O que o cinema experimental (Pt)

1 dezembro 2010 12 Festival Internacioal de Curtas Belo Horizonte, Palacio das Artes,

Curso de Introdução ao Cinema Experimenta l(1)

Considerar o cinema como uma prática artística emancipada de todo controle, afirmá-lo desdobrando as particularidades que o médium esconde, compreender e esclarecer a singularidade de atuar que ele permite, examinar as modalidades de fabricação, apresentação e distribuição dos filmes – aqui encontramos algumas das particularidades que caracterizam este espaço artístico conhecido como cinema experimental. Tal prática responde de maneira crítica ao cinema dominante, tanto pelas formas como pelos conteúdos, pelos meios de produção e as condições de exposição (distribuição e espaços de exibição). Assim definido, o cinema experimental é um cinema que abole as regras e normas do discurso cinematográfico clássico : é este o seu caráter transgressivo ou subversivo, se preferirmos o termo pelo qual optou Amos Vogel (1921), o extraordinário fundador-líder em New York do ’Cinema 16’ (1947), antecessor do « Cineastas Coop. » (1962), que antecipou, ele mesmo, o agora famoso Anthology Film Archives « (1970), ambos fundados pelo cineasta-ativista Jonas Mekas (1922)). No entanto, tal prática, encontra-se marginalizada no domínio da produção de imagens em movimento, é hoje uma forma forçada de invisibilidade. Muitas vezes, certamente, reconheçe-lhe-se uma relevância histórica, mas é então para despojar melhor as suas produções contemporâneas, as quais não parecem frequentemente corresponder ao discurso crítico do momento. O cinema experimental contemporâneo partilha com outras formas de arte viva, a particularidade de “ ilustrar-se pela sua ausência « , claramente um problema nas redes de difusão que detêm hoje o consenso estético. Como tal, ele deve se (re)definir constantemente. Por isso, é também, cada vez, simultaneamente combate e resposta. Em conseqüência, ’fazer’ cinema experimental, é reconhecer a vitalidade de uma prática menor e lhe oferecer o acolhimento de um desejo que a amplia e renova a possibilidade. Entende-se, para toda a área do cinema, a necessidade de um filme que herde explicitamente do movimento específico das vanguardas , conforme o desejo, formulado nos anos trinta, por Len Lye (1901-80) e Moholy-Laszlo Nagy (1895-1946). Fazer cinema experimental , é ser o agente desse cinema. E ser cineasta em tal campo é encontrar constantemente formas de gerar estratégias de resistência, para evitar a sua aniquilação. É também inventar as condições de uma partilha pública, diferente a cada vez, qualquer que seja a forma. Fazer cinema experimental é finalmente refletir, ao mesmo tempo, sobre uma história subavaliada, mas também, interrogar as formas desnarrativas (isto é, que rompem com os padrões históricos de narração no cinema) de um suporte linear : o filme.
Eu apresentarei aqui a performance de Hollis Frampton : uma conferência

Este espaço cinematográfico específico desenvolveu-se principalmente na América do Norte nos anos 60 e, como marcou tão bem Annette Michelson (crítica e co-fundadora da revista de October, e que nos anos 60, abriu espaço ao cinema experimental na prestígiosa revista Artforum), « A produção de cinema independente nos Estados Unidos se centra na idéia de transgressão, duplamente definida como uma celebração do erótico e a produção (antes restrita) de filmes fora do sistema industrial. » Entretanto, existe fundamento encontrar suas premissas a partir do cinema surrealista (bem como os seus seguidores), ou seja, neste cinema que fomentou a « derrota » da narrativa linear e cronológica, prejudicando ao mesmo tempo o acordo tácito entre o narração e personagem. Detecta-se a mesma coisa nos filmes Letristas de Isidore Isou (1925-2007) e Maurice Lemaitre (1926) e nos filmes situacionistas de Gil Wolman (1929-95) e Guy Debord (1931-94). Trabalhando com outros registros cinematográficos, todos os seus filmes não têm tanto por característica a forma da narrativa (que, foi pelo menos pervertida, encontrou-se, ao mesmo tempo a presa designada da crítica tradicