)… A escrita cinematográfica deHitler 3o Mundo, assim como aquela que norteia os diferentes happenings, contesta nossos hábitos de assistir a um filme, ver um espetáculo ou ler um livro.

Mais do que um caos, trata-se da produção de um chaosmos 7 que se impõe através dos artifícios romanescos e teatrais. Somos mergulhados em uma situação onde o desconforto, o imponderável, o intempestivo, o grotesco, o obsceno e o contestatório são os vetores da dramaturgia assim como da forma sob a qual ela se enuncia.

imgres1

Em PanAmérica, o realismo descritivo das cenas da gravação do filme convoca um delírio que não teria renegado o Jack Smith de Normal Love (1963-64) e de Yellow Sequence (1963). Nessa narrativa, José Agrippino de Paula ridiculariza e zomba das estrelas hollywoodianas. Elas não são mais nada além de caricaturas, de papéis travestidos. Sua apropriação pela linguagem e dentro da linguagem do artista prefigura aquelas de Hitler 3o Mundo ou aquelas deTarzan 3o Mundo e de Rito do Amor Selvagem. As reivindicações manifestadas se inscrevem no contexto particular da ditadura que se instala no Brasil em 1964. O consumo e seus mitos são tratados de modo mais ou menos crítico de acordo com o lado do Atlântico. Mais do que Lugar Comum, PanAmérica descreve o evento da sociedade do espetáculo na América do Sul, confrontando a epopéia de um guerrilheiro neste continente à realização de um filme épico. A introdução da Guerra Fria no seio do romance tanto ecoa os acontecimentos do Brasil de então quanto manifesta o desejo de quebrar certa hierarquização que põe a arte popular e a contemporaneidade bem ao pé da escada, longe da grande arte. Como outros artistas de seu tempo, José Agrippino de Paula afirma a necessidade de se responsabilizar pelas aspirações e os comportamentos de sua geração afirmando a não-separação entre a arte e a vida.

É preciso compreender sua fixação pelo cinema hollywoodiano e à música pop anglo-saxã neste sentido. De repente estamos na contemporaneidade, os jovens deLugar Comum saciam seus desejos sexuais ao som de diversas músicas e em locais propícios aos encontros, sejam eles lícitos ou não

“era um livro influenciado pela literatura francesa e pela nouvelle vague 8”. Enquanto em PanAmérica ela é menos fortemente afirmada, neste primeiro romance a homossexualidade vai ocupar um lugar importante. Encontraremos em Hitler 3o Mundo e nas peças de teatro, diferentes personagens homossexuais provocadores que se afirmam na transgressão. Essa transgressão das regras e dos comportamentos permite denunciar a hipocrisia de uma sociedade que não aceita a sexualidade de sua juventude. A provocação é uma arma a qual recorre o escritor-cineasta: um ditador homossexual um tanto ridículo aparece em Hitler 3o Mundo; em The United Nations, body-builders dourados interrompem o desenvolvimento da peça arranhando rostos e torsos ao alcance de suas unhas; em PanAmérica, dançarinos homossexuais põem suas bundas em evidência; Cassius Clay torna-se homossexual, por não conseguir parar de peidar…

 O fato do protagonista principal do início dePanAmérica ser um cineasta não inaugura devir algum do autor. Os filmes que ele vai fazer não assinalam a estética do cinema que ele descreve. O cinema que ele descreve é um cinema de grande espetáculo que recorre a meios consideráveis, que não poupa seus efeitos. Todavia, ele o desmistifica através da descrição delirante de seus mecanismos de produção. A crítica se manifesta pelo superfaturamento espetacular, como se o espetáculo só pudesse ser abolido pelo e dentro de seu próprio excesso. O excesso é constante em sua obra: deThe United Nations, PanAmérica, Tarzan 3o Mundo, passando por Planetas dos Mutantes ou Rito do Amor Selvagem. Sua crítica denuncia o imperialismo cultural expresso pelo cinema hollywoodiano e o poder econômico e militar exercido pelos Estados Unidos sobre o mundo nos anos 60. Enquanto em Lugar Público ele critica o cinema da Nouvelle Vague, em PanAmérica ele trabalha o excesso produzindo um simulacro de filme hollywoodiano. Aliás, a questão do simulacro é essencial para compreender o que é tramado na obra de José Agrippino de Paula. Ela motiva a polifonia das ações.

 Esta polifonia faz da colagem o momento constitutivo do processo de produção e de recepção da obra. Uma outra manifestação pode ser encontrada no trabalho sonoro. Aqui a publicaçao de algunas musicas de Zé agrippino é importante informandos nos sobre a importancia da improvização. Lembramos que, para José Agrippino de Paula, o collage é compreendido a partir de um conceito cinematográfico: a mixagem. No texto de apresentação de Rito do Amor Selvagem, ele se refere a este uso da mixagem como elemento dinâmico e específico da criação do grupo Sonda. A mixagem se trona o princípio da própria montagem. Ambas as técnicas de montagem e de mixagem operam em seu longa metragem.

Hiter 3o Mundo foi realizado em 1969 com a maioria dos membros do grupo Sonda. Ele foi feito enquanto Jorge Bodansky e José Agrippino de Paula filmavam a peça O Balcão em adaptação de Victor Garcia.

Quando Zé Agrippino se joga na realização deste primeiro filme, ele precisa encontrar alguém que possa filmar para ele que nunca utilizou uma câmera. O desejo de produzir imagens que são antes de mais nada imagens mentais como é o caso nos romances, ou então imagens que resultam de um processo de criação coletiva emhappenings, vai trazer a necessidade de um modo de colaboração distinto daquele que foi experimentado até o momento. O princípio da mixagem será aplicado a todas as fases da produção desse filme que permanecerá como experiência singular e formadora não apenas na carreira de Zé Agrippino, mas também naquela de alguns de seus participantes, entre os quais Jorge Bodansky principalmente. Este filme, situado fora do cinema marginal embora a ele ligado, é objeto único na paisagem cinematográfica brasileira, Uma outra particularidade de Hiter 3o Mundo está no fato de ter sido descoberto no Brasil apenas muitos anos após a sua realização, tendo sido projetado pela primeira vez em 1984, o que explica o fato de ter escapado da fúria da censura, contrariamente a outros filmes.

Muitos filmes do cinema marginal não mostram a miséria diretamente, distanciando-se da realidade e utilizando a parodia e o escárnio ; nesses filmes abundam citações e reciclagem de imagens ; o humor e a sexualidadesão ai importantes. Em contrapartida, o cinema novo mostra a miséria e a revolta, e contradiz as imagens e os discursos de propaganda do governo e da burguesia, como o fez Glauber Rocha em Barravento(1961), quando não apresenta as imagens esperadas pelos observadores europeus.

O filme de José Agripino de Paula é um objeto estranho no domínio do cinema marginal. O poeta concretizou a ideia de fazer um filme durante a produção de Rito do Amor Selvagem. Nessa época Jorge Bodansky filmava O Balcão na adaptação de Victor Garcia; e pôs-se à disposição de Zé, que « não sabia explicar exatamente o que queria, nem compreendia inteiramente as condições técnicas indispensáveis à realização de um filme (9) ». Precisando-lhe ao mesmo tempo, que teria necessidade para filmar de três coisas: “uma câmara disponível; ruinas de películas virgens vindas de outras filmagens e uma unidade de locomoção que era em geral uma Kombi VW emprestada »

A filmagem, na clandestinidade, durou um ano, em função do dinheiro e a disponibilidade dos protagonistas e do operador de câmara. A improvisação dominava. “Todas as manhãs saíamos sem saber a que se chegaria até à noite ». Encontramos neste filme varios participantes do Tarzan III Mundo – O mustang Hibernado e extratos de cenas são incorporados ao script de Rito do Amor Selvagem, como por exemplo a cena do bacanal e a do casamento.

Quando José Agrippino de Paula começa, não tem ideia da forma que tomará o filme; só o desejo de fazer um filme o motiva. O filme justapõe acontecimentos onde personagens são confrontados à multidão anônima de um espaço publico. cenas de interiores que asfixiam, planos que servem de interrupções ou de inserções, nas quais o espaço urbano do São Paulo dos anos 60 emerge com mais ou menos força. Trata-se de um espaço urbano caótico no qual os terrenos baldios deixam aparecer panos de fundo de uma cidade em construção, blocos de predios, edificios altos, vias de circulação. A cidade em desenvolvimento vê aumentar na sua periferia ou nos seus interstícios favelas ou zonas baldias: não se trata exatamente do campo, mas de outra coisa (percebe-se também esse traço em Glauber Rocha e Ivan Cardoso.) Trata-se da representação do espaço urbano de um país emergente, um país em desenvolvimento no qual o tecido urbano não está organizado mas parece responder a uma disseminação mais próxima da polinização que da planificação, que faz estar lado a lado, por exemplo, um edifício moderno e um rio seco que se tornou esgoto.

imgres-5

Não seguimos a deambulação de um personagem através de uma cidade como se faz em Pestilent City (1965) de Peter Goldman, The Flower Thief ou The Queen of Sheeba Meets The Atom Man (1963) de Ron Rice. Blocos de cenas opõem-se ou enfrentam-se com uma dinâmica que reforça a trilha sonora. Esta última é um elemento ativo da desmontagem cinematográfica; a sua riqueza evoca as numerosas pessoas que trabalharam. Em um piscar de olho malicioso, Zé Agrippino, credita no genérico José Mauricio Nunes (10) como autor da trilha sonora. A trilha sonora reflete uma grande diversidade de abordagem e usos da matéria sonora. Passa-se do cochicho à manipulações sonoras (como por exemplo a inversão do desenrolar da fita) ou placagens de músicas POP da época, como Jimmy Hendrix. Todos quiseram apropriar-se da trilha sonora mas na última instância, como o confirma Jorge Bodansky, foi de José Agrippino a última palavra. Na sequência do não pagamento do negativos a um laboratório, os técnicos montaram o som ao contrário. Ele fez seu este imprevisto guardando algumas destas passagens.

Às vezes, os comentários de Hitler Terceiro Mundo em voz off, evocam as modulações da voz de Jack Kerouac em todos os papéis de Pull My Daisy (1959), às vezes, a voz convoca a poesia concreta. A dinâmica da performance falada assinala a presença do corpo, de outra maneira. A narração polissincronizada não se liga ao acontecimento filmado, são comentários sobre a imagem e em redor dela, como os que realiza Jack Smith (Blonde Cobra, 1963, de Ken Jacobs). O comentário desrealiza o presente filmado em aproveitamento de uma outra temporalidade heterogénea, que se inscreve de froma desequilibrada em relação aquela da captação. Por este desvio, o corpo do locutor adquire uma outra presença e rivaliza com a da tela . Este diálogo retomado induz distanciamento da ação representada. A aderência, se tanto for que nunca existiu, é abolida em aproveitamento de uma justaposição desarmônica. O processo não é ocultado mas também não é afirmado. O comentário atualiza o que não está na imagem, jogando com o estatuto da voz em off. Desloca mais que substitui e permite olhar a imagem, de outra maneira. Uma pluralidade temporal afirma-se então na imagem, que não mima a realidade, mas dá forma à uma realidade cinematográfica específica.A riqueza sonora em Hitler Terceiro Mundo é resultante do trabalho realizado nos espetáculos precedentes, nos quais encontrava-se uma grande variedade de sons: sons eletrónicos live até as músicas gravadas, colagem de discursos e diatribes políticas que evocam os cut-ups de William Burroughs. A integração meticulosa do som aos outros componentes dos espectáculos : danças, luzes, teatros, circo, visa a produzir uma Arte-soma, para retomar os termos de José Agrippino de Paula e Maria Esther Stockler. Esta prática é reatualizada em Hitler Terceiro Mundo.

images-1

O filme é composto de uma suite de sequências que exploram diferentes efeitos do poder. Após uma curta introdução numa cozinha que mostra um homem em terno e gravata, o filme se desenvolve com uma sequência na qual uma situação absurda evoca o cinema de vanguarda americano do fim dos anos 40 e 50. Um homem e uma mulher num fusca parado figem rolar, saltando sobre os seus assentos como se tivessem arrebentados e soltos. A partir do momento em que eles se encontram no garagista para trocar o pneu, o filme abandona qualquer realismo para evoluir num campo específico, o POP fantástico próprio a José Agrippino de Paula. As cenas se sucedem fora de qualquer lógica, privilegiando rupturas e acidentes. O caráter político fortemente marcado foi frequentemente minimizado em favor de uma leitura que privilegia a originalidade da proposta cinematográfica, de acordo com a definição que dá Jairo Ferreira :“Cinema de invenção se apóia na arte como tradição/tradução/transluciferação. Utiliza-se de todos os recursos existentes e os transfigura transfigura em novos signos em alta rotação estética: é um cinema interessado em novas formas para novas idéias, novos processos narrativos para novas percepções, que conduzam ao inesperado, explorando novas áreas da consciência,

revelando novos horizontes do (im)provável. 9»

Os filmes, pelo menos para os dois projetos do ano 69,Hitler Terceiro Mundo e Rito de Amor Selvagem prolongam os caminhos inovadores das peças, seja a nível da produção bem como da performance. No filme varias cenas utilizam clichés sobre a tortura, ou parodiam o fausto da encenação numa ditadura de estado, ou a ridiculizam. Pode-se citar a cena de assinatura do decreto de execução, ou aquela na qual a mãe do condenado vem reclamar o seu levantamento em Hitler. Ela surge quando Hitler e o seu amante lavam-se numa minúscula sala de banho. A improbabilidade de tal encontro aumenta tanto da proposta poética que de uma abordagem na qual a política é inseparável do quotidiano. José Agrippino de Paula, questiona neste filme, o encerramento das pessoas nas instituiçœes psiquiátricas, policiais e militares. Ele Ausculta a sociedade brasileira após anos de ditadura descrevendo comportamentos extraordinários para com os transeuntes em lugares públicos: favela, estação, e outro edifício de São Paulo. Um enorme samurai distribui legumes às crianças de uma favela, como se estes fossem ordinários animais de jardim zoológico, antes de amontoá-los numa Kombi para atravessar a cidade; ele improvisa em galerias comerciais uma dança com uma espada, na frente de um público enfeitiçado; polícias capturam “A Coisa” no bairro do mercado municipal perto de São

Bento. Como diz o autor em 2000 ou 2003 : «Hitler, Terceiro Mundoé um filme, antes de mais nada, político.   10»

Recorrer à policia no momento em que muitos brasileiros a evitavam, é pelo menos irônico, mas reflete também esta característica do desvio. A capacidade de um personagem em contornar, a sua esperteza em driblar a lei, as proibições, ilustra-se pela incorporação da polícia na ação do filme que denuncia as derivações de um regime autoritário. A sua capacidade a manipular o imprevisto permite-lhe apoderar-se de qualquer acidente os quais reencontraremos em seus filmes super 8 realizados na África.

imgres-2

Os modos de apropriação que utiliza José Agrippino de Paula, evocam inicialmente o conceito de antropofagia de Oswald de Andrade, e parece relativamente afastado da compreensão que tem Hélio Oiticica exceto no que diz respeito à « dilatação », ou o Penetrável que é «projeto ambiental …/… uma espécie de campo experimental com as imagens.» Tal projeto «contribuir fortemente para essa objectivação de umaimagem brasileira total, para a derrubada do mito universalista da cultura brasileira, toda calcada na Europa

e na América do Norte, num arianismo inadmisível: na verdade, quis eu com aTropicáliacriar o mito da miscigenação.11»

Em Tropicália, é a experiência que fazem os espectadores do ambiente que está jogo. Esta experiência preconiza a participação e induz uma dilatação das capacidades sensoriais habituais dos espectadores. A dilatação da experiência reflecte uma transformação dos processos perceptivos devido às drogas. O fluxo de imagens em Zé Agrippino ilustra esta absorção que digere as referências, dilata as consciências, explode a temporalidade. Se Agrippino de Paula se apodera da imagem e joga com algumas referências POP, o faz de acordo com a afirmação «é a proposição da liberdade máxima individual como meio único capaz de vencer

essa estrutura de domínio e consumo cultural alienado.12»  Assim as imagens deslizam, os usos se desdobram anexando a especificidade brasileira a uma radicalidade das propostas. Pensemos em uma das últimas sequências de Hitler Terceiro Mundo, quem vê o Samurai tentar excluir as imagens difundidas na televisão, e que não conseguindo, faz-se harakiri. Em Zé Agrippino as coisas ajustam-se mais do que são atribuídas, designadas; estão sempre no fluxo e neste sentido provocam uma transformação constante da percepção, ou mais ainda manifestam esta transformação como processo do fluxo. José Agrippino Paula trabalha de acordo com o registro da metamorfose como define por Michel Foucault “A metamorfose cujo ponto de vista, sempre, foi fazer triunfar a vida juntando-se os seres ou de enganar a morte passando de uma figura à outra.” Esta prática de José Agrippino de Paula, prefigura o uso contemporâneo do morphing, no qual os constituintes de uma imagem transformam-se a fim de configurar novas. Estas mutações de imagens são uma resposta tanto que uma resistência ao imperialismo cultural: não se submeter mais as imagens, mas fazer-las suas. Há efetivamente globalização, mas é alterada; a inscrição na circulação dos ícones se efetua de acordo com registos que não dependem mais dos poderes de comunicação, mas da imaginação e de uma percepção flutuante. Hitler Terceiro Mundo adiciona tanto quanto divide as ações e os personagens.

Restam apenas quatro super 8 de José Agrippino Paula. Três foram realizados na África durante uma estada de dois anos com a sua companheira antes de ir para Nova Iorque em 1973 e estão incluídos no filme de dança. Dois são capturas de ritos de possessão do Candomblé ao Benim e o Togo. Enquanto que o terceiro Maria Esther: Danças na Africa (1972) propõe diferentes coreografias de Maria Esther em ambientes diários: um quarto que dá sobre uma praia, os telhados de uma casa da África do Norte.

O trabalho de super 8 se dissocia dos filmes precedentes na medida em que a sua abordagem é mais documental. O poeta filma ritos e danças de possessão. A sua abordagem pode aparentar-se as Maya Deren que filma no Haiti. Se José Agrippino de Paula captura ritos, ele não faz filme-ritual. Recordemos que para Maya Deren o rito inscreve uma desapossessão de si, que a cineasta traduzirá através de uma captura coreográfica.

Se as footages de Deren em redor do vodu foram encarados como parte de um conjunto mais amplo de um filme colagem, não é o caso dos filmes super 8 de José Agrippino de Paula. Nos filmes de Candomblé, nos de Maya Deren sobre o Haiti e em alguns filmes sobre transe de Jean Rouch, o papel da câmara é preponderante. Ela participa da dinâmica do transe enquanto que captura o conjunto do fenômeno coletivo. Em Jean Rouch, o projeto etnográfico funda a filmagem enquanto que a posição do cineasta altera a neutralidade desejada. O controle dos instrumentos condiciona a flexibilidade da captura. É através desta experiência de livre captura, de pertinência na captura, de controle da improvisação que se inscrevem os filmes super 8 de José Agrippino de Paula. Se o conhecimento do assunto filmado, por exemplo um rito, pudesse constituir para Maya Deren ou Jean Rouch uma condição necessária para a filmagem, isse não é o caso de José Agrippino Paula que compartilha com Chick Strand esta faculdade de “ir para que há de melhor”, “atento ao que é importante, por uma noção do que será importante. ” Encontramos em alguns filmes de Zé a afirmação da improvisação, que favorece tournés montés, ou as rápidos varreduras de uma cena que mostra a pessoa em transe e os membros da comunidade que a cercam, acompanham-a. A improvisação encontra se na suas musicas que foram registradas recentemente no CDEngruzilhadas Exu 7.que perecia ais uma anti misica. A câmara está constantemente em movimento, passando do grande plano de uma mulher que dança à multidão em retirada, na frente de casebres, para retornar para esta mesma mulher posicionando-a em frente aos músicos. Os planos sucedem-se, alternando planos aproximados dos participantes e planos mais largos, como as primeiras sequências de Candomblé no Dahomey (1972). A câmara levada à extremidade do braço oscila entre contreplongées dos dançarinos e a tomadas da altura de um homen. José Agrippino de Paula capta o que pode no momento que aquilo se desenrola. Não organiza o material a fim de nos fazer compreender o rito, não faz obra etnográfica. Filma simplesmente o que se passa, ai onde está. A sua abordagem do assunto é táctil tanto quanto coreográfica. Brinca com a manuseabilidade do super 8, que lhe permite estar mais perto do que se filma sem parecer intrusivo.

As varreduras nos dois filmes Candomblé no Dahomey etCandomblé no Togo (1972) valem-se das exposições e da claridade. A granulosidade da película se pronuncia mais ou menos de acordo com a exposição e os movimentos de câmera. A trilha sonora não sincrônica parece ter sido acrescentada posteriormente, ainda que certas percussões tenha sido registadas no momento da filmagem.

imgres-3

imgres-1

Os dois outros filmes evocam o personal cinema, e mais particularmente o cinema de Stan Brakhage. Um cinema à primeira pessoa, um cinema que abre os olhos ao mundo e faz do mundo um campo de experiência visual. Um cinema visionário, que nos faz descobrir por seus enquadramentos, pelos seus ritmos, pela beleza de uma paisagem, pela subtileza de um movimento, pela fenda de um reflexo de um corpo na água como em Céu sobre Água.Depois de sua volta da África José Agrippino de Paula muda a sua maneira de filmar; ele privilegia o que chama de “ takes impresionistas”, esperando horas a fim de captar uma luz adequada, uma nuvem… O cinema torna-se então o instrumento de uma procura, um álibi para uma deambulação mental.

___________________________

1Publicado em 1967 em São Paulo; em francês nas Éditions Leo Scheer Paris 2008.

2 Publicado em 1965, reeditado em 2004, Editora Papagaio.

3Julio Bresanne e Joca Reiners Terron, 2002

4 Com Helena Vilar e Iolanda Amadei.

5 Maria Esther Stockler , entrevista concedida a Maria Theresa Vargas, Arquivo Multimeios, CCSP.

6 Revista Veja, n° 1702 de 30 de maio 2000, p 142.

7Ver esse conceito em Deleuze, Gilles. Logique du sens. Paris : Les éditions de minuit, 1969.

8Jorge Mautner falando de JAP no livrerino do disco Exu 7 Encruzilhadas Secs-Sp, 2011.

9 Cinema de invenção p 23, de Jairo Ferreira, editora Limiar, São Paulo, 2000.

10 In Miriam Chnaiderman : Panaméricas de Utópicos Embus – acolhendo enigmas  in Rivera, T. e Safatale, V.  Sobre arte e psicanálise, SP, Escuta.(101-112)

11Tropicália 4 mars 1968, Hélio Oiticica, in Catalogue du Jeu de Paume, Paris 1992, p 125

12Tropicália Idem p. 126

Hart of London de Jack Chambers (Fr)

in le Je filmé,  ed yann beauvais et Jean-Michel Bouhours, Centre Georges Pompidou Paris 1995

Jack Chambers fût plus connu pour son travail de peintre que pour ses films. Son œuvre cinématographique appartient au « personnal cinéma », elle a été célébrée comme essentielle par Stan Brakhage.

Jack Chambers n’a terminé que six films dont deux appartiennent à la catégorie des journaux filmés. Il s’agit de Circle (1968-69) et de Hart of London (1968-70). La réalisation de ses deux derniers films fait échos à la revendication et à l’affirmation du « Réalisme perceptuel »1 et qui veut que plus on est familier avec les expériences qu’apportent la perception, plus on devient conscient de la douceur de l’inter-communion de soi vis à vis des choses. La qualité de la réception est une communion qui influence le monde extérieur. Cet article est un véritable manifeste sur la vision .

Ses deux derniers films travaillent la perception et la manière dont on s’ouvre à ses mécanismes. En quoi ces derniers modifient notre rapport au monde, et à la nature. Si l’objet de Circle se réduit à un plan de l’arrière cour de son jardin filmé chaque jour pendant un an, le traitement photographique de cet espace est conditionné par les variations de lumières qui en transforment notre perception et inscrivent l’écoulement du temps cyclique dans les couleurs autant que dans la profondeur de champ.

De son côté Hart of London est constitué majoritairement de bandes d’actualité sur la petite ville de London dans l’Ontario, entrecoupé de séquences tournés par le cinéaste. Ce film est une médiation sur la vie et sur la mort et s’interroge sur le destin. En effet le film s’ouvre sur la capture d’un cerf qui s’est égaré dans la ville de London. Cette capture se terminant par l’abattage du cerf. Un écho de cette scène d’ouverture se retrouve à la fin du film lorsque les enfants de Chambers donne à manger à un cerf dans un zoo, au début la crainte maintient les enfants à distance de l’animal, petit à petit la confiance s’instaure, l’animal leur léchant les mains après s’être nourrit.Le cinéaste pouvant alors quitter ce lieu pour diriger son regard vers le ciel en une suite de rotations passant du ciel à la terre et de la terre au ciel.

Hart of London est proche du journal filmé autant que du reportage. L’univers est fragmenté: suite de plans de sa femme et de ses enfants, construction dans une usine, mariage, des chevaux dans des champs. On passe d’images blanchies, presque abstraites car difficilement discernables à des images plus lisibles, reconnaissables qui nous préparent à voir enfin. Et en effet on voit la simultanéité de la naissance et du trépas proposé dans deux séquences alternées. La première nous montre l’abattage et le dépeçage de moutons dans un abattoirs en Espagne (tourné par Chambers) avec la naissance au moyen de forceps d’un garçon. Dans les deux cas le sang est omniprésent qui inscrit la vie par delà la mort et inscrit la perpétuation des races, on voit dans le sacrifice des moutons le tribus offert à une nouvelle vie. Transformation, prolifération la vie se perpétue dans un flux continus d’images. La section centrale du film est suivit d’évènements qui dépeignent le quotidien, un garçon allant se baigner en plein hiver dans la Tamise, des passants, des travailleurs etc. La majeur partie du film est en noir et blanc, sauf en ce qui concerne la section centrale et les séquences finales qui s’apparente à des homes movies avec leurs couleurs acides. Hart of London convoquent un grand nombres de techniques pour inscrire la vision du cinéaste: les retours, les reprises, les surimpressions, les flous, l’usage des sons ambiants, ou son absence soudaine nous permettent ainsi d’appréhender la diversité de la vie. Vision inséparable d’un projet autobiographique qui veut que le cinéaste s’attache à faire le portrait de son environnement et de ce qui le relie à ces évènements autant qu’a ces lieux. expérience partageable par delà les particularismes de son histoires et des lieux qu’il a dépeind.

1 L’article de Jack Chambers intitulé Perceptual Realism à été publié par Artscanada 5 Octobre 1969.

Sur l’ensemble de l’oeuvre de Jack Chambers voir le numéro spécial The Capilano Review Jack Chambers Films Numéro 33, Victoria 1984 Et Bruce Elder From Painting into Cinema A Study of jack Chambers ‘ Circle revue d’études canadiennes Vol 16, N°1, 1981

Notation (musique film) (Fr)

in Musique  Film  conception yann beauvais catalogue sous la direction de Deke Dusinberre et yann beauvais, Scratch / Cinemathèque française Paris 1986,  corrigé en 1998

Utiliser une musique, une bande-son pour un film, c’est transformer l’espace de la représentation cinématographique par l’adjonction d’une dimension sensorielle supplémentaire. La musique confère au visuel une autre qualité (voir les études de marketing). De la même manière, le choix du silence et par-là même, l’intrusion des bruits de la salle est la marque d’un privilège accordé au visuel par le cinéaste. Le visuel requérant le silence indique qu’il doit être appréhendé pour lui-même, ou comme support méditatif et dans ce cas il peut s’apparenter à l’environnement lumino-sonore de La Monte Young, qui travaille l’étirement des sons et la transformation progressive de couleurs projetées dans un espace (The Magenta Lights, a continuous electronic sound and light environment). Le silence est un choix. L’affirmer comme tel c’est s’éloigner des prétextes économiques qui empêcheraient, paraît-il, les cinéastes de travailler (avec) le son.

Privilégier le silence est un choix musical. Mais c’est avant tout, privilégier ce qui hante le cinéma narratif dans son usage de la fiction et dans ses représentations : la chute de tension, le trou noir. Le silence suspend le visuel à ses seuls atouts. On n’est plus porté, transporté par une extériorité le cautionnant, le justifiant presque. Trop souvent la musique dans le cinéma expérimental (mais pas seulement) tient lieu de garde-fou. Elle fait office de régulateur évitant ainsi des échappées incontrôlées (des lignes de fuite) dans lequel le visuel s’embarquerait sans crier garde, mais surtout la musique permet de faire passer la sauce. Le recours au musical est souvent signe d’une création frileuse. Que de films inintéressants, que d’interludes (télé)visuels, ne sont regardables que parce qu’une musique nous les rend supportables, nous permettant de nous abîmer dans de subtiles rêveries intérieures. Il s’agit d’une vision par défaut. On ne voit pas tout à fait un film.

Privilégier le silence c’est peut-être aussi vouloir inscrire un rapport compositionnel pouvant exister entre cinéma et musique, au moyen d’un concept privilégié : le rythme.

Hypothèse 1 : et si le cinéma n’avait rien à voir avec le rythme ? Alors la justification du rapport serait pour le moins caduque. Dans ce cas on s’apercevrait que la terminologie musicale appliquée au film ne l’est que par défaut, on y recourt car le cinéma n’a pas su encore façonner de concepts adéquats pour se dire.1

Dans le cinéma expérimental, on remarque que bien souvent un même type de musique accompagne la bande-image pendant toute la durée de la projection. Celle-ci est parfois en accord avec le traitement des images, mais devient redondante avec celle-la dans la mesure où les similarités de traitement sont trop équivalentes. Ainsi se gênent-elles mutuellement, et la musique fait office de plaquage. Coller une musique sur un film n’aide pas forcément au visionnement du film, bien au contraire. Cela s’apparente au mythe qui veut que la musique de film ne soit pas faite pour être entendue. Alors dans ce cas, direz-vous, pourquoi y faire appel ? Nous ne sommes pas les premiers à nous le demander.

Le plaquage d’une musique sur une bande-image montre de toute évidence que l’on confond certainement la musique et le flot sonore continu. Cette continuité du flot sonore s’octroie la position de la narration pour d’autres cinématographies. La musique devient alors l’agent de liaison qui permet au film de se tenir. Dans la plupart des cas, alors que le traitement de l’image est relativement élaboré, il s’étiole en regard de la musique, il s’agit déjà d’une esthétique de vidéo-clip.

Cependant on trouvera quelques exceptions notables comme par exemple le travail de Kenneth Anger dans Scorpio Rising (1963) où le recours à des chansons pop des années 60 donne un supplément de sens, en agençant le narratif à une imagerie des rapports sado-maso des bike-boys américains. La juxtaposition des scènes d’habillage avec les chansons (jeune homme mettant un blouson de cuir, au son de “She wears blue velvet”) est humoristique, mais en même temps favorise la fascination. On retrouve un travail similaire dans Ixe (1980) de Lionel Soukaz, lorsqu’une chanson religieuse est manipulée (“Dominique, nique, pique nique…”) tandis que deux garçons se shootent : la chanson comme plus-value.

Ce travail de Kenneth Anger évoque une pratique artistique : le collage, développé par les dadaïstes à partir des années dix puis utilisé en musique à partir des années soixante afin de sortir de l’impasse dans laquelle le post-sérialisme l’avait enfermé. Mais chez Kenneth Anger le collage musical est un collage propre, on ne mélange pas des musiques de styles différents. En ce sens on ne peut parler d’un usage pop de la musique, dans la mesure où le Pop Art utilisait les objets du quotidien. On trouvera, par contre, un usage pop de la musique entre autre chez Bruce Conner, Malcolm LeGrice, Lionel Soukaz ou Vivian Ostrovsky.

On connaît l’histoire Bruce Conner alors qu’il travaillait sur A Movie (1958), essayait différentes musiques et programmes de radio ; un jour, il tomba sur “Les Pins de Rome” de Respighi, qu’il se décida finalement à utiliser en montant le film en fonction de cette musique.2 Et ce sans tenir compte du synchronisme ou désynchronisme pouvant exister entre les deux bandes. On fait face à deux mondes parallèles qui se rencontrent parfois ou qui s’ignorent royalement, à tel point que pour beaucoup A Movie est constitué dans leur souvenir d’une collection de sons différents. Cette disjonction entre les deux éléments constituant le son relève de la pratique du collage appliqué dans le champ cinématographique et diffère radicalement des musiques que d’autres cinéastes plaqueraient sur un film pour masquer le silence. Cette disjonction est au centre de ces collages cinématographiques. Dans Castle 1 (1966) de Malcolm LeGrice, la répétition des éléments sonores et visuels n’est pas sans rappeler, malgré les brouillages évidents, les musiques répétitives qui travaillent à partir d’éléments peu nombreux.

Un travail plus abouti en ce qui concerne le collage dans le domaine musical est effectué par Vivian Ostrovsky dans la plupart de ses films.3 Ici la musique n’est pas cette chose sacro-sainte, mais un matériau à partir duquel on puise afin de donner une signification précise aux images. Jouer avec le son, en mêlant tous les sons sans en privilégier un par rapport à un autre, et les composer en fonction de l’image. Ce même travail se retrouve dansIxe de Lionel Soukaze (voir l’utilisation de la “Marche funèbre drôlatique” de la première symphonie de Mahler). Extraire de la masse musicale ambiante certaines musiques et les rabattre ailleurs, afin de leur donner une autre portée, les conjuguer de manière disjonctive, tels seraient les signes du film collage. Il va sans dire que ces films sont des films ludiques, quand bien même le contenu est grave comme dans Ixe. L’usage de la citation musicale telle qu’on la trouve dans bon nombre de films “post-modernistes” n’a rien à voir avec ce type de travail, le son y est utilisé pour donner une plus-value spectaculaire. On est loin du détournement mais près de la parodie, du clin d’œil culturel, du cliché et du leitmotiv.

Le cinéma est hanté par plusieurs événements sonores : le silence et l’opéra. Avant de nous intéresser au silence voyons ce qu’il en est de l’usage de l’opéra. Art total en ce sens, il serait ce vers quoi le cinéma aurait le moins de chance d’aller, et pourtant c’est vers lui que se sont dirigés de nombreux cinéastes : accomplir un art total et par-là même conférer au cinéma une portée qu’initialement il n’aurait pas : d’aucuns ont pensé pallier au défaut par la multiplication d’écrans, par l’adjonction d’actants, en sortant le cinéma de son cadre classique. L’élargissement était la garantie d’un accès à l’au-delà.

D’autres ont eut recourt à la musique d’opéra pour transporter le spectateur dans un autre monde, dans le royaume du mythe ; voir les premiers films de Werner Schrœter, Maria Callas Portrait (1968), La mort de Maria Malibran (1971), Flocons d’Or (1976). Le pouvoir de fascination qu’exerce l’opéra chez les cinéastes est tel qu’il nous propose parfois des lectures de “La Bohème” dans Thriller (1979) de Sally Potter ou de “Tosca” dans le film homonyme de Dominique Noguez (1978). Ici il s’agit avant tout de proposer une lecture (une relecture), une mise en scène de l’œuvre ou d’une scène de l’œuvre dans laquelle la musique est incorporée puisqu’elle est l’objet premier du film.

Par ailleurs, la fascination de l’opéra est telle qu’elle influe sur un film de sorte que celui-ci, sans recourir à la musique, peut esquisser dans ses plans des images opératiques : ainsi, par exemple dans Illiac Passion (1964-1967) de Markopoulos. A côté de cela, nombreux sont les cinéastes qui ont tenté de produire l’analogie entre cinéma et opéra, pensant qu’en adjoignant une musique ils accéderaient à cet art total que souhaitait Wagner. Clichés, leitmotiv; on en appelle à cette totalité afin de conférer aux images cinématographiques une dimension qu’elles ne sauraient avoir, dans le domaine de l’artifice, de la convention et du simulacre. On peut penser que le cinéma-opéra n’a pas encore connu sa querelle des bouffons et que pour le moment, l’hésitation est patente quant à la détermination de (ce) qui dirige le film : les images, la musique, le mythe? Jusqu’à présent c’est la musique qui le plus souvent opère la liaison entre les différents clichés, représentations et trame, en organisant le discours du cinéaste. Cependant, l’accumulation n’est pas la panacée : ce n’est pas en rajoutant des musiques les unes à la suite des autres que l’on produit cet art total, et c’est peut-être ce que n’ont pas encore compris la Nouvelle Vague new-yorkaise Super 8 et certains Nouveaux Romantiques anglais.

Cette accumulation de morceaux de musique nous rapelle qu’on a déjà entendu ce même morceau, ailleurs, dans un autre film. A croire que le cinéma expérimental dans le choix de ses musiques est aussi sclérosé que le cinéma commercial.

On trouve, chez Derek Jarman une autre utilisation de la musique. Certaines œuvres sont utilisées d’un film à l’autre. Ainsi le “Concerto pour piano en sol” de Ravel, que l’on retrouve au moins dans deux films : Home Movies 1 (1970) et Dream Machine (1984), (tout au moins dans la première partie de ce film collectif dont il n’a réalisé que celle-ci). Cette musique est la marque du cinéaste, (sa signature?). Quel que soit le traitement des images dans Home Movies 1, le recours de l’image par image produisant un accéléré ralenti au refilmage avec des surimpressions, alors que dans Dream Machine on fait face à des plans tournés en vitesse normale ou en léger ralenti — la musique est la même, indépendamment de ce qui se déroule à l’écran. Musique présente, oui ; mais qui à la limite s’absente, ou qui le souhaite. En fait, on peut se demander si la musique, dans ce cas, ne participe pas d’une reprise d’un motif affectif qui la lierait au cinéaste et dont le spectateur, à la limite, serait exclu ; presqu’un signe de reconnaissance, proche en cela, mais de manière différente, des musiques de Nino Rota pour Fellini. Cette musique qui prend en charge l’affectif fonctionne comme signe de reconnaissance qui, en l’occurrence ici, s’énonce en fonction d’une attirance sexuelle pour les garçons. Alors que l’usage de la musique par Maria Klonaris dans Selva (1981-82) ne relève pas de la même intériorité : le musical, ici, renforce une vision intériorisée.

Une autre hypothèse qualifierait cette musique de musique de fond, musique d’ambiance, lui donnant le pouvoir de “teinter l’environnement (en l’occurrence ici la représentation cinématographique d’un lieu et des événements qui s’y déploient) afin qu’il l’absorbe au lieu d’en annuler et d’en masquer les traits saillants”, comme le fait, depuis 1975, Brian Eno au moyen de ses bandes : “Ambiant music”.4 Ce travail semble plus abouti dans les installations qui font appel à des paysages urbains et se démarquant ainsi des films de Jarman qui se préocuppent avant tout des individus, des corps.

Cette musique d’ambiance est très différente d’autres musiques qui réinscrivent une dimension que l’image ne peut à elle seule donner. Ainsi les films du groupe MétroBarbesRochechou Art, et plus particulièrement 4 à 4 (1980–1982), ou Capitale Paysage (1982-1983) de Michel Nedjar, ou bien encore Nuestra Senora de Paris (1982) de Téo Hernandez. Dans ce dernier, le travail de composition musicale de Jakobois permet à l’image de s’élever à d’autres dimensions, quasi-mystiques en accord avec le sujet du film : Notre-Dame de Paris. Ces sons (marteaux-piqueurs), ces musiques (chants religieux) se déploient dans une temporalité différente de celle des images. En effet, la musique ou le son s’incrivent dans la continuité, alors que l’image procède par fragments successifs, tissant en ce qui concerne Capitale Paysage des réseaux de visionnement de la ville, d’un quartier, d’un espace urbain : le métro. Dans Nuestra Senora de Paris, la reprise des motifs musicaux permet de perpétuer le sentiment religieux que les images ne pouvaient à elles seules exprimer (voir à ce propos les séquences avec la rosace de la cathédrale). Toutes ces musiques sont travaillées après coup, une fois les images réalisées. Elles font office de supplément. Cette marque est significative dans la mesure où c’est en cela qu’elle s’oppose aux travaux dont la synesthésie est l’objet et pour lesquels, bien souvent, la musique précède l’image.

De tous temps (depuis 1650) cette bonne vieille synesthésie a été l’un des bateaux de la création artistique. Nous nous intéresserons ici à ses illustrations les plus contemporaines.

Hypothèse 2 : et si la synesthésie n’était qu’un alibi pour une production de nouvelles technologies audio-visuelles (John Whitney pour les cinéastes contemporains). C’est ainsi que s’expliquerait le passage pour nombre de cinéastes aux vidéo–clips et à la fascination de la console électronique.

Afin de faire voir ce que l’on entend, plusieurs cinéastes, créent de toutes pièces des systèmes qui leur permettent de visualiser les sons. Ainsi Norman McLaren dans Synchromy (1971) nous montre ce que l’on entend et inversement. Il a transcrit la bande sonore et l’a imprimée optiquement sur la bande image5. Le seul arbitraire étant ici le choix des couleurs dans la mesure où la bande optique était au départ en noir et blanc. Les images de Synchromy sont abstraites et le son l’est tout autant, puisqu’il est synthétique, mais il reprend un Boogie-woogie, ce qui accentue l’aspect pédagogique de la proposition. Le film fut donc conçu à partir d’une musique (concrète) originale elle-même conçue comme un film.

Lorsqu’on parle de McLaren, on ne peut pas ne pas penser à Fischinger qui lui aussi a réalisé des bandes-sons à partir de dessins selon différentes techniques6, lesquelles ne sont pas sans anticiper celles utilisées par Barry Spinello dans Soundtrack (1970). En effet, ce film est dessiné au moyen d’encres particulières pour la bande-image et la bande-son. A partir de 1967, il créa un type de film qui mélait habilement un son synthétique et une imagerie abstraite. En ce sens, comme Pierre Rovère avec Black and Light (1974) et Lis Rhodes avecLight Reading (1977), la musique est le produit d’une création ne faisant pas appel à la production classique du son mais à sa trace, à son graphisme. C’est d’ailleurs ce retour à la représentation graphique d’un son qui permet de justifier le voir par l’entendre. Une constatation s’impose qui fait que ces films s’apparentent plus à des objets conceptuels qu’à l’établissement de nouvelles relations liant son et image. Musical Stairs (1977) de Guy Sherwin, bien qu’extraordinairent bien travaillé, n’échappe pas à ce travers.

Un second problème surgit avec les films qui travaillent la synesthésie : c’est celui de l’interprétation liée à la composition musicale classique. Ce problème qui se laissait entrevoir chez Norman McLaren se trouve accentué chez John Whitney. Ce dernier souhaite créer un nouvel art audio-visuel. Ce souhait est tout à fait recevable, cependant là ou il devient questionnable c’est lorsque Whitney, après avoir réalisé cette composition visuelle fonctionnant comme un morceau de musique, rajoute ensuite une bande sonore qui n’a rien à voir avec les images, comme dans Permutations II (1968). Pour obtenir cette architecture visuelle, qui doit être lisible (ressentie) par l’oeil comme peuvent l’être les mouvements et les agencements de formes à l’intérieur de ceux-ci comme thèmes différents les constituants, Whitney a développé un outil technologique très sophistiqué. Le paradoxe vient du fait qu’on ne comprend pas pourquoi Whitney fit appel à de la musique pour accompagner ces images. La musique, choisie après coup, est plaquée sur la bande-image.

Cette approche globalisante, où la synesthésie créée se veut comme la production d’équivalence visuelle du son ou de la musique peut être assimilée à la recherche d’un nouveau langage universel. A l’inverse, sans prétendre atteindre à l’universalité, d’autres pratiques se sont développées privilégiant le caractère subjectif des correspondances ou similarités — tout dépend du degré de justification théorique — pouvant exister entre musique et image.

Ainsi, David Wharry avec El Cafetal (1981), nous propose-t-il une comédie musicale sans figurant, sans image figurative, mais dans laquelle les plans colorés correspondent à un personnage ou à un thème véhiculé par la bande son.7 Film imaginaire presque, car la musique et les plans de couleurspermettent aux spectateurs d’apposer leurs imageries personnelles. Le film devient le réceptacle d’une imagerie externe, une parfaite synesthésie privée produite par le public. Différente est la synesthésie que propose Kenneth Anger dans Eaux d’Artifice (1953) : un lieu (le jardin de Tivoli), un personnage ambigu et une musique. Les trois éléments participent d’une esthétique baroque soulignée par la présence des “Quatre Saisons” de Vivaldi et par la couleur du film : tourné en noir et blanc, il a été teinté en bleu sombre. Il n’y a pas à proprement parler de transcription visuelle d’une musique, car on peut supposer que la musique a été mise après coup, mais un travail qui s’apparente à la synesthésie dans la mesure où à la musique baroque correspond un traitement des arabesques produites par les fontaines renforçant la similitude d’organisation de ces deux éléments. L’indétermination du personnage n’est pas sans évoquer l’usage des castrats dans la musique baroque.

Ce film de Kenneth Anger nous montre bien que la séparation, qui pour diverses raisons discursives est pratiquée, n’est pas, dans les faits, aussi tranchée qu’elle pouvait initialement le paraître, car nombreux sont les films qui vont d’une utilisation de musique à l’autre, mélangeant les applications. Ainsi, dans N:O:T:H:I:N:G: (1968), Paul Sharits évoque Beethoven en ce qui concerne la production d’articulation visuelle, alors que, par ailleurs, il insiste sur la nécessité du dépassement de la référence musicale comme instrument inadéquat pour décrire le travail du film.

échos.

Qu’en est-il des films musicaux silencieux ? A première vue, le recours au silence laisserait présager une priorité du visuel. Cette attitude correspondrait à une position esthétique. On peut penser que les cinéastes ne souhaitent pas parasiter les images par l’adjonction d’un son qu’ils n’ont pu, su ou voulu produire et que les images se suffisent à elles-mêmes. Dans ce cas, on s’aperçoit que ce n’est pas l’augmentation des coûts de production d’un film qui les ont amenés à privilégier le silence. Le silence n’est pas vécu comme une absence. Il n’y a pas de négativité dans ce choix. Ce silence n’est pas un défaut, un manque, mais, bien au contraire, une plénitude : les images “expriment” ce qu’elles ont à exprimer quand bien même cette expressivité n’aurait rien à voir avec la signification.

Et pourtant, une musicalité peut s’appréhender dans certains films silencieux. Cette musicalité n’est pas l’objet de ces film (dans la mesure où il ne s’agit pas de transcription) mais il se trouve qu’ils ont une qualité musicale, soit que l’inspiration du film ait été musicale — voir les sonates de Domenico Scarlatti en ce qui concerne le film de Stan Brakhage, The Horseman, the Woman and the Moth (1968) ou bien Mozart pour T:O:U:C:H:I:N:G: (1968) de Paul Sharits, etc. —, soit que d’une manière plus explicite encore, la musique et les processus de composition qu’elle engendre se retrouvent appliqués en partie ou en totalité dans le champ cinématographique. Cette utilisation des processus musicaux diffère de la transcription dans la mesure où il s’agit de comprendre et d’appliquer un certain type d’intervention et de fonctionnement au sein de la composition musicale. Ainsi, pourrait-on voir entre Anton Webern et Peter Kubelka de nombreux rapports qui seront explicites dans Arnulf Rainer (1958-1960). qui, au moyen de 2 fois 6 photogrammes — noir, blanc, son blanc ou noir —, les sérialise. Cependant, la mise en série ne fonctionne pas vraiment, à cause des éléments visuels trop minimaux. Ici l’on fait face à des principes compositionnels adéquats employés correctement sur des objets inadéquats. En effet, il n’y a pas de lisibilité possible de la série photogrammique dans la durée ; n’est travaillé que le rapport photogrammique et non pas la série8 ; pour l’envisager comme série il faut passer par la partition ou par l’exposition du film en Frozen Film Frames.

Une critique similaire pourrait être adressée à TV (1967) et à Mauern Pos. Neg. Weg (1961), de Kurt Kren, dans la mesure où c’est la métrique qui est privilégiée dans ces deux films. Cependant, ces critiques ne sont recevables que dans la mesure où d’autres cinématographies ont proposé depuis d’autres solutions, dont nous parlerons plus loin. Remarquons néanmoins, qu’en ce qui concerne ces deux cinéastes autrichiens, le recours à l’écriture du film sous forme de partition s’impose, et ce n’est sans doute pas un hasard, dans la mesure où il s’agit de jouer l’arrangement des photogrammes. La musicalité dans les films cités de Kurt Kren est moindre dans la mesure où on fait face à une image dont la définition n’est pas assez tranchée (surabondance de gris) alors que, dans Arnulf Rainer, la musicalité est renforcée par la franchise de l’opposition noir/blanc.

Nombre de films travaillèrent les rythmes photogrammiques selon des systèmes métriques plus ou moins définis, rigides ou non. Cette appréhension d’une rythmique assigne d’une certaine manière une équivalence entre la note et le photogramme, comme on on peut le voir avec Jüm Jüm (1967) de Werner Nekes et Dore O. Ce film utilise des techniques d’association dont on retrouve des équivalents musicaux : l’inversion, le renversement, l’inversion rétrograde, etc. Ce recours a d’autant plus d’impact que l’image représentée est une femme sur une balançoire dont le mouvement de va-et-vient du balancement est déstructuré. La symbolique est renforcée par le dessin d’un phallus comme fond devant lequel la femme s’agite. On retrouve chez Tony Conrad dans The Flicker (1965) ou Straight and Narrow (1970) cette “assimilation” entre note et image. Le recours à la note envisagée comme photogramme peut permettre des systèmes de correspondances plus subtiles encore lorsqu’il s’agit de faire des accords, alors on utilisera des surimpressions comme chez Klaus Wyborny ou H.H.K. Schönherr.

Ce détour par l’assimilation du photogramme à la note présuppose une détermination de l’organisation des parties dans l’ensemble, d’où le recours à une partition comme système d’écriture pré-filmique9. Cette notation est ce qui lie le plus le cinéma et la musique, via le graphisme. Le film est ainsi écrit, pensé, organisé avant sa réalisation. Sa réalisation ne se conformant pas toujours à la partition initiale, car des écarts se produisent presque systématiquement entre celle-ci et l’objet fini.

Cette écriture convoque le référent musical dans la mesure ou le film se dégage de la tutelle littéraire telle qu’on la trouve généralement dans le cinéma traditionnel. Il va sans dire qu’il ne s’agit que d’un substitut : au littéraire est substitué le musical, avec ceci en plus du musical. Le musical comme paradigme cinématographique. Il l’est de plusieurs manières.

D’une part comme modèle d’organisation des éléments constitutifs du film ; pour les Américains cela signifie le photogramme : comment agencer des photogrammes les uns après les autres ? Mais il l’est aussi dans la mesure où le musical serait ce vers quoi le cinéma tendrait sans pouvoir y accéder de par la nature même du médium utilisé. En effet, comment visualiser, orchestrer plusieurs voix comme c’est souvent le cas dans la musique ? Soit en recourant au graphisme mais dans ce cas là, bien fréquemment, la problématique s’épuise dans la résolution de problèmes picturaux, soit en utilisant plusieurs écrans afin de spatialiser les développements d’un thème passant d’un écran à l’autre de manière fuguée, graduelle ou non. Un cinéma qui fait automatiquement appel à des notations précises afin de pouvoir articuler correctement, ou synchroniser deux ou plusieurs écrans — on peut ainsi appréhender un grand nombre de travaux de Paul Sharits comme Synchronousoundtracks (1973-1974), par exemple. Ainsi le paradigme musical est opératoire dans la mesure où il permet au cinéaste de réprendre des solutions utilisées dans l’agencement rythmique par les musiciens, allant jusqu’à interroger des composantes plus fines que l’artillerie lourde que serait la pseudo-unité minimale du cinéma, à savoir le photogramme. Ces composantes plus subtiles s’appréhendent à partir du moment où l’on tient compte du fait que le cinéma utilise des enchaînements sériels de photogrammes et que ceux-ci peuvent être travaillés dans leurs parties. Dès lors, la sérialisation favorise les relations et la constitution d’un matériau plus souple, mieux déterminé que le photogramme. Préoccupation qui rejoint le travail que les musiciens effectuent lorsqu’ils se posent des questions de textures dans la production sonore. Ainsi, dépassant les possibilités qu’offrait, au début des années soixante-dix, un rapport évident entre cinéma structurel et musique répétitive, le cinéaste et le musicien travaillent et mettent en scène des similarités de processus et de questionnements. Le modèle musical n’étant plus un modèle fonctionne comme paradigme uniquement pour les besoins du discours analytique. Ici, on ne fait plus face au rabattement d’une technique de composition d’un art à l’autre, mais à la similarité des questionnements que, par delà les pratiques, on retrouve dans chaque art à une époque donnée. Des lors, l’abandon des termes de figuration, d’abstraction de tonalité ou d’atonalité s’explique aisèment. Les problèmes ne se posent plus dans ces registres. Ainsi, un cinéaste pourra-t-il traiter certains points précis en recourrant à un type d’imagerie alors que seront abordés différement d’autres problèmes visuels.

Transformation que l’on pouvait déjà sentir chez certains cinéastes, alors que dominait sur la scène l’école structurelle qui, par son questionnement de tâcheron, finissait par tarir toute innovation. On entrait dans l’ère de la ruse et du jeu. Ainsi, Robert Breer, dans A Man and his Dog out for Air (1957), travaille d’une manière proche de celle qui correspond à la musique de Stockhausen dans le recours qu’il fait aux bruits collectés et redistribués comme fonds sonores qui habiteront l’image et lui donneront une autre portée — et dans ce film précis, une pseudo-réalité, tangible, naturaliste même, des piaillements d’oiseaux s’opposent au graphisme pour le moins abstrait qui constitue le film dans sa plus grande partie ; bruitage qui s’élève à une dimension musicale dans le jeu d’opposition qui le lie à l’image. Une dimension ludique se laisse entrevoir (comme dans la plupart des films de Robert Breer) par cette intervention du son sur l’image. Cette dimension se retrouve dans de nombreux films, qu’ils participent d’une esthétique moderniste (mais dans ce cas l’exception est de règle) ou d’une esthétique post-moderniste.

La musique classique, source d’inspiration vénérée par tant de cinéastes devient un élément dont on se moque allègrement dans un film comme Mause Machen Musik (1984) de Jochen Wolf. L’insolence s’exerce sur l’un des maîtres de la musique : Jean-Sébastien Bach. Et l’on sait que ce dernier a été assaisonné à toutes les sauces (ne serait-ce que par nous-même dans R (1975)). Dans le film de Jochen Wolf, on voit ce que l’on entend, les jeux ne sont pas similaires à ceux développés par Conrad, mais un événement va créer la surprise. Un tourne-disque joue une musique de Bach, le bras suit le sillon alors qu’une collision risque à chaque instant de se produire, et dont nos oreilles appréhendent le résultat. En effet, sur le disque, une souris grise se balade et court dans le sens opposé de rotation du disque. Chaque heurt avec le bras lui faisant perdre le contrôle de son action, précipite ce même bras à massacrer violemment ce célèbre morceau de musique, une toccata. On pourrait appréhender, selon la parodie, le film de Vanda Carter, Mothfight (1985) — quand bien même celle-ci n’est pas le projet initial de la cinéaste — dans la mesure où elle joue avec l’histoire du cinéma expérimental en se référant à un film célèbre de Stan Brakhage, Mothlight (1963), dans lequel il a collé des papillons sur la pellicule. Dans Mothfight une mouche virevolte en tous sens, se battant contre l’environnement obscur. Le côté parodique du film est renforcé par une musique originale qui elle–même semble parodier le “Vol du bourdon”. Ce film, dans l’usage qu’il fait des référents qu’ils soient musicaux ou filmiques, participe d’une esthétique post–moderniste.

Ainsi Tony Conrad dans ses films pleins d’humour (voir Boiled Films (1973), Pickeled Film (1974), etc.), se joue de notre attente comme dans Lucia (1977). Ce jeu avec le spectateur est une composante majeure de la tradition moderniste (voir Marcel Duchamp, John Cage, Andy Warhol, Hans Haacke, etc.). Dans ce film, “farce pour sémiologue”, l’image enregistrée est présentée comme appartenant à un ensemble de systèmes de significations. Trois enregistrements de Lucia di Lammermoor de Donizetti sont mis en scène. Un plan fixe d’un piano mécanique, où l’on voit défiler la bande perforée, les touches du piano jouant des notes qui ne correspondent pas à celles que l’on voit puisque ces trous que l’on voit n’ont pas encore été lus le cinéaste de fait, met à nu la séparation des lectures de l’image et du son telles qu’elles s’effectuent au moyen des projecteurs) ; des plans de la partition elle-même, et une bande-son nous jouant la même pièce de Donizetti mais cette fois-ci dans sa version d’opéra. Une fois de plus on voit bien ce que l’on entend mais, l’on n’entend pas ce que l’on voit, on entend une autre interprétation qui vient briser et dénoncer par-là même toute la prétention synesthésique que les cinéastes se sont appliqués à développer depuis si longtemps.

L’écart, ici, n’est pas photogrammique mais conceptuel et, dans cet écart, se glisse le ludique comme puissance d’investigation sérieuse et remise en cause des processus que travaillent les cinéastes. La non synchronisation délibérée de toutes ces versions de l’œuvre de Donizetti est particulièrement comique. Dans ce film, beaucoup des rapports entre musique et film sont mis en relation et c’est ce qui le rend exemplaire.

Lorsque la musique ne sera plus envisagée comme modèle incontournable alors, le cinéma deviendra peut-être un art. Après s’être dégagé non sans mal du littéraire, du pictural, le cinéma doit se débarrasser de la référence musicale afin de produire des travaux novateurs. L’humour, le jeu sont des armes pour engager ce combat qui découle de la crise de la modernité et que dénonce malhabilement le post-modernisme.

1 Sur ce point, voir l’entretien de Ian Christie et Tony Rains avec Klaus Wyborny (Afterimage, n°8-9, 1981) et le texte “Voir, entendre” de Paul Sharits (Afterimage, n°7, 1978), tous deux traduits par Alain Alcide Sudre in Musique, film : Scratch Cinémathèque française, Paris, 1986

2 Entretien de Bruce Conner avec Robert A. Haller, publié dans Film Culture, n° 67-69, New York, 1979

3 Vivian Ostrovsky dans Scratch n° 7, Paris, 1985

4 Brian Eno, catalogue New Music America 81, San Francisco, 1981

5 Pour une description plus détaillée de la technique utilisée, voir Séquences, n°82, Montréal, 1975

6 On pense à Ornemental Sounds (1932). Sur Fichinger on se reportera à l’excellente étude de William Moritz : The Films of Oskar Fischinger, Film Culture, n°58-60, New York, 1974

7 Conversation entre Y. Beauvais, M. Rousset et D. Wharry, Scratch n°7, Paris, 1985

8 C’est ce point qu’a étudié le cinéaste Victor Grauer avec “A Theory of Pure Film”, Field of Vision, n° 1, 1976, et n° 3, 1977-78.

9 Sur cette notion, voir Paul Sharits,” I Feel Free” in Georgia Museum of Art Bulletin, vol. 2, n°3, 1976-77

Le chant du poète, sur Gregory Markopoulos (Fr)

in Gregory J. Markopoulos 1928-1992 Rétrospective de 1940 à 1971, organisée par yann beauvais avec le concours de la Fondation Temenos, American Center Paris novembre 1995

Le travail cinématographique de Gregory J. Markopoulos est singulier autant qu’exemplaire. Sa spécificité marque tout le cinéma. C’est avec Du sang de la volupté et de la mort, qu il ouvre, dès 1947, une ère nouvelle dans le traitement cinématographique des formes narratives. Si, il est une figure souvent méconnue, cela vient de la difficulté de voir son œuvre depuis plus de 20 ans. Il s’installe en Europe à la fin des années 60, afin de se consacrer pleinement à son œuvre. Il ne montrera ses films qu’en de rares occasions dont il veut pouvait contrôler, à la fois la qualité des projections et des documents y afférents. Son œuvre est celle d’un précurseur solitaire créant de nouvelles formes cinématographiques qui ont a jamais marqué l’art cinéma.

Chaque film de Gregory J. Markopoulos transforme notre regard et la manière dont nous appéhendons le monde. La qualité plastique en est remarquable. Elle s’exerce sur les compositions à l’intérieur du cadre, sur l’enchaînements des séquences, sur la rythmique des couleurs, la symbolique des objets, l’incarnation des personnages, la maestria du montage autant que sur les relations entre l’image et le son. Voir un film de Markopoulos; en faire l’expérience, c’est éprouver un sentiment confus, mélé d’admiration et de fascination pour l’implacable habilité et l’élégance de la maitrise du médium — qui établit que le cinéma est un art véritable pouvant influencer tous les autres.

La porte entrouverte, une fois le seuil franchit, on quitte comme le protagoniste de Psyché, le monde quotidien : on entre de plain pied dans l’une des plus éclatantes manifestations du chant de l’art. Le cinéaste s’intêresse aux déambulations et aux quêtes de soi qui s’accompagnent d’une affirmation du beau, donc du bon (selon Platon). C’est en ce sens qu’il faut envisager le premier chef d’œuvre qu’est la trilogie: Du sang de la volupté et de la mort , qui propose au travers de trois films une errance à travers le paysage mental de quelques personnages. Dans des univers similaires, et malgrè la disparité des personnages, le destin de l’individu s’inscrit comme un accomplissement. L’accès à la plénitude — que celle-ci inclue– n’est pas aisé ; la sexualité ne change rien, dans la mesure où ces jeunes gens ne peuvent se réaliser pleinement en dehors de la découverte et l’acceptation de l’amour. Délicate affirmation qui veut que l’amour soit son destin, surtout lorsque celui-ci est socialement proscrit. Dans Psyché (premier film de la trilogie) sont étudiés les différents points de vues d’une rencontre dans laquelle l’héroïne éprouve de grandes difficultés à laisser parler sa sensualité. La crainte d’une pareille irruption se retrouve dans son évanouissement lorsqu’elle est touchée par le jeune homme. On retrouve, dans les cadrages, la marque de cette mise à distance par l’opposition chromatique entre les premiers plans et les arrières plans.

La subtilité du montage, le tissage de la narration au moyen de courtes séquences, semblent toujours anticiper, ou différer, ce que l’on voit et nous conduire dans une autre temporalité; temporalité proche de celle de certains rêves dans leur capacité à suspendre et téléscoper le temps. Ces séquences admirables de déambulations dans Los Angeles à la poursuite d’une image insaisissable préfigurent de manière exemplaires celles de The Dead Ones. Dans ce dernier film, les différentes scènes de poursuite et d’évitement affirment le désir de l’artiste pour Paul. La quête de l’autre s’accompagne simultanément d’une identification de soi, laquelle est inséparable de l’affirmation homosexuelle, même si la reconnaissance de cette réalité provoque l’errance d’une âme vis-à-vis de sa place dans le monde et par conséquent dans la société. Ce thème de l’amour homosexuel est constant dans toute l’œuvre de Markopoulos. Il est abordé de différentes manières dans les fictions autant que dans les portraits. Du sang de la volupté et de la mort, amorce déjà une grande sensibilité, ainsi les plans du jeune homme devenant un arbre près d’un lac dans Lysis(partie centrale de la trilogie). Dans Charmides (dernier volet de la trilogie), les séquences où un jeune homme torse nu, regarde intensément une rivière alors que des adolescents lancent des pierres au loin, évoquent un univers esthétique parfois proche de celui du photographe Herbert List, mais qui à la différence de ce dernier, serait en couleur. La rencontre des deux adolescents est énoncée par la juxtaposition de plans qui nous montre le torse nu de l’un, suivit d’un détail du torse et du sein de l’autre, puis un plan de la rivière, avant de revenir vers le premier garçon s’éloignant dans le parc. Le protagoniste de Charmides quitte un campus universitaire puis marche dans un parc et se retrouve dans une friche industrielle, pris dans un entrelas de tiges métalliques et de béton brut: incarnation d’un désir, dont la réalité est dévoilée aux moyens des surimpressions du jeune homme errant dans le couchant, qui clotûrent le film.

Il y a déjà dans la trilogie une grande maitrise dans le traitement d’une narration qui n’est pas classique. Elle s’apparente plus à l’élaboration d’un mythe, en dehors de tout psychologisme, au profit de fragment de récit initiatique qui ont à voir avec le rite, la mort et la transfiguration1. Le film inscrit le passage d’un état indifférencié vers la découverte de soi. Même l’Eros quasi endormi, du film Eros O Basileus, évoque les rites initiatiques qui célébrent la puissance de la vie et du désir.

Dans Psyché, Markopoulos démontre une extraordinaire virtuosité dans le montage récapitulatif, en sélectionnant quelques photogrammes de chacune des séquences constituant la trame. Dans Swain on retrouve ce même usage de la récapitulation qui précéde une série de surimpressions terminant le film. Cette utilisation de plans très courts, exploitée ultérieurement, devient prépondérante avec The Illiac Passion ou Gammelion, qui exploitent cette distribution des photogrammes et envisagent la progression d’un récit à partir de ces seuls indices. Ce traitement du film s’autonomise par rapport au contenu mythologique de The Illiac Passion. Gammelion de son côté exploite plus radicalement la séparation photogrammique et nous fait découvrir de manière sublime un chateau et son parc.

Avec The Illiac Passion, il n’est plus nécessaire de recourir à l’alibi psychologique afin de caractériser un personnage, le symbolisme d’un objet ou d’une couleur suffit. La marque du personnage, son inscription mythologique s’entrevoient par ses signes qui font du film l’élaboration d’une pensée intuitive. Ce déploiement s’organise visuellement selon une rythmique particulière : soit par la scanssion photogramique (variant de 1 à 24), soit par le glissement de surimpressions (de 1 à 4) ou encore par le recours aux fondus. Les surimpressions réalisées dans la caméra, travaillent la vision des personnages en manifestant une intériorité soudain rendue publique. On songe à Twice A Man32 , dans lequel le récit d’un amour interdit s’effectue par la sérialisation de temps distincts. Temps souligné de manière disjonctive par la bande son qui, brise la fluidité du souvenir par la syncope. Des aternoiements de sens manifestent l’inconscient de tous les personnages à la fois; comme si la production du mythe s’effectuait en dehors des personnages qui l’incarnent. On retrouve ce décalage avec la figure maternelle : agée pour le fils,mais toujours jeune pour la mère. Elle est une image atemporelle. La confrontation de ces deux images-temps est liée dans le défilement mais sans égard pour la chronologie. Les temps se côtoient, dénonçant ainsi la fidélité de la représentation. C’est aussi de cette manière que s’envisage la réactualisation du mythe pour Markopoulos. Le mythe échappe à la logique des récits, il fonde sa chronologie par une condensation qui n’est pas celle d’un rêve, puisque s’y greffe une revendication esthétique aussi précise que raffinée.

Il faudrait pouvoir s’étendre sur l’extraordinaire acuité avec laquelle Gregory J. Markopoulos travaille la mémoire, le souvenir, l’anticipation d’un événement qui est déja advenu. Il compose le temps, comme d’autres les motifs, aux moyens de surimpressions dans ses “films portraits” (Galaxie, The Olympian), de même qu’il compose l’espace, dans ses “films paysages” (Ming Green, Bliss ou Sorrows). Dans Twice A Man et dans The Illiac Passion, il entremêle des séquences favorisant une perception diffuse des événements libres de toute logique discursive. Et ceci grâce aux ruptures et aux explosions photogrammiques (véritable pyrotechnie) –irruptions soudaines de séquences, qui viennent heurter le développement linéaire au profit d’un temps suspendu. On peut aussi appréhender l’utilisation de la couleur. Le jeu avec les expositions qui fait alterner les saturations avec les blanchissements et les filtrages colorés (Swain) est alors essentiel. On passe d’un plan « normalement exposé » à un plan viré au bleu, scandé par quelques photogrammes rouges dans Psyché. L’utilisation rythmique de la couleur en rajoute sur la signification; elle teinte dans tous les sens du terme le mythe en lui adjoignant une symbolique particulière qui n’est ni secondaire, ni anecdotique. On se souvient de l’ouverture de Gammelion, qui par son utilisation du « flicker » pulsant la matière, la lumière et la couleur, nous propulse dans un autre monde.La richessse d’inventions se retrouve également dans l’irruption de plans de détails qui brisent la continuité d’une action, un déplacement d’un personnage, ou d’un mouvement de caméra comme dans Twice A Man. Cette forme nous indique des significations, que l’on doit activer. Comme si face à des hiéroglyphes ou une partition, nous devions en proposer une lecture sans avoir aucune clef pour la déchiffrer hormi celles de l’esthétique et de la plastique. C’est en ce sens qu’il faut comprendre l’importance de la qualité photographique des films de Markopoulos. La composition dans le cadre est prépondérante. Elle répond à des critères précis qui facilitent, au moyen de l’éclairage, l’effacement des détails ou l’irruption de traits, le surgissement de zones d’ombres. Tout cela favorise la production d’un appareil esthétique qui met en jeu les constituants mêmes du cinéma. De même, le recours au fondu dans la trilogie annonce les fondus de surimpressions de Galaxie, puis dans les emboitements kaleïdoscopiques de surimpressions des films plus tardifs : The Olympian (surimpressions faites dans la caméra), Index – Hans Richter (surimpressions faites à la prise de vue et au tirage, qui mêlent les qualités des fondus), ou Saint Acteon (dans lequel il n’y a pas de surimpressions, c’est le rythme des plans très courts qui crée cet effet), et préfigure, d’une étrange manière, les films de paysages comme Gammelion, Bliss ou Sorrows. La précision des surimpressions dans Eros, O Basileus ou The Illiac Passion et Bliss renvoie à l’idée d’annonciation et du même coup révèle le caractère sacré de l’art de Markopoulos alors que la délicatesse des surimpressions de Sorrows travaillent la tonalité du motif: le parc et la maison de Wagner à Triebschen.

Le son des films participe de ces mêmes stratégies; il n’est pas occulté bien au contraire. Il favorise les confrontations. L’irruption sonore de la pluie et de l’orage dans Twice A Man, des chants d’oiseaux dans The Illiac Passion et dans Himself as Herself, le chant des criquets dans Eros, O Basileus, le bruit des sabots de cheval dans Gammelion, réinscrivent le mythe dans une dimension de la nature. Les aventures humaines ne pouvent s’extraire des cycles de la nature, à son fatum. On ne peut oublier la force de l’ouverture de Twice A Man, qui dans le noir de l’écran fait entendre le son de la pluie pendant près de deux minutes. Par ailleurs, lorsque les voix off profèrent des textes, elles le font en décomposant la phrase en une suite décousue de mots scandés, parfois associé à celui qui le précèdent ou le suit, en boulversant la linéarité d’une prose démonstrative. On entre dans le domaine de la poésie et de son appréhenstion rythmique du mot. Les mots, à la manière des images, deviennent matière à façonner ;par exemple les quelques phrases de Gammelion. Ainsi Twice a Man et The Illiac Passion, dans lequel la voix n’explique pas ce qui se déroule, mais produit des effets de sens supplémentaires aux images, aux séquences. La reprise d’un même mot sur des plans différents induit l’indétermination des référents. Cependant, on ne peut parler de montage sonore dissonant. Les relations existent entre les images et les sons et c’est à nous d’activer les potentialités qu’elles enferment ; il s’agit de partager une idée par la vue et l’ouie. La musique répond ainsi à des critères tout aussi précis que la composition du cadre. La musique n’est pas là pour signifier l’image. Par son articulation à l’image, elle permet une meilleure communion du partage de l’idée.

Gregory J. Markopoulos travaille les images comme les sons de manière à nous transporter au delà, dans un état proche de l’hypnose, nous atteignons ainsi le domaine du film as film. C’est ainsi qu’il faut comprendre les coup de gong qui scandent chacun des portraits de Galaxie, inscrivant une tension de plus en plus forte au fur et à mesure que le film se déroule.

L’œuvre de Markopoulos inscrit et promeut l’idée d’un art qui élève et s’apparente ainsi à celle que défendait Nietzsche lorsqu’il disait « Celui qui ôte est un artiste celui qui rajoute un calomniateur« 2 3. Comme toute œuvre majeure, celle de Markopoulos parle d’un ailleurs que seuls quelques élus peuvent partager. Gageons que cette première rétrospective permette d’ouvrir un espace de communion entre cette œuvre singulière et ses spectateurs.

yann beauvais , octobre 1995

1 C’est pour cela que l’on ne peut jamais parler d’adaption de livre chez Markopoulos, le support littéraire est source d’inspiration, on ne retrouve pas une fidélité dans l’adaptation, encore moins le shéma d’une histoire, à moins que Serenety ne soit l’exeption à la règle.

32 Le titre de ce film renvoit-il à l’expression double mâle et qu’éructe Mignon dans Notre Dame des Fleurs de Jean Genet.

23 Friedrich Nietzsche : Humain trop Humain Fragments posthumes 16(22) Œuvres philosophiques complètes Tome III volume 1, Gallimard Paris 1968

The Song of the Poet ; on Gregory J. Markopoulos (Eng)

in Gregory J. Markopoulos 1928-1992 Retrospective de 1940 à 1971, conceived by yann beauvais with the help  from Temenos Inc,  American Center Paris november 1995

The cinematographic work of Gregory J. Markopoulos is as singular as it is exemplary. Its specificity has marked cinema as a whole. In 1947, with Du sang de la volupté et de la mort, Markopoulos opened a new era in the cinematographic treatment of narrative forms. If he has remained little-known figure, it is because of the difficulty of seeing his work over the last twenty years. Gregory J. Markopoulos settled in Europe in the late sixties in order to devote himself entirely to his works. He only showed his films on rare occasions, always attempting to guarantee the quality of the projection and the attendant documents. His « œuvre » is that of a solitary precursor creating new cinematographic forms which have left a lasting imprint on the art of cinema.

Each film by Gregory J. Markopoulos transforms our gaze and our manner of apprehending the world. The plastic quality of his work is remarkable. It appears in the composition within the frame, the linkage of sequences, the rhythm of colors, the symbolism of objects, the interpretation of characters, and the consummate perfection of the editing, as well as the relations between image and sound. To see a Markopoulos film is to experience a confused feeling of admiration and fascination for his implacable skill and elegant mastery of the medium – confirming that cinema is a veritable art, capable of influencing all the others.

The door swing open, the threshold is crossed, and like the protagonist of Psyché we leave the everyday world behind, to step into one of the most brilliant manifestation of the song of art. The filmmaker is interested in wanderings and quests for the self, when they are accompanied by an affirmation of the beautiful and thus of the good (as in Platonic equation). This is the way we should approach the first masterpiece, the trilogy with Du sang de la volupté et de la mort, which proposes an errant path through the mental landscape of a few characters over the length of three films. The destiny of the individual is inscribed as a fulfillment taking place within similar worlds, despite the disparities between the characters. Access to this plenitude is easy; and sexuality changes nothing here, since these young people cannot fulfill themselves completely outside the discovery and acceptance of love. This delicate affirmation maintains that loves is a destiny, particularly when it is forbidden. In Psyché – the first film of the trilogy – one sees various viewpoints on an encounter in which the heroine experiences great difficulties in giving voice to her sensuality. The fear of such expressivity reappears in her fainting spell at the touch of the young man. The framing bear the mark of this same distancing, in the chromatic opposition between foreground and background.

The subtleties of the editing and the gradual weaving of the narrative through the use of short sequences always seems to anticipate or defer what we actually see, leading us into another temporality, closer to that of certain dreams in their capacity to suspend or collapse time. The admirable sequences of wandering journey through Los Angeles in pursuit of an ungraspable image offer an exemplary prefiguration of The Dead Ones. In this latter film, the various scenes of pursuit and escape confirm the artist’s desire for Paul. The quest for the other is simultaneously accompanied by an identification of the self, which is inseparable from the affirmation of homosexuality – even if the recognition of this reality provokes the errancy of a soul with respect to its place in the world, and therefore its place in society. The theme of homosexual love is a constant in the « œuvre » of Markopoulos. It is approached in different ways in the fictions and the portraits? Already in with Du sang de la volupté et de la mort a deep sensibility is unveiled, a love of beauty is affirmed: we see it in the shots of the young man turning into a three, in a seen near a lake in Lysis (at the center of the trilogy). In the last of the three films, Charmides, sequences of a bare-chested young man gazing intensely at a river, with adolescents throwing stones in the distance, evoke an aesthetic close to that of the photographer Herbert List; but here the work is in color. The encounter of the two adolescents is announced by a juxtaposition of shots showing us the bare chest of the one, followed by a detail if the other’s torso and breast, then by a shot of the river; before returning to the first boy moving off into a park. The protagonist of Charmides leaves a university campus, then walks across a park and finds himself in an industrial wasteland, caught in a tangle of metal bars and raw concrete: the embodiment of a desire whose reality is unveiled by means of superimposition of the young man wandering through the sunset at the close of the film.

The trilogy already displays a great mastery of unconventional narration, related more closely to myth; the narrative is stripped of all psychology, in favor of fragments of an initiatory tale bordering on ritual, death, and transfiguration1. The film inscribes the passage from an undifferentiated state toward the discovery of the self. Even the sleeping Eros – close to hypnosis – of Eros, O Basileus evokes initiatory rites celebrating the power of life and desire.

In Psyché, Markopoulos demonstrates an extraordinary virtuosity in recapitulation editing, selecting a few frames from each sequences that structure the work. In Swain we rediscover this same kind of recapitulation, preceding a series of superimposition which complete the film. This use of very short shots will be employed again later on, and becomes preponderant in The Illiac Passion and Gammelion, both of which exploit a similar distribution of single frames and shape the narrative on the basis of those clues alone. This filmic treatment gains its autonomy with respect to the mythological content of The Illiac Passion, while Gammelion more radically exploits the separation of individual frames, leading us the sublime view of a « château » and its surrounding park.

With The Illiac Passion there is no longer any need to fall back on a psychological alibi in order to establish character; the symbolism of an object or a color suffices. The character’s mark or psychological inscription can be glimpsed by these signs, which make the film into a creation of intuitive thinking. Its deployment is visually organized according to a particular rhythm: either by the rate of the single (varying from one to twenty four), by the layering of superimposition (from one to four), or by the use of dissolves. Effected inside the camera, the superimposition work on the vision of the characters, manifesting an interiority that is suddenly rendered public. We dream with Twice a Man,2 in which the narrative of forbidden love is elaborated by the serialization of distinct times. Time is underlined disjunctively by the soundtrack, which breaks the fluidity of memory by syncopation. Delays of meaning manifest the unconscious of all the characters at once, as though the production of myth took place outside the characters who embody it. This same split returns with the representation of maternal figure: at once and for the son and always young for herself, she is a timeless image. The confrontation of these two « image-temps » is linked in the unfolding of the film, but not in the chronology of the story. The times meet, denouncing the accuracy of representation. This is how Markopoulos envisages the reactualization of myth. Myth eludes a condensation which is not that of the dream, since it is intertwined with an aesthetic aim as precise as it is redefined.

It would take pages to described the extraordinary acuity with which Gregory J. Markopoulos works on memory, knowledge, and the anticipation of events which have already happened. In his « portrait films » (Galaxie, The Olympian) he composes times as others do motifs, by means of superimposition, just as he composes space in his « landscape films » (Ming Green, Bliss and Sorrows). In Twice a Man and The Illiac Passion he mingles sequences encouraging a diffuse perception of events, freed of any discursive logic. He accomplishes this through abrupt transitions and explosions of single frames (a veritable pyrotechnics) – sudden eruptions of sequences that upset the linear development to the benefit of a suspended time. One can also consider the use of the color. The use of colored filters and the play of exposures swinging from saturated to faded hues (Swain), are essential. In Psyché, we pass from a « normal exposure » to shot that has been shifted to blue, punctuated by a few red frames. The rhythmic use of color reinforces the meaning; the myth is tinted, literally and metaphorically, with the addition of a unique symbolic that is neither secondary nor anecdotal. One recalls the opening of Gammelion, where the use of the flicker lends pulsation to matter, light, and color; propelling us into another world. This same wealth of invention is also found in the interruption of detail shots which breaks the continuity of an action, cutting into a character’s course or a camera movement, as in Twice a Man. This form points to signification which we must activate. It is as though we were placed before hieroglyphics, or a musical score, and had to propose a reading without any key to the code except that of the aesthetics and plastic substance. It is in this sense that the photographic quality of Markopoulos’ films should be understood. The composition within the frame is of first importance. It responds to precise criteria, whereby the lighting facilitates a blurring of details or a sudden appearance of traits, an emergence of shadow zones. All this favors the production of an aesthetic ensemble that puts the very constituents of cinema at risk. In the same way the use of the dissolve in the trilogy announces the fade-overs between superimposed sequences in Galaxie, then the kaleidoscopically interlocking superimposition of the later films, The Olympian (superimposition made within the camera), Index Hans Richter (overlap made while shooting as well as in the printing , mixing the fading), and Saint Acteon (no superimposition. It is the rhythm of the very short shots that create the illusion); it also strangely prefigures the landscape films such as Gammelion, Bliss, and Sorrows. The precision of the superimposition in Eros, O Basileus and The Illiac Passion or Bliss refers us to the idea of annunciation and thus reveals the sacred nature of Markopoulos’ art, while the delicate superimposition in Sorrows inflect the tonality of the motif (Wagner’s home and garden in Triebschen).

The sound of the films partakes in these same strategies. It is not muted, obscured; quite the contrary, it encourages confrontations. The outbursting sound of the rain and the storm in Twice a Man, the birdsong in The Illiac Passion and Himself as Herself, the song of the crickets in Eros, O Basileus, the sound of horse’s hooves in Gammelion, all reinscribe myth into natural dimension. Human adventures cannot be torn away from the cycles of nature, its fatum. The force of the overture in Twice a Man, which lets the sound of the rain be heard from the dark screen for almost two minutes, is unforgettable. Elsewhere, when off-screen voices proffer texts they decompose the sentences into disjointed sequence of accentuated words, some of which are run together with the preceding or following ones, upsetting the linearity of demonstrative prose. Here we are in the field of poetry and of the rhythmic apprehension of the word. Like images, words become material to be shaped artistically: for example, the handful of sentences in Gammelion. The voices in Twice a Man and The Illiac Passion do not explain what is happening, but produce effects of meaning which are supplementary to the images and sequences. The return of the same word against different shots induces an indetermination of references. But one cannot speak of discrepant sound montage. Because relations exist between the images and the sounds, we must activate the potentials they enclose: it is a matter of an idea shared out between sound and sight. The use of music follows criteria no less precise than those for the composition within the frame. The music is not there to signify the image. By its articulation with the image it allows a better communion of the shared and divided idea.

Gregory J. Markopoulos works on images and sounds in such a way as to transport us beyond, in a state near hypnosis, where we reach the domain of « film as film ». Here lies the meaning of the resonating gong that punctuates all the portraits of Galaxie, marking a tension that grows more intense as the film unfolds.

Markopoulos « œuvre » inscribes and promotes the idea of an art that elevates, that takes off from its ground. Thus it rejoins the idea that defended Nietzsche:  » He who takes away is an artist, he who adds is a slandered. »3 Like any major body of work, these films speak another world that only a select few can share. Let us wager that this first retrospective can open a space communion between a unique œuvre and its viewers.

yann beauvais, October 1995

1 This is why one can never speak of the adaptation of a book in the films of Markopoulos, where the literary basis is a source of inspiration. There is a nofaithfulness in the adaptation, even less the outline of a story, although Serenity may be an exception

2 Could the title of this film be a reference to the expression « double mâle » which pops from Mignon’s mouth in Jean Genêt ‘s Notre Dame des Fleurs?

3 Friedrich Nietzsche, Human, All Too Human, (posthumous fragments) 16 22. Complete philosophical works, Tome III, Volume 1, Paris 1968

Hiroyuki Oki (Fr)

dans le je filmé, ed yann beauvais et Jean-michel Bouhours, centre georges pompidou paris 1995

Yann Beauvais

Hiroyuki Oki occupe une place particulière dans le cinéma contemporain japonais et ce pour plusieurs raisons. Ces films sont jusqu’à une période récente tournés en super 8 et ne font pas appel à des prouesses techniques. Ils sont avant tout l’émanation de l’expression du cinéaste. Carnets de notes de sa vie quotidienne et de ses désirs, H. Oki y dévoile son amour des garçons et de quelques uns en particulier que l’on retrouve au fil de plusieurs films. Ses films sont constitués d’une accumulation de plans qui oscillent entre le composé et l’improvisé. Ainsi à la succession de plans précis d’espaces urbains (gares de banlieue, chemins de halage, terrasses d’échoppes) fait écho la précipitation de plan de garçons poursuivis par une caméra complice des désirs du cinéaste. La caméra lui permet d’inscrire le désir homosexuel en se mettant fréquemment en scène, accomplissant parfois dans le fantasme une rencontre non aboutie. Les corps autant que les lieux sont des espaces à explorer où le désir peut surgir à n’importe quel moment. Ainsi le temps des films est-il avant tout le temps de la séduction avec tout ce qu’elle met en jeu comme attente, langueur et impatience, différer pour mieux dévoiler. Le cinéma d’Oki est le cinéma d’un amant à la recherche d’autres rencontres. Un cinéma qui inscrit le désir érotique comme indépassable et qui manifeste selon un étirement temporel la fragilité et la violence d’un regard, la caresse du cadrage et la fascination pour les jeunes garçons. Sa quête est autant celle des autres que la sienne. Chaque paysage, chaque visage le renvoit à sa situation, à sa position, dans lequel ou à partir desquels ils doit se définir en tant que différent : autre. C’est ainsi que la plupart des films sont les chroniques d’un temps relativement court : dix jours pour Masumae kun no senritsu, et deux semaines pour Shujinko. La quotidienneté , le familier s’inscrivent dans les plans de petites gares de banlieue où les trains ne semblent plus s’arréter comme dans la ville de Matsumae. C’est dans cette ville qu’il a fait depuis cinq ans une série de film dans lesquels la rue vue de la fenêtre ou de la terrasse de son appartement et la gare désaffectée deviennent les leitmotivs qui scandent les lieux communs au fil des heures. Dans Tarch Trip ainsi que dans les derniers films, la chronologie des séquences n’est plus repectée, le montage fait son oeuvre ; les films deviennent plus réflexifs. Ce film met deux époques en parallèle, l’une légère, printanière, heureuse, l’autre sombre, pluvieuse, nostalgique, Cette dernière évoque la disparition d’un des protagonistes. Ses derniers films exploitent plus ouvertement, mais moins brutalement la sexualité et semblent s’organiser vers une narration qui l’éloigne de l’autobiographie et du journal filmé.

La qualité du travail de Oki tient dans le fait qu’au travers de ses films un espace de liberté est créé. Un espace où le désir peut surgir et se manifester en marge de la société. Cette différence nous rappelle que les films d’Oki s’inscrivent eux-mêmes en marge de la production japonaise; ils sont directs, crus et ne sacrifient pas à la prouesse technologique dominante. Il s’agit d’un cinéma près du corps, qui laisse en devenir le temps et le désir .

Steina et Woody Vasulka: le son de l’image (Fr)

texte de présentation en ouverture de l’exposition : Au commencement état le bruit Steina et Woody Vasulka, à l’espace multimédia Gantner 11 octobre 2014 -24 janvier 2015.

 

Je ne connais pas bien le travail des Vasulka, ni ne suis en rien un spécialiste de la vidéo, et pourtant les rencontres avec leurs travaux m’ont marqué et ce depuis que j’ai pu voir à l’American Center à Paris certaines de leurs bande et aussi plus tard à la Maison des Beaux Arts (MBXA) lors d’une rétrospective organisée en 1984. Les rencontres se sont succédées et les découvertes étaient à chaque fois importante, qu’ils s’agissent d’une pièce de Steina à la Biennale de Venise ou plus récemment encore lors de l’exposition qui s’est tenu au ZKM: Buffalo Heads. C’est lors des préparatifs de cette exposition et des recherches que j’avais entrepris pour réaliser l’exposition Figment Paul Sharits à l’espace Gantner que nous nous sommes rencontrés plus longuement que lors de leurs passages parisiens. Aussi lorsque Valérie m’a demandé de parler d’eux ai-je décidé de le faire sous le couvert de la méconnaissance et du déplacement.

Tout commence pourrait-on dire à la fin des années 60, alors qu’après s’être installé à New York, Woody s’intéresse par l’entremise d’Alphons Shilling aux dispositifs de projections

Apres l’été 67, alors que je travaillais sur des films multi-écrans, j’ai développe une théorie personnelle accusant I’image séparée du cinema (le photogramme) et son cadre d’être particulièrement responsables de la tendance narrative du film, tendance que je soupçonnais d’être a I’origine de mes inhibitions quant à l’utilisation du cinema.Mon attention s’est dirigée contre I’appareillage cinématographique lui-même.

Alphons traversait une crise similaire mais sur une échelle bien plus large, Clans la mesure où il avait également affaire avec la peinture .Nous avons fait des expériences avec une camera sur un support pivotant, dirigée a distance. Alphons a filmé une scène (une personne marchant dans la pièce} et en installant le projecteur a la place de Ia camera tout en projetant sur les murs du même espace, il réussit a reproduire les mouvements initiaux de l’image.

Cette reconstruction de I’espace a déclenche pour nous deux toute une série d’expérimentations. Nous sentions que notre dilemme avait quelque chose a voir avec l’espace – la construction et la reconstruction de I’espace dans le temps. Nous avons utilise tous les deux cette expérience de l’espace réel pour nous tourner vers (l’interprétation des codes sous-jacents : pour Schilling ce fur la conquête des principes binoculaires,pour moi le temps l’énergie comme principe organisationnel des sons et des images.

Woody : Que faire avec une camera et un moniteur ? Un feed-back’ Pour nous.c’est de 16 qu’a j’ai11i l’étincelle qui no-us a illumines. On a dit beaucoup de choses a ce sujet, Jonas Mekas a parle de culte, de l’électricité’

Steina : Avant même d’avoir une camera.nous avons acheté un synthétiseur de son Putney. Tout de suite après, trois moniteurs. Et Jusqu’en 1979, nous avons tout visionné sur ces trois moniteurs.Toute notre réflexion a tourné autour du concept dune matrice de moniteurs.

Woody :Les synthétiseurs de son nous on aussi conduit aux oscillateurs.11 y avait la un autre moyen de produire des images après le feed-back. Nous injections des fréquences dans le moniteur pour étudier les modes d’interférence

En jouant de cette interaction -le son produisant de ]’image – nous avons compris qu’il y avait la un unique matériau: : ce sent des voltages et des fréquences qui produisent des sons et des images. Gene unicité du matériau de base a sans doute été pour nous la découverte la plus importante, avec l’interactivité. Ainsi, nous pouvions générer, ou contrôler, l’image par le son. Et cc matériau avait pour nous une réalité physique.

Ce travail avec les sons des images proche d’une recherche liée à la synesthésie va favoriser une appréhension et compréhension particulière de la vidéo et va orientée toute l’œuvre des Vasulka comme un travail ouvertement et prioritairement expérimental. La recherche, l’étude des fonctionnements de tel ou tels dispositifs couplant caméra et moniteur qu’ils s’agissent du feed back, ou bien du couplage oscilloscope, et distribution de la trame de balayage de l’image. Par la suite les couplage des synthétiseurs de sons couplés au tramage des l’énergie lumineuse permet de produire des torsions, contorsions distorsions de l’images qui peuvent évoquer visuellement le feed back mais dont la production se distingue dans la mesure ou il s’agit d’une modification spatiale de la trame. Si ces appareils sont couplés au jeu musicale de alors nous sommes en présence d’un travail ou la synesthésie est pensée selon des champs incorporant le domaine de l’improvisation autant que le travail de l’atelier.

O parle de l’importance du dispositif dans la production des Vasulka, et cette critique est bien souvent négative. Ils sont envisagés comme des chercheurs, des passeurs, des relais, mais aussi comme de formidables organisateurs qui mettent à disposition des équipements et des espaces mises à la disposition d’autrui. La Kitchen fondé par eux en 1971 en étant la trace marquante, et qui aujourd’hui encore est en activité, certes sous d’autres formes mais elle a servi d’art-lab pendant de nombreuses années et d’exemples pour des structures différentes tel que le Media Study de Buffalo, ou bien plus récemment l’école du ZKM, et la fondation Langlois à Montréal.

Ils ont su créer les conditions de production et de réceptions des travaux qu’ils ont eux-mêmes créées ou bien ceux d’autres artistes. Ils ont rendus possible la création d’espace d’accueil sous la forme de laboratoire au niveau de la fabrication des outils et des objets autant que dans l’espace et de le temps de la réception c’est à dire de la présentation.

Avant de nous intéresser brièvement à cet aspect de leur travail. Je voudrais effectuer plusieurs détours par le champ de l’art, du cinéma et de la vidéo afin de déconstruire l’appréhension habituelle que nous avons des travaux de Steina et Woody Vasulka.

La notion d’expérimentation appliqué à la pratique artistique bien que souvent revendiqué par les artistes dans le passé, depuis la fin du 19 siècle est, de manière générale, mal acceptée, ou pas facilement acceptée par les amateurs autant que par le marché de l’art. Mettre en avant l’aspect d’expérimentation signifie bien souvent mais, pas systématiquement, remettre en cause ou en tout cas questionner la finalité du produit, de l’œuvre. C’est aussi changé le statut de la production de l’artiste, qui font des esquisses, des essais, des tentatives, du travail du studio et de laboratoire l’outil nécessaire à une éventuelle production d’un objet (pas forcément) finalisé. Lorsque le laboratoire est affilié, à une université, un groupe, une marque, il est attendu que la production débouche sur un objet. On constate que c’est toujours ainsi que c’est négocié la recherche avec les groupes de télécommunications ou électroniques tel que Bell, IBM etc… Stan Vanderbeck, John Whitney pour n’en cîter que deux, ont finalisé des travaux dans des laboratoires par des œuvres closes tels que Poemfield (1966) pour le premier et Catalog (1961) pour le second. Il est difficile de s’écarter totalement de cette finalité qui fait qu’une recherche doivent déboucher sur un produit. Comme si toute recherche se doit être performative.

Remarquons à la fois le formidable écart mais aussi les liens pouvant exister entre Vocabulary (1973) œuvre plus tardive de Woody Vasulka qui montre diverses possibilités de faire de l’image à partir du Multikeyer, du scan processor et du Dual Colorizer. Dans cette bande Woody dispose deux objets tridimensionnels dans de nouvelles relation spatiale l’un vis à vis de l’autre lors du traitement de leur forme. De son côté John Witney en 1961 explore les possibilités de produire une représentation tridimensionnels à partie du mouvement et de la répartition d’de point lumineux qui sont ensuite coloriser.

Vocabulary_09

Mais si l’on décide à penser un axe de recherche avec un support donné , la sérialisation et les questions relatives à la perception visuelle dans le cas de Rose Lowder, la relation d’une musique visuelle live dans le cas de Steina… on s’aperçoit que le travail de recherche et les productions qui l’accompagnent peuvent être envisager comme constituant appartenant à la production d’une œuvre si tant est que l’on doivent recourir à ce terme. Il ne sont pas les esquisses qui préfigurent le grand œuvre tel qu’on la critique et l’histoire veulent les lire et les imposer et nous bassinent avec cette interprétation antique du travail artistique. Les essais sont l’œuvre car celle-ci est appréhendé en un devenir et ne fige que partiellement, ponctuellement selon les besoins d’une présentation, d’une exposition. Le travail artistique est alors la manifestation d’un travail quotidien de recherche à partir duquel des extraits, des extraits, des travaux vont surgir qui seront peut-être figés dans une forme , comme trace d’un temps et d’une recherche. C’est ainsi que se comprenne nombre de travaux de Steina et Woody Valsulka comme la trace, ou plus exactement comme le prélèvement, la suspension d’un devenir. Ils sont un instantané dans le balayage constant de la trame.

La question de l’insistance d’une action de Steina se filmant jouant du violon, et transformant l’aspect de l’image, selon des torsions, des aplatissements, n’est pas sans me rappeler la dimension obsessionnelle de Vito Acconci, ou répétitive de Bruce Nauman qui reprend encore et encore la même action comme jouer du violon, marcher sur une ligne… ou bien encore Tony Conrad répétant le même accord et, dans un autre registre, Jack Smith se préparant sans aucune finalité pour une performance dont on découvre que c’est en fait la préparation qui est la constitue et non pas ce qui devrait suivre, subvertissant ainsi le champ du spectacle en faisant de ces moments d’apprêts, moments, actions qui ne sont en général pas vues, puisqu’ils permettent à l’œuvre d’advenir mais que l’artiste affirme pour eux mêmes. On est , de fait dans un retournement de l’usage qui procède de la transmutation des valeurs. Et c’est aussi ce qui advient avec les travaux de Steina et Woody. Ils mettent en scène et en œuvre la trace de recherche qu’ils font passer du statut d’expérience à celui « d’œuvre » pour lequel j’emploierais les guillemets, modifiant autant les paramètres d’appréciation de ce que peut être une œuvre à travers la déconstruction des paramètres classiquement usités pour définir ce qu’est l’œuvre. L’outil et l’exploration de ses possibilités fait œuvre. Il inaugure une redéfinition du langage à partir de l’usage d’un nouveau média, qui bien qu’électrique procède de manière analogique à ses débuts va se transformer petit à petit vers le numérique. Dans tous les cas il s’agit de l’extension du concept définissant la vidéo comme étant une image électronique comme temps-énergie. Il s’agit pour les Vasulkas d’écrire en lumière (ce qui caractérise le fonctionnement du dispositif vidéo) et non pas d’écrire avec la lumière (photographie et cinéma). Ainsi Les Vasulka réalise le souhait de Len Lye pour le lequel l’énergie est lumière et rythme et qu’il explore de magistralement dans ses trois derniers films et ses sculptures.

Le signal est le matériau de notre pratique artistique. On peut aussi bien parler de fréquence et de voltage au lieu de temps et énergie. Comme le dit Steina dans une interview en 1985 dans laquelle les deux artistes expliquent comment ils ont travaillé ensemble et en quoi leur connaissance lié à la pratique d’un médium, le film pour Woody, la musique pour Steina, les a conduits a exploré avec une grande liberté la video à partir d’une inversion des priorités. Woody avec la musique, Steina avec le cinéma, la méconnaissance réciproque de ces médias les conduits à imaginer et faire des choses qui sortes des sentiers battues, et s’opposent ainsi aux règles et aux conventions qui imposent le bien filmé, ou le bien rythmée ‘ qu’il faut comprendre avant tout comme acquiescement à un certain nombre de règles édictée, imposée par une approche technique et ou patrimoniale des médiums ;

L’intérêt de leur recherches convergent pendant longtemps dans la mesure ou le travail d’analyse du signal et sa manipulation à partir des synthétiseurs de son leur permet de comprendre le travail de la trame, du balayage, mais à partir d’un moment les motivations vont diverger, Steina va s’interroger et privilégier les dispositifs optiques de capture et de manipulations de l’image accouplé, en dehors du fétichisme (ou si on peut le dire en français) ou d’une préciosité en regard de l’image filmée, alors que Woody s’intéresse à la stéréo, à la vision binoculaire, retrouvant d’une certaine manière les premières recherches qu’il avait entrepris avec Alphons Shilling dans les années 60.

De fait la séparation mais aussi ce qui les unissait c’était la reconnaissance de l’inadéquation de l’instrument caméra comme productrice de l’image. On peut dire que la caméra est un outil extraordinairement limité et contrôle par un nombre important de règles techniques et esthétiques. Pour Woody, la caméra, la camera obscura devient l’ennemi, le sténopé est l’archétype de ce dispositif qui monopolise et façonne la production d’image, et c’est pour cette raison qu’il cherche des alternatives quant à la production de l’image en mouvement, quelque chose qui serait détaché de la caméra obscura et de sa perspective… dans le cas de Steina, la résistance s’exerce sur l’œil qui est derrière la caméra, celui qui sélectionne, cette instance de pouvoir. En prenant compte de cette dimension on comprend alors pourquoi et comment les Vasulka sont éloignés de cet œil caméra du cinéma. Le cinéma bien que référent important pour la vidéo ne participe pas du même dispositif de fabrication, production de l’image. La relation avec la reproduction photographique n’est pas sa raison d’être, et surtout pour chacun d’eux cela marque l’abandon de la suprématie de l’œil comme comme distributeur de l’histoire, de la représentation. Steina privilégiera une approche mécanique dans laquelle elle abandonne la prise de décisions quand à la disposition des objets dans le plan ; c’est alors qu’elle introduit le concept de all vision en recourant à des dispositifs des miroirs sphérique qu’elle couple à al caméra et a des systèmes de rotation, elle prend ce qui est à l’entour le studio, le jardin la nature, et n’arrange pas les objets dans le cadre, (Somersault, The West) alors que Woody se tournera vers l’ordinateur.

Chacun de nos travaux sont des suggestions. Ils permettent de penser et de continuer à travailler sauf qu’au fil du temps nous avons dépasse la seule phénoménologie de la vidéo. Rappelons nous que dans un premier temps la vidéo est analogue c’est à dire elle est du temps réel, et vous travaillez les bandes de manière linéaire. De son côté le digital, en fait le numérique permet un accès ouvert, random access, à n’importe qu’elle point du travail, le transformer localement ou le permuter sans avoir à tout refaire. Avec l’analogue on est encore dans la culture de l’original qui est distinct de meilleur qualité que la copie, avec le digital cela est aboli ; la copie ne se dégrade pas, la dégénérescence semble abolie. On est aussi passé de la boite à outil et ses constructions de boites de dérivations, de colorations, de transformation du signal aux codes. Ce qui change beaucoup car le code est écrit, pensé en amont alors que la boite, le commutateur que l’on installé pour modifier le signal à l’entrée ou à la sortie permettait des test etc…

noisefieldQue l’on pense à Noisefield, Violin Phase ou nombre travaux des années 70.

violin phaseC’est dans ce champ d’applications qu’existent des convergences dans les recherches des vidéastes de l’époque. On songe aux premiers travaux de Gary Hill qui s’interroge sur la relation son image… mais aussi Nam June Paik. Les différences sont grandes car la si l’on pense à la manière dont Steina, ou Charlotte Moorman joue d’un instrument de musique on voit bien le grand écart entre les propositions. De même, Steina Vasulka met toujours en avant une performativité du dispositif, de la capture, de l’exécution mais moins dans le champ de la réception. Les essais de simultanéité de l’action que privilégie le montage rapide, les switchs entre un point de vue et uns autres qui vont avec le numérique s’exposer en devenant multi écran, dans la même image, ou dans un assortiment de projections.

Je me suis toujours demandé comment les artistes qui avaient travaillé avec la vidéo analogique avaient digérés le passage au numérique. Je pensais que cela avait relativement facile pour les Vasulka dans la mesure ou ils avaient toujours fait appel à des outils qu’ils avaient conçut ou qui avaient été conçu pour eux. Je n’avais jamais pensé que le surgissement du code, des programmes les avaient plongés pendant plusieurs années dans une sorte de désarroi, car soudain tout ce qu’ils avaient fait était, pensé devenait obsolète. Il fallait maintenant écrire le code, c’est à dire que l’image s’était véritablement dématérialisée. Avec les commutateurs, il y avait une sorte de matérialité de l’image, on la trafique en totalité. Avec le digital, c’est aussi la possibilité de généraliser et d’amplifier l’incursion dans des parties de l’image, comme si le travail de la truca se démultiplier.

Mais une des choses qui manquent peut -être au digital c’est la dimension de l’imprévisible, l’irruption de l’intempestif dans l’image et le sons, l’erreur, le mal fait etc…. Bien souvent la culture digitale s’oppose à ces défauts, ces mal versions, sauf bien entendu avec le glitch. Steina a un programme qui déjoue l’uniformisation de l’image digitale, et elle s’est aperçut que trop souvent les artistes, veulent toujours contrôler ce qu’ils font, la place de l’imprévisible est limité au strict nécessaire. (voir une interview qu’il donne en 2010 à Terry Flaxton). On fait toujours face au diktat de l’Auteur. C’est ainsi que la question de l’auteur vient se greffer à nouveau selon des modalités périmées bien que toujours activées par le marché et par les « auteurs » eux-mêmes qui n’ont pas su et ne veulent pas transformer, accepter la mutation de leur position répétant jusqu’à satiété la sempiternelle ritournelle d’un égo survitaminé.

L’usage et l’utilisation des instruments mécaniques/ optiques ainsi que les programmes qui se substituent ou accompagnent les décisions du vidéaste, renforcent l’autonomie créatrice selon des modalités privilégiant l’improvisation et la dimension performative du faire (encore faut-il savoir quoi en faire). Ainsi Steina peut-elle depuis le milieu des années 80 privilégiés l’espace extérieur et les paysages du Nouveau Mexique depuis qu’ils se sont installés à Santé Fé. Son installation sur les chutes d’eau de plusieurs écrans (6 ou 7 à vérifier Biennale de Venise) n’est pas tant impressionnante par l’objet filmé la chute d’une grande masse d’eau que par la subtile chorégraphie et synchronisation des différents écrans qui manifestent alors des composition s entre eux jouant entre l’unisson, la forme fuguée et les dissonances si l’on peut parler de dissonance dans le champ des écrans. Il s’agit de mise en phase et déphasage qui font surgir la coupe qui a été le vecteur essentiel du cinéma et que la vidéo a écartée au profit de la continuité et du flux, mais qui est réintroduit spatialement avec les multi écrans quelque soient leur nature. Le montage se déplace du vecteur temporel pour s’implanter dans l’espace.

Par rapport à cette transformation du faire à partir de la mutation des outils les Vasulka ont donc pendant plusieurs années étaient désarmés . Tout ce qu’ils savaient, avaient appris au film des expériences n’avaient plus aucune pertinence. Le code changeait la donne. La matérialité était finalement abolie. Faire des images n’avaient plus rien avoir avec la capture de la réalité, elle devient construction et organisation d’une suite, d’un enchainement de code selon du pré-programmé. Cependant dans cet univers pour le moins assisté, l’uniformisation guette. La dématérialisation de l’image qui s’accompagne d’une multiplication exponentiel des traitements est bien/trop souvent régit par l’exclusion de l’aléa ; à moins de programmer ou d’inclure dans le code des lignes de fuite qui puissent désorganiser la mécanique bien huilée du programme initial.

 

art of memoryC’est ce travail que va privilégier Steina dans ces travaux depuis la fin des années 90, alors que Woody va réintroduire une dimension dramaturgique qu’il avait exclut de ces machines de vision dans The Commission ou Art of Memory dans lesquels il souligne l’importance de la cinématographique en regard de sa production narrative. Le dispositif cinématographique est, pour Woody Vasulka ce qui trame le narratif c’est ce qui l’avait poussé a le quitter. Il faut bien sur entendre ici la trame comme chainon narratif et non pas élément constitutif du balayage video. La trame est modulable, elle avait été l’un des enjeux du développement formel de son travail des années 70.

Si l’expérimentation est privilégié dans le champ du faire, elle l’est tout autant lors de la monstration, il faut penser que l’exposition ou la projection sont des moments dans lesquels les artistes peuvent explorer des modalités et des dispositifs. Ainsi l’espace de l’exposition est un espace proche du laboratoire il perpétue le travail initié chez eux lorsque les Vasulka invitaient des gens à venir voir des travaux, et qui se déploiera ensuite à la Kitchen et à Buffalo. On ne peut penser la dimension performative d’une œuvre dans son faire si l’on évince de cette exploration et de cette expérimentation la composante ayant trait à la réception et donc à l’installation des œuvres. Ainsi le dispositif qui reçoit se trouve mis en crise par la précarité d’un projet qui met en question ses habitudes et se modes de fonctionnement. Se heurtent des logiques de flux, dans lequel le figé, la forme arrêtée doit être produite afin de permettre à l’espace d’art de présenter, manifester sa capacité à recevoir et à innover en recevant des œuvres en devenir.

yb 150213 (Eng)

by Jean-Michel Bouhours published in yann beauvais 40 anos de cinemativismo edited by Edson Barrus for B3, Recife 2014

While the present time urges us to seek always for the bigger – big spaces, big museums for monumental works, the spirit of contradiction urged me to find satisfaction in the small. Small is beautiful, to borrow a famous expression. Spatial constraints produces a form of asceticism that suits me. Finally, the induced monumental facilitate to not choose nor to prioritize. We talk about catalogue raisonné but is it reasonable to be exhaustive?. So live the small, the tiny, the piccolito, the pequeñito. The Duchamp box as a suitcase, as many gestures of Duchamp, has been a visionary and programmatic proposal.

Choices must be made for the suitcase, where for the traveller it was reduced to a bare minimum. This principle of chemical reduction of a sauce to the bottom or to « a reduction to glace, » is also the basis of the culinary arts, to bring up the flavors.

Exhibiting, yann beauvais 40 years of activity, who has worked hard, both in his own creation and toward those he supported as a programmer, curator, critic and historian, in 80 square meters surface, requires obviously, drastic choices. All the work of yann beauvais is clearly not presented here. Far from it. Yann Beauvais A to Z remaining; we will simply go from y to b penultimate marks across the Roman alphabet taken down.

While my choice focussed on three films, selected from a filmography that has dozens, they seemed to me, able to synthesize three constants in his work : the formal language implemented from R (1976), the activism he has shown with society borderline movements, experimental cinema and the cause of gay and lesbians community and finally his relationship to the World not through the implementation of its representation – what Debord pointed as a society of the spectacle, but through its misuse; smash or ruin media in their blindness or fascination functions.

Begin with an R1 (a tune). I never asked yann, what meant this abbreviative consonant. R, a tune of what anyway? of music from the silence of the projection room. The rhythms of the image alone will produce an inner music that is likely to be heard within the intimacy of each spectator. An aria by Johann Sebastian Bach in which the violin seems to throw you off in your own body. Surfing Light Cone’s site I found this text about the film, of which with a surprise, I discovered to be the author : “The image of R is in black and white, it shows a garden which we sense as a glorious forgotten past, but which is today delivered to the mere presence of weeds. The image vibrates, describing a geographical space, of which the final sequence will deliver a truncated continuous version. In doing so, the film responds to a visual rhythmical construction, developed on the basis of a score that determines the presence or absence of the image (black), the order of succession and its pace. yann beauvais has developed its own visual style by performing a two voices invention of Bach. He uses the image as a sampling range that is, the visual panorama becomes a keyboard with keys (shots) that the musical score will control. The gap (interval) between the notes in the score of Bach (in theory it is the number of degrees between the scores that determine intervals) defines the difference between the frames; for example, a third (musical interval of 3 degrees) correspond to a succession of images shifted by a visual angle of 15 degrees and up. From this central part inspired by the invention, yann beauvais created before and after free variations, such as authorized by baroque music that inspired it. R is made with a syncopated rhythm and picture space decomposed and surreal, giving rise to « memory », an affective place that no fluid and “clean” panoramic would allowed. Vibration, excessive flicker gives to the picture an hypnagogic aspect reinforced by a white cone of light on one edge of the frame due to a lack of seal on a Bolex camera, and which happily reminds us the film image as light, and the specific properties of light scattering within film.”

Deke Dusinberre stated that the location, very important in this film, is surrounded by mystery, was that of an eighteenth century house, in front of which was played works of Bach in the century of the Enlightment. The past seems everywhere: in this black and white picture which is a bit wash-out, in the weeds, in this house of which we sense the more prestigious past than the present which seemed no longer performing2. The film is based on the metonymy of the cut that is twofold. The light cutting caused by the black images in the flow of the sequence, and then the beam induces by the white cone that breaks the rectangle of the cinematic image, deconstructs its integrity. Cinema is about the cut; it is what is necessary to make the image reproduce a movement so perfectly illusionist. It is linked to the history of cinema, its technical invention with the Maltese cross, which would allow to intersect the flow of the continuous advancement of the film strip to the invention of the editing that would enable to create a discontinuous cinematic space-time with some plasticity. Cinema is by excellence the art of the cutting. Buñuel and Dali launched their cinematographic work with a close up of an eye cut with a scalpel done by Buñuel himself in Un Chien Andalou (1929). Their film was to burst the retinal order. But despite the flood of so-called strong images, violent, it retains its ability to scare. The eye ( the seeing organ) can handle all possible massacre, with all the atrocities that humans are capable of achieving, but perhaps less the spectacle of its own slaughter3. As Georges Bataille says : the relationship with the eye is immediately located between attraction and horror, at the core of an acute and contradictory reactions4. The cut is constituent to the construction of the image according to the perspectival model in which the picture is « made » in the plane that intersects the pyramid of the light beam whose top center is the eye.

This visual pyramid became a light cone with Anthony MacCall Line Describing A Cone (1973) shown at the last EXPRMNTL Festival in Knokke Le Zoute in 1975, was a shock to a generation of filmmakers of which myself and yann were part of. The approach McCall was part of, was an extraordinary movement of expanded cinema in England in the mid-70s, in which were explored multiple screens devices, expanded projections, shadows-plays. The cone will become a rallying symbol for filmmakers who will rally under the banner of Light Cone, the distribution structure Yann create in 1982 with Miles McKane in Paris and with a remarkably destiny, since 30 years later it lasts, and grows while adapting to economic and technological development within the evolution of moving image. This cone, an historical accident of the chamber of the camera not properly sealed beckons in R. act as the cutting of the chisel in full view, while this cut usually occurs between two frames so that the projected image on the screen may not be aware of. This cutting of the scissors on the postcards used in Sans Titre 84, where the triumphal arch is cut into slices and reconstituted as a scanner does, will led yann b to the metaphor of the differentiated split image, arranged in the manner of shutters of a fan in New York Long Distance (1994) and in Des rives (1998). In double or triple projection, RR (1976-85), is the vertical slot, along which each image appears symmetrically curl or fold in the manner of a transparent panel, on its lateral Carmontelle windings5. For the « unframed » R -I used intentionaly this word, twisting it but it is one that yann used about his work: the unframed- cinema is a space of the gap and the discontinuous flow of luminous matter, seems to have miraculously disappeared in favor of a fictional reconstruction akin perfectly aesthetic panoramic. Yann return to the image lines at each of its facilities. What are these lines of images: a wire, almost invisible to the naked eye, but the contradictory dialectic or dynamic of the images makes a tangible and tenuous line. It is nothing less than a boundary where conflict of images are materialized. These have a high capacity for spatial simulation turning into the edges of prisms, sometimes giving the feeling of a leaked images along an axis is in contrast to an increase of the image in front of the screen plane. In the case of RR or Quatr’un (1993) the fact that YB uses the same image as root, inverted and therefore proposed as its reverted reflection (mirror effect) counteracts the impact of the boundary line image in favor of an harmony of the two voices echoing the ones that one can find in Bach’s music. For Quatr’un, the figure of the cross is dominant, dividing the projection space into four rectangles. The emphasis on horizontal favors the horizon and therefore simulate a continuity, whereas the vertical remains as the most abstract rhythms, as hight voltage line of images. The installation was the subject of a musical collaboration by Köner. The R (aria) conceived by the musician is a musical drone coupled with a sort of unidentifiable buzz: it could be that of printing presses whose rattling rolls were muffled when you think you’ve spotted a mechanical dimension of sound or the distant sound of a waterfall when it seems an absolute fluidity.

The irruption of AIDS in the 80s and the hecatomb it caused in the gay community, has given voice to yb. His involvement will be with words and voice. Tu sempre,(2001) radicalizes this point of denominational language, using fighting speeches invading the exhibition space with diffracted sentences on every wall of the room where the piece is shown. The sound design of Köner begins with a kind of crowd noise that could be the rumor of a stadium or the inferno rumor of Dante :

« There, as far as we could hear,

There was no shouting,

but nothing but sighs,

Which shudder eternal air.

It felt sorrow without torment

Faced by a large crowd

In men, children, women of all ages  »

Dante’s Divine Comedy, Hell

From this sound would emerged, at the third of the film, the voice of yb.

Luchando made in 2011 is a film of a rare complexity. It is located on the filmic lineage of films begun with Spetsai (1989) where the filmmaker seeks a dialectical relationship, the equivalent of counterpoint in music, between travelogs made in moments of intense emotion facing the sublime in nature, or cityscape or a situation and a discursive counterpart. This dialectic summon the two brain areas: the vestigial brain solicited by the sense of sight in a register of sublimation and cortex, and cognitive brain that leads a serious reflection, if not dramatic and therefore unexalting. In the case of Spetsai, the text of Guy Debord Comments on the society of the spectacle serves as prevarication idyllic images filmed on an island in the Aegean Sea. Happiness is only apparent; the ecological dangers posed by the nuclear industry is indeed invisible, therefore absent from the picture; provided there is a continuing threat to the inter titles recall as « warnings ». The text intersects the flow of images; its reading stops at regular intervals the visual mode ; reading is a section within a mode of visual enjoyment.

Luchando was also made as a result of a trip to Cuba in 2009, it is sometimes difficult to detect the personal images in the middle of archival images. But in any case, it is here a travel film. Perhaps it is its antithesis as it addressed very lucidly question about the real motivations of the trip? What was behind this initiative, asked the artist? Is the motivations linked to a revolutionary romanticism on the part of a Westerner whose generation was steeped in Marxist and revolutionary theories, and who dreamed of changing the world in the light of the Third World liberation movements being Guevarist or Castrist. A romanticism that blunted with the issue of human rights and the plight of political prisoners and capitalism – Lenin said : capitalists are able to sell us the ropes that would be used to hung them – Recycling into « derivatives items.  » Was it curiosity? or was he too, yb, a sex tourist? So many questions asked bluntly or without any taboos. The condition of homosexuality in Cuba is the subject of the film, without the possibility to say that it is the center. The political history, the past, the glamour of Cuban music, everything seems to be linked indiscriminately : the issue of the persecution of homosexuals is telescoped with an interview with Fidel Castro, as if it were vain to focus on the subject, because as the filmmaker recognizes the reality is far more complex than the potential tourist, even informed may think he knows. In all lucidity, the author warns that this trip is part of a « widespread double bind experience ». The fantasy of the revolutionary ideal telescope with sexual fantasy. Yb shows that the situation is more complex. In an interview with the revolutionary leader, the fantasy is no longer electrified by Fidel, trying to show that the personal development of each individual is possible in the context of the Revolution. But the old Fidel marred by the exercise of unchecked power has only this enticement of the hero who opposed American imperialism at the turn of the sixties. The archive footage of the period of the Bay of Pigs and the missile crisis remind us that blessed time when there was still a « good class struggle » between good and evil cause, a struggle between the strong and the weak . In this context, the magic of his rhetoric was at the top of its effeiciency.

The cut is always at work with images flashing in double exposures with other images: the discontinuous flow is a phenomenon of electrification of the « sequence strain. » Because in this film the dominant figure of style is the multiple exposure. This has been used very often with the cinema and appear in dream sequences in Luis Buñuel, Germaine Dulac, René Clair and Jean Epstein. In Luchando, the overlaping is there to remind us about the impossible uniqueness of reality. It appears as a contemporary disruption of landmarks aggravated or symbolized by the disorder of the senses. The flow of the images show perfectly contradictory thoughts. Voice over from a propaganda film is torn to pieces by contemporary testimony about a police state controlling all citizens, including tourists who see the country as how the authorities want to make it seen. The used of the sound and visual multiple exposure has several functions. While it is the metonymy of a real Handling: events for Castro where the persecuted should applaud their persecutors, tourism in which we present a showcase of the country or the ruined landscape of Havana, described by a Cuba as a mere set intended to remind the state of war in the country against the imperialist invader. Overprinting is also the paradigm of interference with an accumulation of perfectly contradictory speeches. The image layers underlying the image area alone is a deceptive appearance, not easy to read. Sedimentary principle ambition ruin the image of a real unity and gives a representation of the double bind from which this film is designed as testimony.

D’un couvre feu (about a curfew) (2006). The historian yb cinema has contributed to the recognition of the film genre named found footage. This genre established itself took off after the Second World War, with the likes of Bruce Conner, Raphael Montãnez Ortiz in the United States or Maurice Lemaitre and Guy Debord in France. This cinema practices of editing shots or sequences borrowed and recycled from others, regained new interest in the late 80s with Martin Arnold, Christian Marclay, Craig Baldwin, Keith Sanborn or Bill Morrison. In 2001, with yann beauvais, we organized a film series at the Centre Pompidou with a publication, Monter sampler, l’échantillonage generalisé which replaced within an historical perspective the very contemporary issues of the sample, the recycling of images and sounds and questions what these practices addressed to the aesthetic, ethical and legal fields (copyright versus copyleft). D’un couvre feu was made a few years later and falls within this field of found footage, as all images are borrowed from the commercial media: television and probably sounds from the radio. Those events broke out in one of the poorest suburbs of Paris, Clichy-sous-Bois in the fall of 2006. The death of a teenager chased by the police in these neighborhoods, ablaze all so called difficult areas of the suburd. The integration model of the French society inherited the principles of the French Revolution, shows through these events its flaws if not bankruptcy, that neither the powers that be or the society as a whole (intelligentsia confused) do not wanted to see. These events are not the first, but instead they take on an unprecedented scale in practice and in their media resonance. France appears to the world as a country on the verge of social explosion; it was described as such by the American media.

Yb has not made one more film about these events. He scored in the media what he saw and heard, analyzes and repackages them. The language of found footage leads naturally to a specific form of assemblage, where the principles of unity (spatial, temporal or content) are ruined. The author of found footage committed somehow the viewer to leave completely fooled by the manipulation that allows editing. This manipulation of creating continuous, meaning, logic for combining of heterogeneous elements, and the Surrealists experimented with « exquisite corpse » from the 30’s, was spotted like the operation of the unconscious. But this analysis is no longer operational today when we are quite capable of looking at The Clock (2013) by Christian Marclay, like any other fiction film. What was the hidden representation of the human being with the Surrealists, was transmuted into a work of performance of an area. Is that sense the cut, which is no longer in the service of a narrative is itself a fiction. Hyphenation between plans borrowed from the tradition of « montage of attractions » Eisenstein defined by where the cinema rather search the clash of various sequences edited end to end than their fluidity and continuity narrative.1 While the television report the same event would have « organized » the contradictory words of the protagonists in a comment that is at worst a policy reviewing what to think, at best a neutral zone or mediating conflicting positions zone, yb placed end to end the speech, without « cutting shots », letting them compete “hand to hand » despite the fact they are from urban warfare or political power. By telescoping, it performs a de- hierarchy. The simultaneity of words (a nod to the likely simultaneity pictorial6) report with rare evidence of dropping out, not to say, of the futility of political power after multiple « urban policy » equally -there were even several miniters departments for this! – is incapable of analysis and, for one answer, opposed the republican order and military rhetoric: the state of emergency and curfew. The form of found footage, the cut editing, the abrupt are a suitable rhetoric to undermine military rhetoric. The rap largely present in this film, plays a key role as a cultural expression. The rebels, mostly from immigrant families, feeling deprived of everything, reaffirm whenever they « are not animals. » This fight has social causes, political, economic, urban, but the feeling of denial to be part of the human community dominates all other causes. Rap music generally perceived as a violent music, even aggressive catalyst lowest instincts, demonstrates the contrary, the humanity of those who break the phone booths and burned cars. With a certain perversity, yb « assassinates » blows looping of the same sequence, a President whose age is suddenly obvious, separate from the country youth he leads, and who does not understand anything. Yb actually a pitiful slam the war rhetoric and terribly poor semantically. This poverty of political discourse contrasts with the wealth of texts Som de Preto by Amilcka Chocolate and I am young suburban by Dizis.

Around these three films, the box in case YB-ian contains sounds, documents, journals, scores that will account for a rich itinerary, where to do it (his work) is completely embedded in to other activities, historian, critic, programmer, curator or simple activist. This box bag may in itself be a Pandora’s box giving access to everything.

translated by Keith Sanborn and yann beauvais

1The letter R in French can be unsderstood as a tune or as something which look like… note by the translator

2 Cf yann beauvais « Manifestement » in Liu Yung Hao Yann Beauvais le cinéma décadré, Centre Pompidou/Afaa, 1999, p 85

3 See the film of Andrej Zdravic : Phenix (1975)

4 Cf Georges Bataille in revue Documents n°4, Paris, septembre 1929,

5Louis de Carmontelle was a french painter who made rolled-up, transparent drawings which could be 12 foot long ; they were supposed to it was meant to be unrolled in front of viewers, section by section, through a backlit viewing box note by the translator.

6This category of painting was created by Robert Delaunay

Re-Act (Pt)

por yann beauvais em yb 150213 40 anos de cinemativismo, organização Edson Barrus, B³, Recife, Novembro 2014

Moro no Brasil, há vários anos, envolvido num projeto em Recife, criado por Edson Barrus e eu, nosso engajamento em áreas distintas da arte deu origem ao B³. Pareceu necessários para nos seguirmos em frente e fazer novas coisas, então em 2011, nós fizemos esta mudança.

Ao filmar quadro a quadro de acordo com a marcação que eu fiz, eu podia ouvir alguém tocando um prelúdio de Bach com seu cravo atrás de mim. A tarde estava quente, a grama do terreno em frente à casa estava grande e balançava ao vento. O trabalho era tedioso, meticuloso, enumerando e posicionando a câmera nos ângulos exatos, então filmando um ou dois quadros de acordo com a marcação: uma transcrição e o improviso da fuga e prelúdio de Bach. Para chegar à marcação, em um papel desenhei um padrão em que todos os ângulos da câmera estavam marcados, isto se provou uma referência mais conveniente do que fazer a marcação no próprio tripé. O rolo de filme era preto e branco. Eu havia comprado a câmera 16 mm há apenas algumas semanas no mercado das pulgas e nunca a havia utilizado. O rolo de filme estava vencido. Naquele momento aquela informação não parecia importar. Eu apenas sabia que tinha dois deles. Eu descobri sua importância apenas após o filme ser revelado. Havia certa rotina na filmagem. Tinha que ser filmado diariamente no mesmo horário, idealmente com o clima similar. As tardes eras passadas ao som de música barroca do festival Saintes. (Eu particularmente me recordo da performance de Monteverdi´s Orfeo, em uma tarde de julho). No início do verão, eu passei boa parte das minhas tardes filmando, isto é, até um amante de Royan vir me visitar, o que significou numa busca por lugares para trepar fora de onde nós estávamos hospedados. Isto deu outra dimensão à experiência da filmagem que não pôde ser percebida no filme. Em meados dos anos 70, bem como hoje em dia, havia uma diferença entre aceitar alguém como gay e tendo esta pessoa fazendo sexo com seu parceiro em sua casa.

Fazer filme experimental na França nos anos 70 era como uma duplicação daquela experiência pessoal, no sentido que « le cinema militant » e « la nouvelle vague » eram as formas dominantes de se fazer filme, e não permitiam a existência de outras práticas. Para piorar, essas formas excluíam outros tipos de filmagens. Ser marginal significava ser invisível ou pertencente a outro gueto. Ser gay e fazer filmes experimentais compartilhavam respostas comuns de si mesmo em relação à sociedade. Você tem que dirigir-se, resistir e lutar contra as normas: sua existência sexual demanda que você crie e compartilhe o seu próprio espaço com os outros. O irônico era que em cada uma dessas áreas podia sentir um selvagem fascínio com a normalidade. Era necessário afirmar simultaneamente e não uma contra a outra. Eu trabalhava por meio expediente quando estava na faculdade. Eu estudava Filosofia em Nanterre e aos sábados pela manhã na Cinemathèque Français do Palais de Chaillot fazia aulas de filme com Jean Rouch. Eu rapidamente debandei das aulas dedicadas a semiologia do filme. Então descobri que no Vincennes, você podia ver e estudar filme experimental com Claudine Eizykmann e Guy Fihman. Eu finalmente fui la no fim de 74 ou começo de 75, assisti algumas aulas quando não estava trabalhando e tentando aproveitar ao máximo.

Quando o filme finalmente foi revelado, que filmei de acordo com a minha partitura, fiquei surpreso ao descobrir que o que eu havia planejado funcionou, eu podia ver claramente no negativo que espalhei sobre minha cama. A estrutura e a movimentação dentro da paisagem podiam ser vistas, uma impressão de movimento era criada ao menos quando a filmagem foi examinada a mão. Quando estava filmando, eu não estava ciente que ao cobrir as lentes da câmera, meus dedos não a cobriram completamente, eles deixaram um pequeno triângulo de luz passar. Esse erro, cujo descobri ao colocar os negativos sobre a cama, se tornaria o ponto chave da qualidade oscilação da luz e daria a oportunidade de expandir o trabalho. Essa expansão viria a ocorrer alguns anos depois, na versão dupla reversa (RR 1976-85)) e na versão final quando o filme foi quadruplicado para uma instalação (Quatr´un 1993). Esse espelhamento foi baseado em comuns figuras de músicas barrocas e serialistas. Eu não sabia que a baixa densidade do negativo se tornaria um problema ao tentar gerar mais impressões e fazer um internegativo a fim de criar uma versão estendida. Demorou um tempo até um laboratório na Virgínia conseguir uma versão invertida de cabeça para baixo do negativo inicial, no filme duplo com dupla perfuração, pois eu queria poder inverter uma vez mais, para poder criar um reflexo quadruplicado. Em certo ponto eu tive que gerar uma copia com grau fina para conseguir mais impressões.


Quatr'un 4

Quatr'un 8

Durante muito tempo eu quis transcrever uma obra por piano de Schubert em filme. Devido a sua grande complexidade eu consegui fazer apena uma parte do trabalho e nunca nem comecei as filmagens. Eu encontrei uma locação para as filmagens, próximo a Poitiers, na margem de um pequeno rio, mas eu nunca voltei lá e eventualmente perdi o interesse no projeto. Ao começar a trabalhar com um músico, a relação entre filme e música tomou outra direção.

Os encontros da Gaipied¹ no flat de Jean Le Bitoux eram sempre divertidos e intensos. Eu fui apresentado ao grupo principal por Philip Brooks no inicio do projeto. Naquele tempo (1978-79) eles estavam terminando sua edição de lançamento. Eu estava para fazer parte do grupo, escrevendo geralmente sobre cinema, até que o meu próprio trabalho em filmagem demandou minha atenção. Havia certa escassez desse tipo de revista da França, e apesar de todas as críticas da comunidade, foi a primeira do seu gênero; existiu até 1992. Desde seu começo, qualquer um podia participar e isto resultou, ao menos no seu primeiro ano, em um incrível retalho da cultura gay. Sua ênfase era no pessoal, em experiências diárias, que era compreendida como política. Era importante atingir uma variedade de gays¹, uma vez que os problemas importantes da época era a revogação das leis discriminatórias a respeito da homossexualidade. No fim dos anos setenta, homossexualidade era ainda considerada perigosa socialmente. Era vital forçar ações legais, as quais Gaipied, entre outros grupos, estavam fazendo. Esta lei foi sancionada em 1982. Desde o início da década de 70, eu presenciei suficientes demonstrações nas quais a esquerda estava perpetuando o velho e cansado machismo, só então percebi que não havia tanta diferença entre a polícia e a esquerda em relação às questões gays, nem mesmo em relação à formação. Em um de meus diários filmados Disjet (1979-82), eu inclui algumas tomadas de uma demonstração por direitos igualitários para os gays; esta demonstração aconteceu uma semana antes da eleição presidencial de 1981.

Disjet boys kiss

No final de 79, eu já havia percebido a importância de ter espaços além da faculdade para expor filmes experimentais. Naquele ano, tendo ganhado mais dinheiro que normalmente ganhava, eu decidi investir num lugar onde eu pudesse organizar mostras de filmes. Essa primeira experiência foi um interessante fracasso. Eu paguei o aluguel do filme, porém a audiência era escassa e a área na qual organizei o 10º Arrondissement ainda não estava tão na moda, e as pessoas ainda não tinham o costume de ir la para ver filmes ou ao menos arte, como o fazem agora. Eu tomei conhecimento de que a experiência deveria ter sido organizada em um nível coletivo e não um impulso individual como eu fiz. Obviamente o conteúdo do programa era muito respeitoso em relação às tendências oficiais e pecava na falta de liberdade de acordo com suas seleções. Chamou muita atenção para uma tendência em particular nos filmes, ignorando a diversidade da atividade, cuja tinha uma grande importância naquele dado momento. Isto me deixou atento ao fato de que, como programadores, nós éramos muito dependentes da disponibilidade de trabalhos disponíveis pelo país. Se você não tivesse contatos com cineastas ou organizações fora da França, você simplesmente repetiria a história de sempre com umas pequenas variações e recombinações. Quando estava envolvido nessas projeções, e ao mesmo tempo escrevendo e fazendo filmes, eu não tinha um entendimento claro do que não estava funcionando, mas eu podia alguns aspectos. A área de filme experimental na França era considerada um campo de batalha entre teóricos mais velhos, críticos e cineastas, e uma nova geração que surgiu no começo dos anos 70. Se você fosse um cineasta mais jovem, não era fácil de aceitar que a cena existente duplicava os conflitos uma vez vivenciados no mundo da arte ou com os movimentos políticos de esquerda. Era um campo minado. Você poderia decidir fechar os olhos para tal realidade e se tornar um cineasta, um artista, ou você poderia entrar na luta e tentar fazer algo a respeito. Eu escolhi o segundo caminho como uma alternativa ao abandono ou a uma situação tolhida. Isto me levaria à criação de uma nova cooperativa em 1982, chamada Light Cone².

A criação dessas séries de projeções refletiam meu desejo e meus esforços para ver mais filmes. Se você não possuísse um projetor, vir trabalhos fora de um museu, cinema, sociedade de cinema era quase impossível. Eu tinha a necessidade de ver mais trabalhos. Fora do domínio das projeções privadas, onde cineastas mostravam seus trabalhos entre eles, descobrir novos trabalhos era difícil, nós tínhamos pouco acesso ao grande acervo de filmes. Você tinha que ir onde os filmes estavam disponíveis, ou exibidos, o que implicava em viajar ou, você tinha que criar as possibilidades de exibição dos filmes. Por outro lado, as projeções privadas podiam se tornar eventos nos quais os limites do cinema na sala de cinema podiam ser ultrapassados através da experimentação com projeção. Esses eventos íntimos ao mesmo tempo em que definiam um território inseriam a diversidade de grupos de uma comunidade. Era la que você podia perceber que você pertencia a uma comunidade de filme experimental, onde você podia encontrar comunidades semelhantes pelo mundo a fora. Estas trocas eram importantes, pois elas afirmavam a vitalidade e urgência do que estava sendo criado. Apesar das dificuldades em ser reconhecido no mundo das artes e dos filmes, uma cena underground oferecia uma oportunidade de estabelecer uma via, e, ao mesmo tempo indicar caminhos a serem esclarecidos. Dava-lhe a energia necessária para seguir em frente (para então fazer filmes) para constituir um cenário como um todo.

Apesar de ser relacionado à minha vida pessoal, meu desconforto não era o único foco do filme experimental. Decisões haviam de ser tomadas, para se libertar desse jeito de lidar e realizar as coisas. Minha programação baseada em oportunidades oferecidas era: ir à Inglaterra e Estados Unidos ver trabalhos e vivenciar novas realidades. Fui convidado por Adicinex³ para fazer parte do seu grupo principal, eu comecei a programar semanalmente, o que me deu a oportunidade de entender de um modo diferente a economia do filme experimental e me forçou a perceber que eu deveria criar neste mundo um espaço vivo sabendo que eu não ganharia o dinheiro para sobreviver com os filmes. Eu sempre teria que fazer algo mais para conseguir continuar fazendo filmes e promover o tipo de filme que gostava. Em cinco anos, o número de empregos que tive era tão numeroso quanto o número de flats que vivi ou ocupei até 1985.

Os anos de 1985, 86 e 87 foram importantes, pois Light Cone e Scratch4 começaram a trabalhar com outras instituições, lidando com filmes em uma escala maior. Colaboramos na organização de eventos e publicações de catálogos para a Cinemathèque Francesa e o MoMA (NY) entre outros. As negociações de uma série de filmes de música e seu catálogo com a Cinemathèque Francesa viria a dar uma amostra do que iria vivenciar alguns anos depois, ao lidar com o departamento legal do Centre Georges Pompidou para minha instalação Des rives (1998), feito com um empréstimo. A fim de que o catálogo de Monter/sampler fosse publicado eu teria que assumir responsabilidade total pelo seu conteúdo visual; sem meu aval, o catálogo não teria sido co-publicado pelo Centre Pompidou. Em meados dos anos 80, o jogo mudou: para fazer parte do mercado e realizar coisas ou você aceitava as regras impostas ou você era um forasteiro. Nós jogávamos dos dois lados. Esta postura criou um trauma em pessoas que tinham o costume de fazer as coisas a sua maneira, em seu próprio ritmo fora do mundo da arte e do filme. Essas mudanças eram difíceis de acompanhar e não eram inteiramente compreendidas, criando contradições e conflitos na Light Cone e Scratch, bem como na minha prática pessoal. De fato, eu não tenho certeza por que não lidei com essas contradições para assumir certo profissionalismo contra o qual eu sempre me rebelei. Era mais fácil assumir certas estratégias com um propósito coletivo do que no âmbito pessoal. Eu assumi essas dificuldades como um fardo na maioria das situações onde a realidade econômica podia sofrer uma guinada, ser mudada ou transformada pelos projetos, como o projeto do Festival de filmes de Gays e Lésbicas do American Center nos anos 90, no qual participei como assistente de curador (no fim dos anos 70 e 90), e o B³.

Quando fui ao Rio para participar do show « Arte Cinema », em Dezembro de 1997, do qual fiz parte da co-curadoria, eu não sabia que conheceria um artista, que em alguns anos, mudaria minha vida. As exibições dos filmes foram formatadas de forma densa: duas semanas de programação sobre o filme experimental dos anos 60, dos anos 79 na Europa, América do Norte e Brasil.

Capture d’écran 2014-12-04 à 18.47.56

Aqueles que estavam presentes nas exibições descobriam e compartilhavam o seu entusiasmo por esse tipo de cinema. Na primavera e outono daquele ano, passei cinco meses em Nova York fazendo Des rives. A fim de manter uma comunicação entre Brasil e Estados Unidos, nós utilizados extensivamente a internet, o que era relativamente novo para a maioria das pessoas na época. Para se conectar, o modem fazia uma série de sons, que transformava aquilo acima de tudo em uma experiência auditiva. Durante minha estada no Rio, eu pude assistir, pela primeira vez, uma grande quantidade de filmes brasileiros experimentais e marginais, que normalmente não eram exibidos na Europa ou América do Norte, fora um ou dois programas específicos que não pude participar uma vez que eram em cidades diferentes de onde estava. Uma vez, por exemplo, em junho de 1989, estava em São Francisco enquanto Arthur Omar exibia um programa de filme experimental brasileiro durante o Experimental Film Congress em Toronto. As escolhas feitas para o congresso foram criticadas pela geração mais jovem5, decidi então boicota-lo e fazer um tour pelos Estados Unidos com meus trabalhos da época.

O ano é 1981. Eu devo entrevistar Paul Sharits. Vamos passar a manhã juntos, mas a entrevista ocorrerá apenas à tarde. O lugar era Hyères, que havia recebido o Festival du cinéma différent por muitos anos. Após esse primeiro contato, Paulo e eu nos encontraríamos de tempos em tempos em Paris ou Buffalo. Na época de sua criação, Paul Sharits e Malcom Le Grice estavam entre os poucos cineastas que concordaram imediatamente em ter seus filmes distribuídos pela Light Cone. Seu acordo era um ato político; para que outras histórias pudessem ser contadas, seu reconhecimento possibilitava a quebra dos padrões de distribuição como eram feitos até então. Naquele tempo, os cineastas britânicos recebiam um reconhecimento limitado de seus trabalhos na França. O fato do London Coop também ser um laboratório, parecia degradar o trabalho, tornando-o menos interessante. As políticas eram claramente diferentes; a distinção entre diferentes categorias de filmes existia no Reino Unido, mas não eram abordadas da mesma forma. E apesar da separação do chamado « two avant-gardes » incentivado por Peter Wollen6, as políticas do cinema não eram compreendidas da mesma forma. Neste sentido, o gesto de Malcolm Le Grice e posteriormente o de Peter Gidal, se tornaram declarações. Rose Lowder e Alain Alcide Sudre que eram ligados ao cenário inglês e organizaram várias exibições em Avignon onde moravam, facilitaram o depósito de seus trabalhos.

A Light Cone viria a distribuir filmes que não era possível encontrar na França. Isso era essencial para nós. Era o nosso raison d’être. Nós recepcionávamos diferentes práticas, tendo uma atitude diferente de outros centros de distribuição na França relacionado a diferentes gêneros de filmes: não promovendo alguém mais ou contra o outro, mas criando um espaço para a diversidade coexistir. Não era mais hora de promover apenas uma tendência única, quando questões sobre gênero, raça, minoria e o cenário punk estavam transformando nossas formas de pensar, lidar e fazer arte. Filme não podia ser uma exceção à realidade e não era; o problema era dar uma chance a essas diferenças. A França era nesta época – se mudou muito é outra questão – um país totalmente dobrado sobre si mesmo, vivenciando grandes dificuldades em se abrir para o mundo, na percepção de muitas pessoas a mitologia francesa dominou e levou a tendências estéticas e pensamento crítico. Teve seu papel, mas não o que as pessoas imaginavam. Mutação através de apropriação e redistribuição de conhecimento eram ferramentas que deveriam ser utilizadas para remodelar as coisas em outras culturas. Essa ruptura era particularmente óbvia dentro dos filmes experimentais. A França estava de certa forma por fora do pensamento crítico da época. Questões relativas ao feminismo, estudos culturais, colonialismo, estudos de gênero – nomeando alguns apenas – eram território desconhecido. Nada estava disponível. Se você não lia inglês, era simplesmente impossível para você ficar a par do que acontecia, e não apenas no território dos filmes de estúdio. Cada show que eu vi fora do contexto histórico francês foi uma nova experiência: Derek Jarman, Scott e Beth B, Erica Beckman, Barbara Hammer, Su Friedrich, Peggy Ahwesh. Cada um deles lidava com um conteúdo novo.

EPSON scanner image Este tipo de trabalho tinha que estar disponível e isso apesar da questão linguística, a qual era uma importante barreira de circulação dos trabalhos. Infelizmente esses tipos de limitações devido a barreiras linguísticas sempre entravam em jogo; eles dificultavam a criação de programas. Eu me lembro de algumas cartas histéricas reclamando sobre Scratch ou a exibição de filmes americanos no Centre Georges Pompidou sem legenda9, afirmando serem políticas elitistas. Era impossível evitar o nacionalismo e atitudes protecionistas, que refletiam o acesso confuso do colonialismo e a dificuldade em admitir o declínio cultural. Estas mesmas pessoas não comentavam sobre as políticas do arquivo de filmes exibidos sem legendas: Henri Langlois defendeu tais exibições. Coincidentemente tal irritação parecia sempre se aplicar a filmes em inglês. Este argumento era utilizado contra o nome Light Cone: Por que usar um nome em inglês para uma cooperativa de filmes localizada na França? O nome era por sinal, uma dupla homenagem: por um lado para o excepcional trabalho de Anthony McCall, e do outro, era uma referência a um baseado. O nome prestava homenagem a diferentes fontes de prazer.

Após fazer Sid A Ids (1992), um amigo fez com que fosse possível eu fazer algo novo. Ele me deu total acesso a uma sala de edição de vídeo e um assistente para ajudar a finalizar o trabalho. Em 1996, utilizar uma sala de edição de vídeo era caro e reservado a grandes produções. Meu amigo trabalhava como diretor artístico da Mikros Images em Paris. Eu comecei a ir la à noite para colocar o texto que usaria e para preparar todos os elementos necessários para o aspecto visual do filme; o som estava sendo feito em outro lugar onde eu podia usar um estúdio de gravação. Este projeto se tornaria Still life, e foi finalizado em 1997. Uma importante fase do trabalho foi determinar a forma de seus componentes: texto, cor, velocidade, direção e o uso de elementos textuais como quadros estáticos, textos rolantes e palavras piscantes. Com a ajuda de Camille, a técnica, eu pude finalizar o aspecto visual de Still life. Nós percebemos que a fita deveria ser criada como uma forma de performance. Tudo deveria marcado no esboço em relação à duração, reduzido ao número de quadros, mas tinha que ser feito como se fosse uma performance ao vivo. Tudo tinha que ser testado. Levou um final de semana completo para dar conta do trabalho. Houve apenas alguns erros a serem consertados no final das contas. A intensidade daquela experiência transformou o processo de realização daquele filme. Stress e improvisações eram coisas que eu já havia vivenciado ao fazer filmes multi-telas, utilizando projetores de 16 mm. Esta experiência será renovada com Des rives e a utilização de um computador para Tu, sempre (2001). Este ato de estender o trabalho estendido expandiu-se em um ato de recepção, dando-lhe alguma relação com o vídeo, onde o atraso entre as gravações e ver o resultado foi praticamente abolido. Para mim como cineasta, foi uma maravilhosa revolução…

Em 1993, a exibição de instalações de filmes no Zonmée (défilé de film decadré) se tornaria importante não apenas no cinema experimental, mas também em uma pequena panelinha do mundo da arte parisiense. Isto criou a oportunidade para certos trabalhos serem vistos fora de casas de música e locais alternativos e teve como efeito a mistura desses vários tipos de audiência. O evento ocorreu numa grande ocupação artística em Montreuil na qual estive envolvido por um ano e meio fazendo exibições de filmes e instalações. Consistia em uma exibição de instalação de filmes e tardes de expanded cinema. A mistura da população artística com as pessoas do filme era algo incomum, especialmente em relação à localização do evento na periferia de Paris, bem no final da linha de metrô, porém a dinâmica e os conceitos dos eventos vespertinos eram fortes catalisadores. A mistura de projetos contemporâneos com trabalhos históricos criou as melhores condições de recepção, marcando a continuidade através da ruptura e êxtase.

Capture d’écran 2014-12-04 à 18.49.40

A exibição vinha sendo complicada de montar; nós tínhamos que ter certeza que teria energia suficiente para todos os equipamentos funcionarem naquele período de inverno antecipado. O lugar era uma ocupação, e os três andares tinham 300 metros quadrados cada. A escolha da obra foi destinada para refletir a diversidade da pratica atual em formas diversas em relação a alguns trabalhos históricos de Paul Sharits, Anthony McCall, e Tony Morgan.

3799Nosso objetivo era mostrar que artistas dos anos 90 com o seu « cinema d’exposition« 10, não estavam criando do zero, e que havia precedentes, os quais exploraram outras formas de fazer e pensar a respeito de instalação de filmes, usando uma tira de filme, tela e projetores como ponto de partida e não o cinema como um conceito, ou um objeto de investigação para um projeto artístico. Nós queríamos promover o diálogo entre práticas alienadas eventualmente negadas por razões que não tinham nada a ver com filme, mas muito a ver com o mercado da arte e seu fetichismo do objeto, sua produção. Aqui, a mudança para a nova tecnologia era uma importante forma de fonte de dinheiro no mundo da arte. Por sinal, durante os anos 80, o filme experimental era o pária das artes, tudo era para o vídeo, e todo mundo estava declarando o cinema morto, o qual nós sabemos, ainda não foi queimado e continua vivo em diferentes formas. Com isso em mente, as escolhas de trabalhos se tornaram mais fáceis e a re/construção de algumas peças como as instalações de Tony Morgan, dentro do espaço ofereceram uma variedade de links entre os anos 70 e a arte dos anos 90. Uma performance de Maurice Lemaître para um grande público diverso criou conexões não apenas com a poesia, mas também mostrou a importância da presença do artista. Foi interessante estabelecer este trabalho com respeito a trabalhos similares feitos por cineastas materialistas-estruturais ingleses.

Em meados dos anos 80, eu percebi que eu não iria escrever sobre filme experimental para a Gaipied. A revista, que estava aberta a todas as modalidades, estava progressivamente marchando em direção à cultura de consumo, a qual o filme experimental não pertencia. Qualquer um podia perceber isto, em qualquer exibição de filmes gays. Não havia muito interesse nos filmes que não se encaixavam no padrão dos trabalhos canônicos de Jean Genet, Kenneth Anger e Jean Cocteau. Quando estávamos exibindo alguns trabalhos de Warhol, foi a sua raridade, que os fez ser apreciado, enquanto eles não fossem mudos ou muito longos. Quando a manipulação das imagens era intensa como nas sequências de filme pornô gay de Tom Chomont, Luther Price, Edson Barrus ou Lawrence Brose (que ainda enfrenta um surreal caso de posse de imagens de pornografia infantil)11 a impaciência rapidamente podia ser percebida. Experimentos com o conteúdo da imagem, o fato de parte da imagem ter sido apagada, arranhada, transformou o objeto de desejo. Estas estratégias perturbadoras empregadas no espetáculo criaram uma frustração que foi oposta ao que é natural ao cineasta experimental. A inclusão do cinema experimental no festival de cinema gay e lésbico foi uma concessão feita a fim de promover uma diversidade superficial; foi aceito contanto que permanecesse “menor”.

Escrever se tornaria outro meio para mim através dos anos, um modo de promover trabalhos individuais ou tendências. O primeiro artigo que escrevi foi para a revista Melba, uma revisão do livro Abstract Film and Beyond12 de Malcolm Le Grice. A crítica latente do modo de abordagem materialista ao cinema poderia ser explicada pelos diferentes hábitos na produção de filmes nesses dois países (Inglaterra e França). A missão era desafiadora, porém o escopo do histórico de cinema do Malcolm oferecia conexões interessantes entre a produção de pintura abstrata e filme. A crítica da figura do autor como o produtor principal do trabalho, era desafiadora como uma reafirmação no campo do cinema, e a ideia de Marcel Duchamp onde o espectador dava sentido ao trabalho. Esta questão do espectador era uma questão importante para Le Grice, mas secundária para os cineastas parisienses.

Escrever para a imprensa gay foi outro envolvimento através do qual eu articulei minha identidade: sendo gay eu também estava defendendo o tipo de trabalho no qual eu tinha um papel ativo. Era como sincronizar duas identidades. Era impossível não reconhecer que no filme experimental, você podia encontrar a melhor representação de sua própria vida, seus próprios desejos. Não era Hollywood ou La nouvelle vague que estavam disponibilizando estas imagens de nós mesmos (ou raramente), porém o mundo do filme fora do circuito principal era onde as diferenças eram rotineiramente mostradas, expressas nos trabalhos de Watson e Webber, Kenneth Anger, Gregory Markopoulos, Jack Smith, Jean Genet, Jane Oxemburg, James Bidgood, Andy Warhol. 13 Os anos 70 e 80 continuaram sendo uma importante fonte de produções de tais imagens paralelas à nascente indústria pornô gay, utilizando como meio uma super 8, notável no trabalho de Lionel Soukaz, Maria Klonaris & Katerina Thomadaki, Derek Jarman entre outros.

O uso de texto sempre se fez presente nas minhas filmagens. Teve sua primeira aparição quando estava fazendo o meu primeiro 16 mm de 1974, chamado Voici Image. Desenhando diretamente sobre o filme de 16 mm, do qual consegui tirar das imagens gravadas com muito esforço, eu pensei que eu pudesse reduzir minha tese de mestrado em filosofia sobre cinema, a meros conceitos, que oscilavam entre quadros coloridos e linhas que se torciam. Texto, palavras e sentenças como imagem, era uma contínua fonte de inspiração. No início, palavras de placas de trânsito, ou grafite nos metrôs de diversas cidades estavam presentes em alguns filmes14 e nos meus diários. Com Divers-épars (1987), a questão do significado se tornou importante. Eu estava juntando os grafites nos prédios de Paris com comentários gays e sociais, os quais pareciam uma forma de expressar a raiva contra a sociedade, que se direcionava a economia neoliberal, com sua cultura ao dinheiro. Alguns textos eram provocativos, transformando a fachada nos quais foram escritos em uma parede militante.

Ao desenhar ou arranhar o filme na emulsão, devido ao espaço limitado na tira de filme, a presença da mão, o gesto de escrever, o traçado de sua duração geravam interesse, mas era menos óbvio com filme. Estes sinais de excesso eram agradáveis; eu queria ter um registro de alguns desses momentos e atos de produção literária. Em outros filmes, a presença de texto é essencial, e põe em jogo a escolha da tipografia, ritmos de aparição e a estrutura do texto, palavra por palavra, ou linha a linha… Em Vo/id (1985-87) eu usei duas telas, uma para cada língua (Francês , Inglês), oferecendo possibilidades que seriam expandidas com Still Life (1997) e Hezraelah (2006). Ler um texto em um filme difere de ler um texto impresso, pois a duração não é produzida pelo leitor. Ela não sabe por quanto tempo essas palavras, linhas e textos rolando irão ser visíveis. Esta indeterminação criava uma urgência no processo de leitura. Isto se tornou ainda mais complexo quando dois textos paralelos eram apresentados em diferentes velocidades. Nossa visão estava confusa, então começamos a divagar com dúvida em relação a textos como imagens. Texto como imagem era usado eventualmente em pintura, fotografia, mas com filme e vídeo, era possível refinar seu aspecto de apresentação, sua duração e criar uma espécie de poesia musical utilizando modulações de velocidade, tamanho das letras e sua localização na tela. Ao utilizar texto no filme, você prioriza o aspecto gráfico do filme ao invés do aspecto fotográfico. Esta separação próxima a um deslocamento do símbolo gráfico, sua afirmação como evento cinematográfico, permeia muitas das questões do cinema digital, para o qual aspectos tradicionais da cultura cinematográfica pareciam obsoletos, ou menos importantes. Tratamento, movimento, a compondo a retomada da imagem, transformando nosso entendimento da definição de cinema, mas ao mesmo tempo expandido-a ao digital. Ao trabalhar com texto como imagem lhe faz consciente em relação a estas metamorfoses, as quais usamos diariamente sem prestar atenção.

A programação e sua multiplicidade e versatilidade.

Como permear espaços que não eram abertos a este tipo de filmagem, e como levar ao limite e quebrar o código aceitado. Programar como uma forma de resistir e remodelar o lugar do filme com a inclusão de práticas ocultas e desconhecidas. Isto significava articular diferentes tipos de intervenções com diferentes públicos ou instituições. Enviar um programa a um museu onde seria mostrado uma vez por semana era diferente de fazer um programa ou sua curadoria onde você traria os projetores, o filme e introduziria o trabalho. Como qualquer outra cooperativa de cineastas, nós tivemos que encontrar formas de lidar com diferentes solicitações, em relação ao conteúdo dos filmes. As locações variavam de espaços em museus higienizados a galerias alternativas, ocupações, exibições ao ar livre de filmes etc. Ficou decidido que não haveria hierarquia entre os locatários em relação ao preço do aluguel e que o equipamento tinha que ser no nível padrão, o que às vezes significava em emprestar um projetor a fim de que as reproduções estivessem seguras. Era inicio dos anos 2000, 70% das locações de filmes eram para espaços alternativos. Como o cenário não estava muito forte nos anos 80 era importante manter a visibilidade para o trabalho e um acesso aos filmes através de uma exibição semanal, a fim de estimular outros lugares a se aventurarem neste campo do cinema. Este é o motivo pelo qual Scratch surgiu. Também era importante garimpar, para procurar filmes bem como sugerir programas para espaços diferentes. Neste sentido, trabalhar com museus era importante, pois era possível contestar a visão de que imagens em movimento eram limitadas a vídeo-arte, mostrando o que estava disponível por aí.

É sempre interessante perceber o quanto podemos aprender com nossos erros, de ocorrências anormais que acontecem, enquanto nós estamos fazendo um trabalho ou enquanto tocando no sentido de atuar ou interpretar uma peça musical. Nem todos os erros necessariamente são interessantes, porem alguns podem ser utilizados quando você se torna consciente em relação a suas possibilidades, quando você percebe seu potencial. É uma questão de experimentação. Enquanto eu estava filmando R (1976) um erro aconteceu e pude tirar grande vantagem dele. Mais tarde, quando eu fiz a versão de quatro telas, eu podia fazer este cone girar dentro da imagem composta (dividida em 4 partes, cada uma refletindo a outra, de acordo com as regras musicais da composição). Quando eu transferi Shibuya (2003-04) da fita ao computador erros começaram a ocorrer de maneira similar, decompondo e se separando da reprodução fiel do que foi capturado. A ruptura dentro da duplicação da imagem inicial criou uma supressão do tempo no momento que paralisa a representação de espaço. Esta mudança e ruptura na leitura da fita desorganiza e quebra a fluidez, a linearidade da gravação para se impor perante o quadro; o ato de reprodução tinha como um parasita o pixel. Eu não tinha pleno conhecimento que esta interpretação dispersa era um glitch.

shibuya 2Eu tive que lutar com o computador para conseguir fazer uma fita editada com os fragmentos da filmagem que eu estava tentando organizar, misturando fluidez com momentos de quadros de pixels congelados. Por sinal, o termo era possível ser encontrado na cultura geek, mas não era utilizado no domínio estético15. Eu conheci um técnico que estava analisando a fita antes de fazer a fita mestre de 1 polegada enquanto finalizava Still Life. Ele ficou horrorizado, não pelo seu conteúdo, mas pelo grande contraste e cor presente na fita. Para ele isso era esquisito e não poderia ser televisionado, pois excedia o alcance cromático normal de transmissões na televisão. O cinema tradicional e a televisão estavam sempre impondo pseudo regras em nome da reprodução técnica, que é apenas uma questão de regras impostas, um controle tecnológico para diferenciar o amador do profissional. Cada vez que eu tentava fazer a cópia final de Shibuya, apareciam novos quadros congelados que eu queria integrar ao trabalho. Eu não tinha certeza se era possível reproduzir esses acontecimentos fora do normal, como também não tinha certeza se o filme rodaria pelo mesmo motivo. Isto aconteceu quando eu fiz a instalação do trabalho para o Le Mouvement des images16. O técnico achou que a fita estava estragada, e disse que eu devia ter entregado a eles uma fita boa; ele simplesmente esqueceu que eles já haviam feito as cópias para exibição e já haviam comentado sobre este fato estranho.

Em Disjet, eu quis criar uma nova maneira de edição na qual a imagem rolaria na diagonal, este tipo de movimento foi criado ao cortar a tira de filme na diagonal os mais de 36 quadros. Era uma forma de gerar deslocamento na imagem em movimento. Eu costumava exibir o original, pois devido à fragilidade da tira de filme editada e o corte entre o positivo e o negativo utilizado para esse deslocamento dificultaram a obtenção de uma cópia, até que Rose Lowder pagou pela única cópia do filme em distribuição. Esses movimentos, a proposta das tiras de imagens era um objeto de fascinação para mim. O deslocamento de imagens paralelas no mesmo quadro era do meu interesse/ e era visto em vários filmes e vídeos que eu fiz apesar de suas diferenças específicas de aparências. As pessoas veem o seu trabalho através de óculos codificados pela história da arte e conceitos relacionados à figura e a ideia do artista e seu trabalho. Não é apenas uma questão de estilo, porem o trabalho era determinado pelos processos e pelos dados. Era possível perceber isto no trabalho através da minha produção, apesar de sua diversidade visual. O movimento da imagem como uma faixa ou uma listra seriam mais presentes em trabalhos como Enjeux (1984), Eliclipse (1982), Sans Titre 84, New York Long Distance (1994), Des Rives. Este tipo de movimento é utilizado em filmes-texto que usam linhas de texto passando, rolando em velocidades diferentes. Porém para alcançar a ideia que tinha em mente levou um longo tempo. Primeiro eu tive que parar o movimento da imagem para entender como eu poderia criar uma lateralização dentro quadro. Eu só consegui juntar estes movimentos diferentes dentro do quadro e nas diferentes tiras de filme compondo o quadro, ao começar a utilizar uma impressora ótica. As sequências da performance de Des Rives foram feitas no verão de 98, em Grenoble com Christophe Auger (da Cellule d’intervention Metamkine17). Eu queria que a imagem funcionasse como um limpador de para-brisa. Nós conseguimos fazer isso para a instalação de Des Rives e aperfeiçoamos mais a frente para performances que precisavam de loops, com diferentes limpadores que utilizei para fazer uma coreografia entre o movimento e a varredura da imagem. A imagem por se tratar de um raio de luz, ia para frente e para trás, dentro do enquadramento alternando com o movimento do feixe. Você poderia induzir o movimento e torcer os dois movimentos para dentro e para fora do enquadramento. Esta era outra maneira de trabalhar com eventos simultâneos.

A maioria das curadorias que fiz foi motivada pelas minhas pesquisas ou investigações de tópicos que fiz em relações ao meu próprio trabalho. Musique Film18 estava relacionado com o conteúdo da minha tese de PhD e era nutrida pelos filmes que estava fazendo, como R entre outros. Mot: dites, Images19 tinha seu texto motivado em meu trabalho e especialmente por Vo/Id. Enquanto Le je filmé20 era organizado no Centre Pompidou, com Jean-Michel Bouhours, que foi inspirado pelo interesse que eu tinha em filme diário. Eu vinha fazendo filme diário desde o começo da minha atividade de cineasta, como uma forma de distração, uma forma de criar memórias. Meu trabalho nesse tipo de trabalho, começou em 16 mm, então mudou para super 8, que era mais fácil de usar e mais intima. Também era mais barata que a 16 mm, principalmente por que estava criando um depósito de imagens, das quais eu podia retirar depois, quando necessário, ao fazer um projeto específico. Desde então, a super 8 se tornou uma filmadora e depois um celular.

O uso de found footage no meu próprio trabalho e seu uso recorrente por cineastas no final dos anos 80 e 90, me intrigou de tal forma, que eu fiz uma curadoria de alguns mostras em torno desta questão21. Cada um desses programas extensos foi reduzido, modificados, adaptados para outros locais. O propósito desta série era focar em um tema e um público mais amplo, que estava menos envolvido com o filme experimental que com artes ou música.

Cada um destes tópicos se tornou um cenário para investigação, envolvendo a busca por filmes raros, obtendo cópias de arquivo e solicitando a recriação ou recuperação de trabalhos e eventos. Por exemplo na noite de abertura de Musique Film se viu uma recriação de uma exibição de 1925 em Berlin onde os trabalhos expostos eram apresentados com musica ao vivo. Precisamos-nos recriar Ballet Mécanique (1924) com a musica de Georges Antheil, bem como sincronizar os filmes Opus (1921-25) de Walther Ruttmann com sua musica22. Se o Centre Pompidou era receptivo, seria em parte devido ao curador de filmes, que como cineasta estava sempre interessado em expandir seu programa, recebendo curadores e cineastas para mostrarem seus trabalhos.

O programa não estava limitado pelos meus próprios interesses e pesquisa, era também motivado pela necessidade de atuar no cenário internacional, a fim de que institutos de filmes franceses respondessem a pedidos de outras instituições. Outra series foram motivadas pela necessidade de exibir trabalhos que por muito tempo não estavam disponíveis, como os filmes de Len Lye, Lazlo Moholy-Nagy ou Gregory Markopoulos23, para os quais fiz em 1995, fiz a curadoria de uma retrospectiva em 1995, a primeira deste gênero desde o fim dos anos 70. Criar condições para receber estes trabalhos, significava destilar a pratica de cinema, para que ele pudesse induzir, estimular, aliviar, transformar, gerar emoção, trabalho e desejo por tais trabalhos. Todas estas atividades da curadoria, geraram escritos de minha parte. Alguns destes programas viajaram para fora do país, enquanto outros eram organizados para eventos específicos, a fim de criar um panorama do filme experimental Frances, ou eram inspirados em algum programa que eu havia organizado no passado. Por exemplo, parte de Le Je filmé, foi a Bucareste para um programa de uma semana, e depois foi a Utrecht, enquanto outros programas como o que falava sobre filme e vídeo arte na China e Taiwan foram de Paris a Berlim e então para outros vários lugares.

Quando estudante, escrever pra mim sempre foi insuportável, então nunca imaginei que eu escreveria tanto. Eu entendia desta pratica era que você tinha que seguir regras rígidas e uma retórica que eu não estava acostumado, e não apenas isto, ortografia era um pesadelo! Diferentemente de Jonas Mekas, eu não tinha habilidade para escrever poesia e eu não sabia como organizar meus pensamentos… então escrever continua sendo um desafio, mas com o aparecimento do computador, eu percebi que poderia escrever sem deixar rastros. Isso mudou o modo como eu via isto, me libertou de certa forma dos limites existentes e restrições. Eu posso escrever e apagar ao mesmo tempo, ou com alguma demora. Escrever no computador é de uma natureza não materialista, transformou e abriu a experiência para mim numa maneira similar como o vídeo modificou o modo de pensar de Hollis Frampton sobre filme e vídeo e suas diferenças, especialmente em relação à espera que você vivencia antes de olhar o que foi gravado.24 Com o interesse em alta pelo filme experimental e a apropriação pela academia, o cenário mudou bastante. A academia impõe suas próprias regras no seu domínio. Por exemplo, uma tendência era afixar, ligar, assegurar a cultura do filme experimental com as artes clássicas ou literatura. Certamente é sedutor, mas nem sempre pertinente. Tem mais a ver com demonstração de conhecimento do que o conhecimento do trabalho em si. Trabalhar com filme experimental não significa necessariamente que você tem que lidar com historia da arte tradicional, porém para alguns trabalhos pode ser pertinente. Eventualmente, filmes experimentais são analisados em relação a historia da mídia, ou historia do filme, o que pode ser outra forma de reduzi-los a um gênero.

Na realidade, eu continuo não me sentindo confortável com este tipo de entendimento e escrever implica numa falta de urgência. Eu escrevi para informar, compartilhar e alavancar trabalhos. Eu escrevi para mostrar outra visão dos trabalhos produzidos sob o âmbito do filme experimental; uma enciclopédia não fazia parte do projeto. O importante era definir as regras, transformações, ajustes e redefinições por quais os filmes estavam fazendo para manifestar sua resistência, sua experiência em confronto com as experiências diárias no entretenimento que visavam uma lavagem cerebral. Escrever sobre filme era e continua sendo uma forma de se firmar e lutar por uma alternativa a aos modos dominantes de pensar com e sobre imagens que se movem. Ao fim dos anos 80, para promover o trabalho de Cécile Fontaine, era necessário mostrar que esses outros modos de fazer filme, utilizados por ela, eram de fato possíveis ao mesmo tempo que defendiam a proposta de aproximação serialista do trabalho de Rose Lowder, na qual se fazia necessária mostrar uma continuidade histórica. Os escritos podiam ser desajeitados! caricatos, mas sempre reagiram as dificuldades da tarefa. Estava sempre em curso, assim como a área e as obras, que nela habitam.

Escrever compartilha com a programação e a distribuição um tipo de investimento no estabelecimento e na manutenção do cenário, e isto faz parte de uma forma de ativismo. Coletaando obras para exibir ou para distribuir bem como vendo trabalhos e revisando novas publicações era outro aspecto do fazer filme no sentido que demonstrava o dinamismo do campo. Neste sentido, entrevistas com cineastas era essencial; davam uma visão de suas obras e seus pensamentos. Minha primeira entrevista foi com Paul Sharits, depois com Robert Breer, Barbara Hammer entre outros, e ultimamente com Tony Wu, Wayne Yung. Algumas entrevistas – por exemplo a com Mike Hoolboom – gerou trabalhos colaborativos. Através dos anos você podia reconhecer certa fidelidade a um grupo de artistas com os quais eu trabalhava. Mais recentemente eu foquei em artistas menos renomados como José Agrippino de Paula, Mark Morrisroe, Jomard Muniz de Britto e artistas ainda menos conhecidos que eles.

Quando eu anunciei a chamada para SiFilmDa em 1992, eu pensei que era urgente que cineastas de filmes experimentais reagissem (re/act) politicamente. Parecia uma afronta presenciar a morte de tantos artistas, amigos, amantes ou indivíduos anônimos e não fazer nada no nosso meio. Baseado na ideia de que cineastas de qualquer espécie poderiam reagir, lancei este chamado que demorou um tempo para se tornar algo concreto, mas no fim das contas foi bem. Parecia que a separação entre o “two avant-gardes” era tão profunda, que havia uma recusa para trabalhar com conteúdo político naquele momento. Havia uma grande lacuna entre o que ocorria aqui e o que ocorria mundo afora, como os cineastas estavam começando a agir e reagir a fim de produzir outras representações para ir de encontro com a cobertura histérica da mídia que duplicava e expandia o moralismo da intolerância. Na frança nem isto estava acontecendo. Com a criação de Aides (1984), Positiv e Act-up Paris (1989), as coisas começaram a mudar, e as questões de representações se tornaram um problema por si só. Porém no reino do filme experimental, apesar das doenças e mortes, a voz dominante que poderia ser ouvida, estava muda. Uma cegueira visual (?). A demora na tomada de ações contra a AIDS, e mais especificamente dentro do filme experimental, exemplifica de outro modo às dificuldades que se enfrentam ao tentar superar as divisões entre as práticas. A natureza do ativismo variava de um país para outro. Não era habitual na comunidade do filme e do vídeo compartilhar a luta. Mas isto mudou.

Com B³ o objetivo foi incluir filme experimental numa história mais ampla, que não se restringisse a um suporte específico, mas que abrangisse as artes baseadas no tempo. Tal projeto destina-se uma articulação diferente dos filmes, e enfatiza os aspectos da instalação bem como uma abordagem pedagógica com palestras nas quais seria enfatizado a história global. Por estas razões, cada exibição tem um momento específico no qual nós contextualizamos a obra enquanto no resto do tempo o artista fala sobre seu trabalho. O projeto B³ foi resultado de um desejo compartilhado meu e do Edson, que era fazer algo onde nós poderíamos usar nossa experiência no meio da arte e do filme e com organização de eventos a fim de fazer possíveis encontros, conversas, exibições. Nosso envolvimento na criação desses espaços de arte e eventos (“Rés do Chão”, “Açúcar invertido”, “Nos Comtemporâneos25) ou espaços de filmes (Light Cone, Scratch…) formou a base da experiência para tal iniciativa, da qual eu comecei como iniciativa, a qual nós continuamos a modelar e redefinir ao longo do caminho. O fato de nos sermos amantes e de que nesses últimos 12 anos nos compartilhamos os eventos organizados por Edson como úcar Invertindo, as a satellite em Nova York em 2003-2004 e em Metz em 2005 e os eventos e exibições que eu fiz a curadoria facilitou as coisas.

Numa tentativa de fazer um diário de filme a partir do ponto de vista do som, surgiu Indices (2004). Philippe Langlois tornou possível para eu trabalhar neste projeto. O trabalho exigiu a coleta e montagem de diferentes fontes de uma grande quantidade de objetos sonoros. . Eu queria escutar documentos de diferentes épocas que ecoavam a guerra civil dos argelinos, Paris dos anos 60, a prisão de Baader no meio dos anos 70, etc.

Aos 14 anos eu aluguei um 8 mm dupla Paillard-Bolex, com a qual filmei diariamente minhas férias de verão em Roma e na Sicília. Eu só fui ver o que tinha filmado há tanto tempo no meio dos anos 80. Uma descoberta maravilhosa: apenas tomadas curtas!

Edson Barrus e eu fizemos vários trabalhos juntos: alguns diários filmados como Volta ao Longe (2005) no Brasil, Kopru Sokapi (2009) na Turquia, e um peculiar no qual usava do pretexto de caminhar sozinhos no Mont Ste. Victoire, um dos temas favoritos de Cézanne para suas pinturas. Este ultimo filme chamado d´ailleurs (2006) é uma investigação de paisagem, e se move para fora do domínio dos diários filmados evitando a nossa presença dentro da paisagem. Alguns destes trabalhos eram esboços para Transbrasiliana (2005), uma instalação multi tela (3 a 6) de 13 horas. Estes trabalhos eram diários de viagem. Eu venho fazendo este tipo de trabalho desde o fim dos anos 70 em uma Super 8. Minhas práticas diárias foram transformadas quando eu fiz Spetsai (1989) no qual duas linhas de um texto de Guy Debord apareciam no meio das imagens, criando outra linearidade de encontro com a criada pelas imagens. De Spetsai a Transbrasiliana,o uso de texto foi previamente informado através dos meus trabalhos antigos com texto. Com Transbrasiliana, textos de escritores brasileiros de diferentes fontes comentando no Brasil, ofereciam uma maneira de obter acesso ao fluxo intenso de imagens utilizadas nas diferentes partes da instalação26.

A diferença entre trabalhar com som e com filme é que a edição do som é baseada em uma forma de mixagem e sobreposição do fluxo, mais parecido neste sentido ao vídeo que ao filme. Ao mesmo tempo no entanto, o corte silenciado tem uma poderosa dinâmica na distribuição do ritmo e na fragmentação da melodia. Na composição de seqüências o serialismo é utilizado para definir as fases de temporalidades distintas, mas aqui, o serialismo não é aplicado a notas ou acordes, mas a seqüências e a posição da seqüências no espaço produzido no complexo de padrões de ondas tocadas com um aparelho de espacialização do som. A ideia de continuidade era questionada através da edição, não apenas em nível de recepção – pois não era possível antecipar o desenvolvimento da peça – mas também devido à natureza do projeto, a qual não está encerrada. Era um questionamento de sua memória lidar com a história pública e privada. Isto continua em progresso. Usei essa abordagem revisitar memórias passadas através da reutilização das filmagens, explorando-as mais uma vez, mas com a distância, as filmagens adquiriram outros valores. O cenário do jardim de Versailles filmado em Super 8 antes de sua restauração no fim dos anos 80, não é apenas uma recordação pessoal de um dia de natal em Versailles, mas também mostra como o jardim era apresentado naquela época. A intervenção do texto na imagem nos força a estabelecer conexões históricas que são completamente eliminadas da apresentação do cenário romântico do entre deux mondes (2010). Outras cenas feitas durante uma visita a Paul Sharits em Buffalo, tornaram-se uma homenagem para ele, utilizando esquemas de cores e cintilação de cor baseado nas pinturas e filmes de Paul para reavivar os momentos partilhados com um amigo. Esta reutilização de seqüências não tem nada a ver com um gesto nostálgico de reavivar o passado, mas está mais envolvido com a combinação de seqüências e a manipulação de imagens que você por acaso filmou por outros motivos. A reciclagem dessas imagens é menos que um gesto afetivo – não apenas por que o tempo passou – mas também devido à dimensão da história: seu aparecimento torna mais fácil ter outras atitudes em relação à filmagem, a qual você atualiza de uma forma diferente.

Trabalhando com músicos.

Eu trabalhei com diversos músicos desde o fim dos anos 70. A primeira colaboração intensa foi com um músico croata que vivia na França. Nós trabalhamos com uma partitura aleatória, baseada na ocorrência de uma leitura ao acaso aplicada a elementos de uma composição que incluíam performance, musica de teatro, etc. Martin Davorin Jagodic me contatou pela primeira vez para uma exibição de alguns dos meus trabalhos em alguns eventos que foram criados por um grupo de músicos que estava se formando e não fazia parte do Ircam27 e do GRM28 que eram instituições que dominavam as negociações de musica contemporânea na França. A partir deste primeiro encontro e de conversas mais adiante, nós decidimos trabalhar juntos num projeto de uma partitura que seria definida depois. Nós finalmente concordamos em trabalhar em uma partitura em particular que se tratava de uma transcrição de alguns artigos que eu havia escrito para a Gaipied, na realidade, era baseado na transcrição dos telex deles. A largura destes rolos de papel perfurado de telegramas eram maiores que o filme de 16 mm, então eu os cortei no tamanho exato e fiz uma impressão de contato artesanal extremo utilizando seções de 1 metro por vez. O papel que inicialmente era rosa claro, teve que ser coberto com uma tinta preta opaca para bloquear qualquer transparência para que só pudessem ver círculos brancos sobre a superfície preta. Os primeiros testes geraram apenas variações de tons de cinza. Uma vez que o que eu tinha o que era suficiente para imprimir o material eu os uni entre duas folhas de plástico para fazer um enquadramento imóvel do filme, que se tornaria a partitura para o músico. O filme foi obtido através da junção das seções uma após a outra em um rolo único, enquanto a partitura do filme foi obtida através da justaposição das seções lado a lado. O filme poderia ser projetado através de sua partitura antes de chegar à tela. Para o som, a musica seria tocada ao vivo utilizando um piano e fitas. Não havia uma forma definitiva de exibir a obra; nós sempre estávamos trabalhando nela, para resgatar, para expandir o projeto inicial. A obra foi chamada According to… (1979-80). O filme era frágil, por este motivo nunca consegui uma cópia completa, porém consegui 5 cópias do rayogram. O trabalho tinha 41 minutos de duração; eu vinha utilizando nas exibições a cópia “máster” até que a Light Cone decidiu que não seria mais possível devido a sua deteriorização. Enquanto trabalhava neste projeto, filmei as sequências de um filme de tela dupla para Jagodic que foi exibido como parte de um evento musical de 198029.

Durante muitos anos na década de 90, trabalhei com Thomas Köner que ficou intrigado com meu trabalho em filmes e especialmente por Still life. Até aquele momento Thomas Köner30 vinha trabalhando com Jurgen Reble31. A colaboração deles foi essencial para o cenário alemão num momento crítico, na renovação a ideia de filme ao vivo. A dimensão mística de seus trabalhos poderia ser definida através de seu uso de loops criando camadas de texturas na via do som e da imagem. As transformações progressivas e o ritmo lento eram e ainda são elementos essenciais de seu trabalho juntos. Minhas filmagens com suas edições rápidas bem como o uso de textos parecia bem distante do trabalho de Thomas Köner, mas na realidade, essas diferenças radicais lhe interessavam e especialmente o fato de que nenhum de nós queria criar um trabalho homogêneo, mas esperávamos desenvolver uma espécie de polifonia na qual som e imagem entrariam num diálogo. O som e a imagem estariam próximos em alguns momentos e então divergiam e seguiam caminhos separados, com suas velocidades, enquanto em outros momentos, eles estariam unificados, reunidos. A fusão e a ruptura seriam parte do trabalho. Nossa colaboração seria intensa durante cinco anos e resultaria em quatro projetos, duas instalações – Des rives e Tu, sempre – e uma versão sonora de Quatr´un antes do nosso último trabalho juntos para a instalação est absente no Maison Rimbaud (2005). As duas primeiras instalações eram frequentemente ao vivo, o que significava que no espaço da instalação que dizia respeito à Des rives, nos adicionaríamos um número de projeções, um computador e um sequenciador de som e apresentaríamos. Eu removeria o elemento principal da instalação para criar novos padrões e relações com essas seqüências, soprepondo-se a elas criando novas relações e coreografias, enquanto Thomas tinha a oportunidade de trabalhar para enfazitar as camadas que estavam escondidas ou não e eram escutadas durante a exibição da obra32. Apresentar Tu, sempre na França ou em outro país significava transformação, uma adaptação, traduções e a criação de outras linhas de informação, que viriam a substituir os textos existentes que rolavam da versão anterior. Para cada exibição, 33 eu queria ter informações precisas da área que estávamos apresentando o trabalho sobre a AIDS e pessoas que viviam com o HIV. A performance da obra se tornava mais complexa quando eram adicionadas informações ao vivo (na maioria das vezes textual) a fim de criar um diálogo com os textos gravados como imagem, cruzando informações criando um inacessível banco de dados em relação a AIDS. Ao apresenta-lo em Tóquio, houve certa dificuldade em conectar o texto japonês, a fim de criar uma interelação o texto foi adicionado ao vivo aos dados pré gravados. A independência das faixas de texto como imagem e o som faziam parte do projeto; o que os unia era um discurso ao vivo que fazia uma tradução do texto da ordem sonora. Nossa colaboração era intensa e de numerosas performances, mas depois de certo tempo eu não queria mais continuar com este tipo de apresentação, 34 que estava transformando a performance num tipo de rotina onde alguém deveria fazer algo novo a cada apresentação para seguir as regras do entretenimento. Em 2005 eu não estava mais disposto a continuar com este tipo de envolvimento. O som que Thomas produzia era tão poderoso, que eu tinha dificuldades de superar sua presença sedutora, que dominava o trabalho da imagem e regulava a forma como percebíamos as sequências. Nos tínhamos que encontrar outra forma de unir as duas experiências. Um veio com o uso de discursos nas camadas de som criando uma linearidade aos sons musicais oferecidos. Porém não foi suficiente, e quando eu comecei a passar menos tempo na Europa, dificultou nosso trabalho junto, para pesquisar novas modalidades para a interação do áudio com o visual.

Filmes encontrado novamente.

Nos diários de filme que fiz em 16 mm, eu incorporei filmagens que queria concentrar as quais foram encontradas de diversos locais. Esta apropriação foi estendida com We´ve Got the Red Blues (1991) e Work & Progress (feito com Vivian Ostrovsky1999). Ambos os filmes tratavam da Rússia. Outro projeto baseado em filmagens encontradas incluíam Soft Collision Dream of a Good Soldier (feito com Rick Rock 1991), d´um couvre-feu (2006), WarOnGaza (2009), Luchando (2011) e Schismes (2014).

Da seleção ao deslocamento ao se trabalhar com imagens que você não produziu lhe rende uma série de interpretações; tanto você quanto o espectador podem privilegiar quantas quiser. O uso de cinejornal, filmes descritivos ou documentários expressava outras leituras/significados/choques. Você estava lidando com conteúdo latente ou a produção de significado, que irrompe facilmente devido ao delay e o novo contexto no qual eles estavam imersos. Trabalhar com documentos de filme ou com representações já prontas do mundo facilitava a produção de filme como uma meta-linguagem. O filme se tornou um meio reflexivo através de seus desdobramentos, que envolvia a criação de significado através da imagem e do som. Esta apropriação de imagens de filmes tradicionais ou de fontes anônimas instituía um tipo de compartilhamento de informações, que indiretamente questionava a noção do autor, pois a mesma foi estabelecida/entendida no passado. Muito comumente alguém é confrontado com fato de que você não pode utilizar certas imagens, pois as mesmas são de propriedade de uma empresa de distribuição, um biblioteca, um museu… Que representar um autor ou a si mesmos como donos das imagens. Mas temos sido moldados pela imagem em movimento durante um século e não se pode proibir o acesso a seqüências que se tornaram ícones públicos. Se a evocação de um evento através de suas imagens é restringida pelos direitos autorais, você não pode mais compartilhar a representação de imagens em movimento lidando com eventos públicos do passado. Tornou-se propriedade privada sem acesso apesar de seu conteúdo ser publico, compartilhado e relevante à sociedade. Esta confiscação, essa negação de acesso às representações é similar ao que é feito numa livraria que restringe a alguns o acesso a sua coleção. Estas “happy few” nunca viram problema com estas restrições e o lucro gerado, pois eles fazem parte rede. Esta privatização de eventos estendendo a paisagem e prédios restringem mais uma vez o ato de fazer imagens e sua liberdade. Esta apropriação de paisagem é similar ao que as indústrias farmacêuticas fazem com as plantas, animais etc. e isto eram feito a favor do autor da produção. Em vez do autor, a corporação: bem vindo ao nosso século!

As questões relacionadas à programação e a curadoria revela as similaridades entre a edição e a exibição. Em cada caso a questão não são os quadros individuais, ou as sequências, nem os filmes ou instalações, mas todas as relações que podem ser estabelecidas entre os diferentes objetos nos filmes, nas instalações das exibições. Como no caso dos filmes, o significado é sempre dado nos intermédios: entre os quadros, fora dos enquadramentos. A oposição, a harmonia, o conflito de seus diversos elementos contextualizam as tomadas e as seqüências tanto quanto o filme e traz a tona significados específicos, e este mesmo tipo de contextualização está em ação ao selecionar trabalhos para um show ou uma exibição. Fazer a curadoria de um programa de filmes semanal para a Scratch ou para o American Center não é a mesma coisa que criar uma serie sobre um tema dado (filme musical, texto como imagem, o uso de couro preto no filme). Um programa semanal é um misto de shows individuais e temáticos. Ambos têm sua respectiva lógica, o primeiro sendo tema para a presença de cineastas para apresentar o trabalho, enquanto o segundo ilustra um tema e se faz necessária a presença de certa melodia, ou texturas rítmicas para articular os diferentes trabalhos que compõem o programa. Para este projeto é necessária uma seleção de filmes de um modo que eles não vão aniquilar uns aos outros; um filme mais fraco pode ser necessário para valorizar o próximo, ou para diferencia-lo dos outros. Com o passar dos anos, nós fomos da necessidade de acesso permitido, o qual induzia a priorização de obras históricas ou contemporâneas indisponíveis, a produção de programas onde não havia um limite real de seleção de trabalhos. Quando estava trabalhando em Mot: dites, images descobri que Adrian Brunel havia feito filmes com legendas subvertidas, porém não havia cópia disponível alem do original no BFI. A exibição estava ocorrendo no Centre Pompidou, e devido a isso, era impossível para eles conseguirem uma cópia segura para que nós conseguíssemos mostrar o trabalho. Para a retrospectiva de Gregory Markopoulos, nós conseguimos exibir trabalhos que não eram visto desde o inicio dos anos 70 ao requerer um empréstimo de copias de diferentes arquivos e coleções. Neste caso, fazer a curadoria destes filmes é similar ao que acontece em uma exibição, você tem que lidar com a distribuição do filme e suas sobreposições com a oscilação de diferentes economias entre a indústria dos filmes e a arte. Os arquivos, as cinematecas trabalhando junto com as linhas de escassez programada, ou as políticas de raridade impondo quem e qual lugar podiam exibir suas “joias”, enquanto museus e outros distribuidores trabalhariam de acordo com o mercado (eles fossem arte ou não).

O uso de múltiplas telas nas minhas filmagens bem como nas instalações que requeriam telas múltiplas, compartilhavam um interesse numa dimensão musical que pertence a minha percepção de cinema. Certamente a questão de múltiplas telas fez sentido para mim no momento em que eu tomei conhecimento das possibilidades contidas em R. A dimensão musical não estava localizada apenas no tipo de tradução de uma marcação, mas poderia ser alocada como um diálogo entre duas imagens exibidas ao mesmo tempo. O uso de diversas telas envolvia certa polifonia visual, na qual poderiam ocorrer momentos de fusão entre duas ou três telas, tornando possível a criação de uma imagem maior (29/11/1993, RR, Ligne d´eau (1989)) ou uma composição de imagem (Sans Titre 84, Soft Collision Dream of a Good Soldier, Work and Progress, Aller-Retour(2007)) ou estabilizar e manter a separação entre as telas (Boys and Girls (1989), Transbrasiliana) que ocasionalmente parecia se fundir ou convergir. A abordagem musical deu lugar a uma abordagem arquitetural na qual os instrumentos, e as telas são posicionadas num espaço para induzir um diálogo ou uma ruptura entre as imagens. Se Des rives requer um olhar que pode abranger duas telas, Transbrasiliana desafia qualquer visão unificada e trabalha na fragmentação e disseminação do conteúdo, tanto quanto a tela que roda de Tu, sempre que com seus espelhos abre espaço para a contradição. A imagem é refletida em movimento oposto ao fluxo do texto. Nesta ocupação efêmera do espaço, uma palavra, um texto passa pelo corpo dos espectadores quando eles se encontram naquele espaço.

  1. Como é contado na historia, a revista teve seu nome sugerido por Michel Foucault que escreveu um artigo para a primeira edição. De acordo com a explicação do seu titulo em inglês pelo Wikipédia, significa “gay foot” (pés gay) que é um homófono de guêpier, que significa um ninho de vespa, ou no sentido figurado, uma armadilha, uma cilada – uma referência da determinação da revista em ser uma tormenta ao status quo.

  2. Uma cooperativa criada com Miles McKane e um grupo de cineastas incluindo Rose Lowder, Paul Sharits, Kirk Tougas entre outros;

  3. A Adicinex foi criada em 1980, por Philippe Dubuquoy e Unglee e eu entramos para o grupo no fim daquele ano;

  4. Scratch” era o nome das exibições semanais na Light Cone. Iniciadas em 1983, estas exibições continuam acontecendo (agora uma vez ao mês) em um cinema em Paris.

  5. Veja o manifesto de Keith Sanborn: Let´s set the record straight, NY 1988;

  6. Peter Wollen, “The Two Avant-Gardes,” Studio International vol. 190, no. 978 (Novembro/Dezembro 1975), pp 171-175;

  7. No fim dos anos 70, Rose Lowder e Alain Alcide Sudre começaram a programar filmes em Avignon. Em 1981, eles criaram o que se tornaria o Archives du Film Expérimental d´Avignon [O arquivo de filme experimental de Avignon]. A coleção dos arquivos agora é organizada pela Light Cone;

  8. Para saber a história da Light Cone, você pode ler Scratch Book, ed Light Cone, Paris 1998;

  9. Em resposta a estas reinvidicações histéricas, fiz questão de ter todos os filmes e vídeos exibidos no American Centre com legendas em francês. Isto só foi possível, pois estava no orçamento da programação.

  10. Jean Christophe Royoux: “Pour um cinema d´exposition Retour sur quelques jalons historiques” Omnibus nº 20, Abril 1997;

  11. Como seu advogado disse ”Brose está trabalhando numa tradição de apropriação de imagem bem estabelecida, desenhando especificamente em imagens de masculinidade em filmes caseiros, filmes antigos, erótica Gay e documentários. Brose coleciona imagens imóveis, que ele então processa e reprocessa a fim de encontrar mais profundidade na imagem, produzindo camadas de imagens complexas que são altamente conceituais e oferecem um comentário pungente nas convenções da normativa de gênero e sexualidade. O produto final é abstrato como as pinturas de Willem de Kooning, e uma apreensão dos materiais de fonte que deturpa totalmente o resultado final”;

  12. Publicado pelo Studio Vista em 1977, e reimpressa pela MIT Press em 1982;

  13. Para a história do cinema Gay e lésbico que enfatiza a importância da produção da comunidade experimental veja Richard Dyer: Now you see it Studies on Lesbian and Gay Film Routledge, Londres 1990;

  14. Eu estou pensando principalmente no filme perdido stop danger sens unique interdit;

  15. Para uma história de tais efeitos veja Rosa Menkman : “The Glitch Moment(um)” Network Notebook 04, Amsterdam, 2011;

  16. Le mouvement des images foi uma exibição com curadoria por Philippe Alain Michaud para o Centre Georges Pompidou e que ocorreu de Abril de 2006 a Fevereiro de 2007;

  17.   Cellule d’intervention Metamkine é um coletivo de dois cineastas e um músico Christophe Auger, Xavier Quérel and Jérôme Noetinger

  18. Musique Film na Cinémathèque Française, May 1986, Paris para o qual um catálogo foi feito pela Scratch e Cinemathèque Française.

  19. A série aconteceu no Centre Georges Pompidou, de 19 de Outubro – 13 de Novembro Paris 1988, para o qual um catálogo foi publicado pela Scratch e Centre Georges Pompidou

  20. Le je filmé aconteceu no Centre Georges Pompidou, de 31 de Maio – 12 de Julho 1995, para o qual um catálogo foi publicado pela Scratch e o Centre Georges Pompidou;

  21. O primeiro destes foi para a Scratch no início dos anos 90, seguido por um grande show para a Galerie Nationale du Jeu de Paume : Plus dure sera la chute 1995, e então um programa especial para o Festival de Filme Oberhausen International em 1998, e em 2001 finalmente monter / sampler l’échantillonnage généralisé, no Centre Pompidou, para o qual um catálogo foi publicado pela Scratch e Centre Georges Pompidou

  22. Para este projeto nós utilizamos a versão criada por William Moritz.;

  23. Gregory J. Markopoulos (1928-1992), Uma retrospectiva de 1940 à 1971,” American Center Paris, Novembro de 1995.

  24. Hollis Frampton, The Whitering Away of the State of the Art, em On the camera and Consecutive Matters: The Writings of Hollis Frampton, p 266, editado por Bruce Jenkins, MIT Press, Boston 2009.

  25.  http://www.circuitosdadesdobra.com/#!edson-barrus/c12uh

  26. http://yannbeauvais.com/?p=371

  27. Para a história do Ircam veja: http://www.ircam.fr/62.html?&L=1

  28. O GRM iniciou em 1958 e em 1975 se tornou parte do INA http://www.inagrm.com/historique

  29. Parece que este filme de tela dupla desapareceu. Até o momento eu não tive sucesso em sua localização;

  30. http://thomaskoner.com/

  31. http://www.filmalchemist.de/

  32. Uma síntese da peça de som da exibição está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=fuzyxTWha14

  33. A trilha sonora de cada exibição se manteve a mesma, seria mudada apenas durante a performance. Uma síntese da trilha sonora está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=aYFwErZvfSw

  34. O que agilizou esta escolha foi uma viagem que fiz para a Nova Zelândia em 2000 com dois projetores de 16 mm, quatro sistemas de loop e cargas de filme 16mm para exibir filmes de duas e três telas e fazer performances ao vivo de Des rives. 80 quilos de equipamento.

Caminhos de atravesamento -yann beauvais e o cinema experimental- (Pt)

por Ma do Carmo Nino* em yb150213 40 anos de cinemativismo, organizado por Edson Barrus, B3, Recife, Novembro 2014

Não contemplamos o mundo de fora, como se assistíssemos a um espetáculo na plateia. Os discursos e o Discurso cruzam-se na psique. Acontecemos e fazemos acontecer. Nosso fazer repercute e somos afetados pelo alheio fazer (…) Organizando, organizamo-nos, entretecidos que somos . Donaldo Schüler

A verdade na arte é a união da coisa com ela mesma, o exterior tornando-se a expressão do interior, a alma revestida de forma humana, o corpo e seus instintos unidos ao espírito. Oscar Wilde

É chegado o momento para Yann Beauvais de celebrar quarenta anos de uma trajetória que está enfaticamente desde o seu início, centralmente permeada pela pluralidade do cinema experimental. Considerado por alguns de seus estudiosos, praticantes e defensores, como o verdadeiro cinema, é aquele que guarda o espírito da aventura, da poeticidade e da inquietação estética que deveriam presidir as manifestações em arte. Esta nítida e constante afinidade eletiva do artista francês radicado no Brasil desde 2011, emerge pontualmente e com regularidade através de suas próprias incursões na prática artística com filmes e vídeos, na defesa deste meio de expressão através da sua difusão, assim como do comentário e da análise crítica dos trabalhos de outros artistas, em vários continentes e também pela curadoria e organização de exposições, palestras, eventos em prol da propagação desta opção estética e da sensibilização dirigida à ampliação de um público acostumado em sua maioria a um cinema de cunho mais comercial1. Ao receber o convite para refletir sobre este momento que podemos considerar, com justiça, importante no encaminhamento privilegiado por Yann, não pude me furtar ao fato de que refletir sobre este exercício em todas as suas facetas implicava necessariamente em considera-las não como atividades paralelas individualizadas, mas como uma tessitura complexa nos quais os elementos constituintes interagem entre si influenciando – se em novos elementos. Refletir sobre esta linguagem, sua historicidade, assim como das condições de difusão, recepção, e sobre alguns dos artistas que como ele próprio abraçaram esta forma de expressão, colocando-se como apreciador, leitor e analista de suas obras, revela inclusive bastante – e não poderia se dar de outra forma – sobre questões que se encontram presentes em seu próprio trabalho como cineasta. São estes, portanto, os seus caminhos de atravesamento, e o que constituirá o fio condutor que nos guiará neste passeio. Não seria demais evocar aqui que, como Kristeva nos lembra, a propósito do ato de ler, há desde sempre2 indiscutivelmente, uma postura ativa, uma atitude reativa em relação à leitura, por parte daquele que a efetiva que se traduz como fundamentalmente apropriadora. Mais do que isto, longe de considerar que o cinemativismo de Yann como artista, curador independente, crítico, homem de palavras e imagens, signos verbais e não verbais, repercutem entre si e se retroalimentam, associar este fato à nossa condição humana de estarmos todos inseridos em um tipo de rede, nos entreglosando e nos constituindo enquanto seres, formando e sendo formados por esta convivência e/ou contato. Afinal, como vislumbrado na epígrafe deste texto, o espaço entre o sujeito e o mundo (objeto) poderiam ser vistos a partir da espacialidade mœbiana3, onde apenas aparentemente haveria distinção entre limites entre nós e o mundo. O contato inicial que estabeleci com Yann, se deu através de uma série de palestras4 que ele apresentou em 2013 com o incentivo do Funcultura e o apoio da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), além de eventos e encontros que vem realizando no espaço B3 (do qual ele é co-fundador com o também artista Edson Barrus), sendo que a minha incursão pelas singularidades das diversas formas de abordagem praticadas no que denominamos de cinema experimental se estendeu um pouco em seguida, no processo de tradução de alguns de seus textos sobre artistas e sobre obras experimentais no cinema5, onde ele disserta inclusive sobre alguns importantes criadores que, no processo da minha formação em artes visuais, não se encontravam referenciados com frequência ou mesmo não haviam nem sido evocados. Não é então totalmente sem apreensão que eu me coloco no limiar de uma experiência que embora gratificante para mim, é desafiadora, uma vez que tanto a longa e prolífica produção ensaística como a sua produção fílmica constituem um estímulo a ser explorado e vivenciado gradativamente. Situando (-me) um pouco (n)a história do cinema experimental… A própria trajetória do cinema experimental aponta que um dos elementos que contribuem para sua rarefeita visibilidade e situação que o coloca à margem dos estudos de cinema e também da história da arte, que é a falta de precisão acerca do conceito que o define enquanto gênero. Se o caráter do que é experimentável aponta para a ideia de busca, de pesquisa, de laboratório, de processo, ou mesmo de inacabado, vinculando-se a sua etimologia latina (experimentalis), se alia também à ideia de experiência, ao qual parece associar-se com frequência6. Antes que o termo experimental se constituísse em maioria das atribuições, outras designações como , , , , , , também foram utilizadas para referir-se a este tipo de produção. Esta variabilidade pode em parte indicar um determinado estado de coisas, como por exemplo, a referência ao mercado (cinema independente, marginal, underground), ou mesmo a hibridização com outros meios de expressão como as artes plásticas, por exemplo, como no caso das instalações (expanded cinema ou cinema ampliado). Esta diversificação, porém também aponta para a falta de um contorno mais rigoroso em torno do qual se poderiam cercear as questões que o definem, sem que se dependa em demasia ao que o singulariza em negação ao cinema dominante. Tudo se passa como se o cinema experimental não fosse autônomo em suas peculiaridades, a ponto de que estas permitam que ele seja apreciado per se, ou seja: ele seria recorrentemente não-narrativo ou mesmo não-figurativo, de temporalidade não-linear, utilizando com maior frequência a poesia, a metáfora, a alusão, com finais abertos, anticomercial, antiacadêmico, elege conteúdos marginais ou minoritários, situa-se à parte do sistema industrial e de sua concepção de entretenimento, questiona o próprio lugar que ocupa enquanto objeto de arte, é anticonvencional enfim. Isto é inclusive reforçado pelo mainstream, que ao referir-se ao cinema experimental, pontua sua importância conferindo-lhe uma dimensão sobretudo utilitária ao legitima-lo como o – necessário – espírito de renovação da linguagem do cinema. Embora o aparecimento do digital e da internet tenha modificado um pouco o quadro, facilitando o acesso, tornando mais frequente o contato com os filmes, e barateando os custos de produção, ainda parece válido lembrar, como coloca André Parente7 que devemos atentar para o fato de que a ideia de uma certa “forma cinema” é sobretudo ideológica, devemos estar atentos para não naturaliza-la, como se não existisse outra realidade possível. Nos primórdios do experimental encontram-se os filmes feitos especificamente por artistas plásticos, ligados a vanguardas históricas, como os dos grupos futurista, construtivista e dadaísta. Trata-se exatamente da produção mais estudada e conhecida dentro ou fora da academia , onde se inclui também os que conseguem incentivos na criação e inserção em circuitos comerciais ou privados. Esta produção atinge um público mais amplo do que a apresentada regularmente apenas em museus, instituições, fundações, academias de arte, universidades, cineclubes, festivais, etc. Assim são as obras revolucionárias (teórica e prática) de cunho futurista e construtivista como as de Dziga Vertov, a dos irmãos Bragaglia, ou de tendência dadá-surrealista como as de René Clair, Luis Buñuel, Jean Cocteau, Joseph Cornell, Marcel Duchamp, Man Ray, Fernand Léger, Germaine Dulac, ou ainda outros como Laszlò Moholy-Nagy, Norman McLaren, Len Lye, Derek Jarman, Guy Debord, Peter Greenaway, Chris Marker, William Klein, Raymond Depardon, Philippe Garrel, Jean-Luc Godard, etc. No contexto da cena americana (underground) destacamos Paul Strand, Maya Deren, Stan Brakhage, Kenneth Anger, Michael Snow, Gregory Markopoulos, Hollis Frampton, Carolee Schneemann, Jonas Mekas, etc. No Brasil a tradição de um cinema experimental não remete a movimentos, mas sim a iniciativas individuais, pessoais e isoladas, ainda que algumas tenham sido marcantes como no caso do inaugural Limite (1930) de Mario Peixoto, em que o autor aplica uma serie de inovações da vanguarda francesa com as quais teve contato em sua estadia parisiense. Temos ainda o brasileiro Alberto Cavalcanti que com Rien que les Heures (1926) inaugura o que viria se tornar quase um gênero a parte em torno da celebração da sinfonia das cidades. Nota-se outros autores como Júlio Bressane, Rogerio Sganzela, Carlos Reichenbach, Arthur Omar (que foi o autor do primeiro filme estrutural de found footage por aqui (Vocês, em 1979), e abordagens eventuais de artistas plásticos como Antônio Dias e Antônio Manuel, Hélio Oiticica junto a Neville d Almeida com as experiências de quasi-cinema e seu redimensionamento do dispositivo a partir do espaço (Bloco de Experiências em Cosmococa – Programa in Progress, em 1973), ou ainda Caetano Veloso com seu Cinema Falado (1986), José Agripino de Paula, Jomard Muniz de Britto, Paulo Brusky e Daniel Santiago, etc. A luta que não pode parar… Abraçar este cinema seria então, declarar-se em empatia com o caráter utópico e sisífico tão associado aos poetas e aos sonhadores. Um projeto no qual acreditaram as vanguardas artísticas. Achar que é possível estabelecer as premissas de um mundo melhor, que seria viabilizado pela arte. Uma arte da resistência, desestabilizadora, radical, exigente, questionadora, ética. Em um de seus textos que tive a oportunidade de traduzir8, Yann fala da importância e do deslumbramento que constituiu para ele, quando já pensava em fazer filmes que se parecessem com música visual, a descoberta de Jonas Mekas, artista lituano radicado nos Estados Unidos. Ele escolhe iniciar sua apresentação sobre Mekas, colocando-se ele próprio como cineasta, crítico e ativista, aliando-se assim ao espírito empreendedor deste artista, um grande e apaixonado defensor do cinema experimental, que não negou esforços e nem tinha meias palavras para criticar o status quo, incitar à luta, apregoar o direito à diferença, estimular a produção, viabilizar a exibição e a preservação da memória deste cinema que sempre manteve uma luta desigual com os espaços de visibilidade destinados majoritariamente ao cinema dominante. Desde o início de sua incursão no experimental, Yann comprometeu-se com esta dimensão de defesa e ainda em seus anos na França, co-fundou a Light Cone, a única cooperativa de distribuições de filmes experimentais na França que dispõe de um catálogo de obras verdadeiramente representativo do conjunto das correntes neste campo desde o início do século até hoje. Exerceu também durante vários anos a função de professor sobre este cinema tanto na França (Studio Le Fresnoy, Sorbonne Nouvelle Paris 3) como também nos EUA (University of South Florida). Além de autor de inúmeros artigos dispersos em revistas, livros e catálogos, concebeu « Poussière d’image », uma coletânea de ensaios publicada em 1998, para Editions Paris Experimental, dentro da coleção Sine Qua Non. Entre 1994-96 acumulou as funções de curador e programador no American Center e também realizou como artista intervenções regulares em estruturas como o Centre Pompidou, o Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris, na Galerie Nationale du Jeu de Paume, e muitos outros espaços fora da Europa. O reconhecimento da dimensão artística do cinema experimental como linguagem estaria ligado à exploração estética de suas das potencialidades técnicas específicas. O não-conformismo e a pluralidade de tendências deste cinema como um todo é incontestável, indo da problematização da materialidade próprio meio, sua efemeridade, as confrontações sobre a espacialidade da imagem em si mesma através da unidade fílmica básica que é o fotograma, ou sobre questões estruturais do próprio dispositivo cinematográfico, assim como apropriações estéticas, aspectos sociais ligados ao cotidiano, ao gênero, ao engajamento de cunho político, etc. A própria produção ensaística de Yann, uma reflexão ao mesmo tempo teórica, crítica e histórica, dá conta desta diversidade de abordagens e a partir da decisão de vir para o Brasil e da fundação do espaço B3 em Recife, os vários tipos de exposições promovidas acerca das diversas tendências que se apresentam ao longo de sua história, confirmam o interesse em promover este cinema inquieto de suas margens. Estas exposições e eventos marcam a cena recifense com o ineditismo de propostas a partir do acervo disponível e dos diversos contatos que os gestores do espaço entretém com os artistas em diversas partes do mundo. Mas enfim, o que busca o cinema experimental? A natureza multimídia do cinema experimental o coloca na interface com várias outras formas de criação, porém é preciso ter em mente que o próprio exercício experimental de um meio de expressão, por seu caráter eminentemente transgressor, questiona os limites das linguagens com as quais interage ludicamente. Haveria então uma maior exatidão no fato de se apontar para a questão do hibridismo entre as tendências praticadas nas artes visuais através de modalidades como pintura, escultura, fotografia, holografia, colagem, desenho, quadrinhos, vídeo, performance, instalação e o cinema convencional, sem esquecer a música, e a literatura através da prosa e da poesia, como constituindo potenciais polos de conexão imediatos a serem descobertos na prática do cinema experimental ao longo de sua história. Tudo se passa como se hoje houvesse um reconhecimento de que os fatores que regem nossa percepção são complexos, visto que nos referenciamos simultaneamente a partir dos cinco sentidos, embora tenhamos tendência a considera-los separadamente, contrariando o próprio funcionamento do nosso corpo. Esta situação somada à opacidade inerente a cada meio coloca em evidência a necessidade para o sujeito fruidor em geral, de criar um repertório que envolva o contato com estas variadas formas de criação sem hierarquiza-las e assim cada um poder formar individualmente seus próprios arquivos culturais dentro das possibilidades estéticas desenvolvidas com estes meios imbricados. Porém a hibridização tal como praticada neste tipo de cinema, pode tornar mais complexa a recepção da obra e este caráter transdisciplinar e intersemiótico gera uma completa mistura de linguagens, havendo ocasiões em que não é possível que se determine os limites de participação de cada elemento constitutivo, por exemplo. Este trânsito de códigos é de natureza diversificada, indo da mudança de mídia para a de gênero, ou simplesmente mudando o enfoque. Onde há por parte do artista uma busca de equivalências em diferentes sistemas de signos para constar entre os vários elementos relacionados ao mesmo filme: escolhas ligadas a temas, acontecimentos, objetivos, personagens, modos de abordagem, posicionamentos ideológicos, contextos, tipos de representação, etc. Apesar de vivemos atualmente um momento em que a produção contemporânea convive de modo relativamente pacífico com as porosidades oriundas de uma simultaneidade entre as várias formas de expressão – fato este que o desenvolvimento dos meios tecnológicos veio reforçar – isto incide sobre a amplitude do reconhecimento por parte do público, que deve ainda lidar com a constante reciclagem das informações que circulam nos meios de comunicação de massa. São fatores que interferem no regime de comunicação estética em maior escala destas obras, afinal todo tipo de experiência demanda o conhecimento do leitor, através de sua memória. Ao negar em sua grande maioria a incorporação do caráter narrativo herdado pelo cinema convencional da literatura romanesca, o experimental enfatiza a dimensão poética no sentido proposto por Roman Jakobson9 ao estabelecer os vários tipos de funções da mensagem. A obra de arte parte do indivíduo, mas adquire seu sentido pleno quando inserida no regime de comunicação social e para este pensador da linguagem, a mensagem estética faz ressaltar a singularidade do próprio signo usado pelo emissor (artista) e provoca uma surpresa no destinatário, devido o seu funcionamento poético e/ou excêntrico, que pressupõe uma organização que faz emergir um modo de construção em seus aspectos técnicos sensíveis, materiais e significantes, colocando ou não explicitamente em evidência a sua poïese10, o seu processo de construção. Não se pode considerar o(s) sentido(s) ou mesmo sua produção como prioritariamente compreensíveis ou previsíveis, eles não são pré-codificados, ao contrário, elegem na maioria das vezes uma criação que enfatiza tanto o significado quanto o vocabulário e os códigos estabelecidos, renovando-os. A esta instância, podem ser associar outros pendores da linguagem como a natureza emotiva que coloca em evidência o emissor/autor, como por exemplo na longa tradição no exercício do experimental das autobiografias através do diário filmado. Neste contexto não há como deixar de pensar em Jonas Mekas, que tornou esta forma de exercício autoral a sua marca pessoal e vai inclusive constituir uma referência importante para os filmes de Yann que versam sobre esta questão, como ele próprio afirma11. Existe também a possibilidade do que Jakobson chama de mensagem fática, cujo destaque vai para o canal (meio físico, como o queria McLuhan) onde a experimentação volta-se para um caráter mais formal ou técnico, o que não significa que não possa transcende-la, atribuir-lhe um destino, servindo a um conceito ou ideia. A materialidade do filme e o espaço em que ele existe, tendo o fotograma como elemento a ser explorado é o apanágio de cineastas com tendências estruturalistas ou de filmes independentes que se vê em galerias. O remanejamento formal pode se dar inclusive dentro da premissa de aceitação do erro, assumindo riscos, reivindicando sua própria efemeridade e/ou precariedade, e não deixa de envolver a tendência a uma certa habilidade artesanal em lidar com a matéria fílmica, que pode chegar mesmo a decompor-se no processo12. Mais do que considera-lo como gênero e portanto associa-lo a uma historicidade, ou cronologia definida, o cinema experimental representa uma atitude estética de rebeldia e provocação por parte dos artistas aos modelos convencionalmente estabelecidos, institucionalizados, formadores da tradição, comerciais, aqueles que são usados como paradigma da forma cinema pragmaticamente aceita pelo senso comum, em detrimento a formas mais desafiadoras do habitus13, no sentido preconizado por Pierre Bourdieu. A arte não só depende da ação dos fatores do meio, mas ao agir de maneira pragmática sobre os indivíduos ela apregoa sua vocação eminentemente social exigindo para ser entendida primordialmente a partir da relação do artista com o mundo e com outros homens. O ser humano pode encontrar brechas nas normatizações, naquilo que está estabelecido e desenvolver um pensamento responsável pelo desvio de normas, sendo que a criação artística e principalmente a experimental, é principalmente percebida como o resultado de um trabalho que abarca o raciocínio responsável pela produção de ideias novas, transformadoras e renovadoras. Observe-se ainda que o fato de que isto também possa ser atribuído a outras formas de linguagem que envolvam algum tipo de criação como o teatro, a literatura, a música, a dança, as artes visuais, a arquitetura, moda, design, etc, corrobora para o reconhecimento da necessidade de um contra-poder, por parte destes atores sociais, visando a reivindicação à visibilidade a que eles tem por direito, expressando suas indignações e depositando esperanças na legitimação de valores e interesses que lhes são próprios. Organizar-se em grupos, reunir pessoas que compartilham interesses em comum, viabiliza as múltiplas interferências, as conexões, a interatividade, a disseminação de informações. Este estado de coisas dá margem sobretudo para a emergência e consolidação de um posicionamento político de confronto às relações de poder constitutivas das instituições da sociedade como um todo e também do Estado14. O mediador na produção de sentido: curadoria/crítica /criação Críticos de arte, curadores e os próprios artistas são auxiliares na divulgação da produção de sentido da obra de arte. Curadoria em princípio é uma atividade pedagógica, ela pode atuar como ampliadora da potência de sentido investidas nas obras pelos seus autores. Desenvolveu-se na medida em que se aprendeu a explorar e a utilizar a percepção estética: orienta e educa artistas e público, explica a natureza do fazer artístico, estabelece as regras da boa arte, escolhe critérios de apreciação, torna aspectos subjetivos em aspectos coletivos e partilhados e, portanto mais objetivos que reflitam o pensamento da época, ajuda o desenvolvimento da sensibilidade e preserva para o futuro os valores estéticos. Seleciona os artistas e as obras. Legitima. Ao proferir discurso sobre a obra lhe atribui um sentido e um valor cultural. Ao definir a ideia ou ponto de vista que vai presidir a exposição, selecionar os artistas e os trabalhos, organiza-los espacialmente e, em fazendo este ato, colocar-se criticamente sobre as escolhas efetivadas, o curador assina e assume a atitude autoral de uma visão pessoal, confere visibilidade ao pensamento teórico que serve de base à mostra, proporcionando uma legibilidade potencialmente intrínseca às peças que a constitui. Como a produção de sentido chega até o público, eis o cerne da questão. Isto não significa que esta leitura deva ser unívoca em seus significados, como seria o caso de uma dimensão por demais esclarecedora, seria menos aportar explicações e mais tratar de ampliar na mente do público o próprio mistério da obra. Se a arte sempre esteve associada à utopia e embora estes sejam dois conceitos imbricados, diferenciam-se no fato de que a utopia almeja um lugar, enquanto a arte é sempre um outro lugar, nunca estando onde pensamos encontra-la, e, como dizia Jean Dubuffet, que ela (a obra de arte) permaneça, inclusive para seu autor, sempre uma questão e não uma resposta15. Em seu papel de mediador, ativo partícipe de associações cineclubistas, Yann Beauvais organizou manifestações sobre artistas e escreveu uma prolífica fortuna crítica sobre a produção experimental que se desenvolve há décadas em várias partes do mundo, reconhecendo sobretudo que o cinema experimental não cai na armadilha de hierarquizar suas tendências16. Em dias atuais haveria um reconhecimento de que os fatores que regem nossa percepção são complexos, uma vez que nos referenciamos simultaneamente a partir dos cinco sentidos, embora incorporemos uma certa tendência a considera-los separadamente, contrariando o próprio funcionamento do nosso corpo. O caráter multitudinário e eclético de práticas abraçadas pelos artistas do experimental, como não poderia deixar de ser, entra completamente em consonância com o momento atual, onde o que se verifica é, nas palavras de Umberto Eco17, referindo–se ao gosto, um sincretismo total, uma politeísmo irrefreável, ao qual devemos nos submeter, devedores que somos da crise de modelo gerado pelo mass media. Lidar com o presente, com o que está acontecendo, significa estar muito atualizado com a diversificada e dinâmica cena, onde a contemporaneidade18 se desdobra então vertiginosamente, como se fosse formada por caminhos labirínticos projetados como corredores de espelhos, e repercute na sociedade inteira, em escala global. Ela nos reconduz assim em direção ao conhecimento do nosso ser paradoxal, e a revelação das formas, nos aproxima da revelação da consciência, constituindo-se como a substância do nosso ser individual, do ser coletivo e da relação entre um e outro. Autor de uma produção fílmica considerada eclética, Yann Beauvais imprime uma dialética de natureza identitária entre o mesmo e o outro, incluindo neste processo questões que lhe são essenciais19. O acompanhamento e análise de processos criativos permite que se fale de um autor (ou de uma autoria) e assim constituir-se na relação com outros. O exercício da crítica é metalinguístico, constitutivo de si mesmo, constrói sua linguagem da própria linguagem, e neste processo alguns autores podem assumir uma visão mais distanciada, panorâmica sobre o objeto a que se referem, outros o analisam de modo mais íntimo, a partir de um embate mais visceral e o reconstroem. Não posso deixar de referendar aqui que quando leio os textos de Yann, percebo primordialmente no trabalho de sua escrita a alma e a percepção fundamentalmente do artista, isto é, suas palavras estão sempre em fusão com o trabalho plástico ao qual a reflexão escrita se refere, ela não se distancia do mesmo em nenhum momento, e a impressão que eles me dão é a de uma relação muito íntima com o universo do qual tratam, uma visão por dentro, tributária de quem conhece a fundo o processo de fazer filmes. São didáticos em certos aspectos, por certo, na medida necessária para contextualizar a proposta dentro de uma tendência mais abrangente, mas principalmente dando conta de uma vivência em seu caráter mais fenomenológico, muito pessoal, como se o objetivo principal não estivesse no fruto da experiência (a obra) e sim na própria experiência, no ato em si. Suas análises geram uma fortuna crítica sobre o experimental que traz por objetivo o desejo de criar uma possibilidade para que a reflexão sobre a obra tome parte deste processo de gerar um pensamento sobre o artista, sobre sua trajetória, sobre a atualidade das questões colocadas pelo trabalho do autor. Publicados seja através de livros, catálogos ou revistas, eles transformam a exposição em um discurso, perenizam a obra referenciada para além do seu caráter efêmero de acontecimento e transformam a reflexão neles contida em instrumento científico de pesquisa, ampliando o contato do público com este universo marginalizado. Não é surpreendente que ao longo da minha apreensão do seu caminhar, pude perceber o compromisso e o engajamento com o fazer – em todos os sentidos – que estiveram sempre associados em sua relação com o audiovisual através do cinema experimental. Tudo se passa como se ele nunca deixasse de evidenciar que o foco de sua trajetória se revela na consciência de abarcar os meandros desta produção em vias de realizar algo, fazer no sentido operatório de criar, sim, mas também no sentido de instaurar a diferença, ser relevante social e esteticamente, criando, trazendo à tona questões socialmente importantes, atuando na difusão dos aportes trazidos pelas obras de artistas no qual acredita, trazendo sua verdade para sua arte e sua vida.

* * Doutora em Artes Plásticas e Ciências da Arte pela Université de Paris 1 – Panthéon Sorbonne, professora de Artes Visuais (Estética e Historia da Arte) e da pós-graduação em Letras e Linguística (intersemiose) da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, curadora e artista plástica.

 

NOTAS

1 Apesar da emergência da tecnologia digital e da internet, terem, sem dúvida facilitado tanto a produção de filmes experimentais quanto a sua divulgação, os índices de aceitação acadêmica, institucional, de mercado, e principalmente por parte de um público não especializado, ainda é rarefeito em seus espaços de visibilidade, e fruição, quando comparado ao cinema hegemônico, como será abordado mais adiante.

2 Desde a Antiguidade, nos diz a autora, o verbo < ler > também compreendia as noções de recolher, colher, espiar, reconhecer os traços, tomar, roubar, (p.120), in Kristeva, J., Sèméiotiké: Recherches pour une sémanalyse, Paris, Seuil, (1969) 1978, coll. points.

3 O anel de mœbius é uma figura topológica por excelência, que inicialmente se apresenta com a aparência de constituir um espaço limítrofe entre dois lados distintos; isto porém revela-se como sendo ilusório, pois a atenta observância desta aparente descontinuidade faz emergir a constatação de uma situação oposta, como se fosse um presente contínuo, paralela a si mesma.

4 Foi um ciclo de 12 encontros entre abril e novembro, que versaram sobre diversos artistas como Peter Kubelka, Cécile Fontaine, Lisl Ponger, Su Friedrich, Mark Morrisroe, Guy Debord, Daniel Eisenberg, Trinh-minh-ha, Fiona Tan, Chen Chie-jen, José Agripino de Paula, isoladamente, agrupados e/ou referenciados em torno de temas/assuntos como filmes de viagem, autobiografias, noções do íntimo e do privado, sociedade do espetáculo, fotografia polaroïd, memória coletiva e individual, questões do corpo, New Queer, AIDS, pós-colonialismo, as materialidades e a dimensão gráfica no cinema. Através da aliança entre o B3 e a instituição, trouxe pela primeira vez ao Brasil o artista Malcom Le Grice para uma palestra, além de promover uma exposição de alguns dos filmes do conhecido cineasta britânico.

5 Foram ao todo uma coletânea de doze textos sobre Jonas Mekas, Andy Warhol, Edson Barrus, Malcom Le Grice, Su Friedrich, Jürgen Rebel, Paul Sharits, além de textos que versam sobre a relação com a música, certas tendências do cinema experimental, questões da espacialização da imagem, found footage, e o diário filmado, traduzidos do idioma francês e que devem ser objeto de publicação pela Editora Universitária da UFPE sob o título Cinema experimental sob o olhar de Yann Beauvais, em breve.

6 O crítico, historiador e documentalista Jean Mitry entende como experimental o que é associado aos grandes movimentos artísticos do cinema experimental europeu mudo. Hoje existe mais ou menos um consenso em torno do qual o experimental se opõe ao cinema majoritário. Cinema underground é uma denominação que ficou associada ao cinema da escola de Nova York dos anos 60. No Brasil da década de 70, o movimento contracultural recifense “udigrudi” retoma e transforma ironicamente a expressão inglesa e a situa em um outro espaço político, social e estético, envolvendo principalmente a música, mas também atingindo teatro, artes plásticas, produção textual, cinema, artesanato, etc.

7 André Parente, A forma cinema: variações e rupturas, In: Maciel, Kátia (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro, Contra Capa, 2009 (p.23-47) Não devemos, portanto, permitir que a ‘forma cinema’ se imponha como um dado natural, numa realidade incontornável. A própria ‘forma cinema’, aliás, é uma idealização. Deve-se dizer que nem sempre há sala; que a sala nem sempre é escura; que o projetor nem sempre está escondido; que o filme nem sempre se projeta (…); e que este nem sempre conta uma história (p. 25).

8 Présentation de Jonas Mekas, na ocasião de uma exposição no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB)

9 Roman Jakobson, apud Samira Chalub, A Metalinguagem, SP, Ática, 2005, col. Princípios. (p.16-17)

10 René Passeron, Pour une philosophie de la création, Paris, Klincksieck, 1989. Este autor retomou a ideia de Paul Valéry sobre o estudo da gênese do poema, e o ampliou para todas as artes considerando-o como o conjunto de estudos que levam à instauração da obra, a ação dinâmica entre artista/obra durante a realização da mesma, opondo-a à compreensão no campo da Estética, que preocupa-se com os efeitos de recepção da obra terminada. No Brasil, Cecilia Almeida Salles aborda a ideia de construção da obra de arte a partir dos materiais ou índices de várias naturezas que a viabilizam: “É a ação, mediada pelo pensamento e pelas sensações, que faz a obra se desenvolver” (p.116). Ver Crítica Genética: fundamento dos estudos genéticos sobre o processo de criação artística, SP, EDUC, 2008

11 op.cit. nota 8

12 A este respeito ver um dos textos de Yann sobre o artista Jürgen Reble intitulado O suporte instável (tradução nossa)

13 Pierre Bourdieu, A Dominação Masculina, Rio de Janeiro, Editora Bertrand Brasil, 2003, (p 64).

14 O termo contra-poder é utilizado pelo sociólogo Manuel Castells, que analisa este fato à luz da emergência das redes sociais, in Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet, Rio de Janeiro: Zahar, 2013 (p.10)

15 Le Thorel-Daviot, Pascale, Petit Diccionnaires des Artistes Contemporains, Paris, Larousse, (1996) 2000. (p. 84)

16 Yann Beauvais, apud Jean-Michel Bouhours, in Nœuds d’images, in Le cinema décadrée, Paris, Centre Pompidou, 1999

17 Umberto Eco, A História da Beleza, tr. Eliana Aguiar, Rio de Janeiro, Record, 2004 (p.428)

18 Maria do Carmo Nino, Considerações Estéticas sobre o Modernismo e Após, (comunicação oral, não publicada), 2009

19 Dominique Noguez, Éloge du Cinéma Expérimental, Paris, Paris Expérimental, 1999. (p.214)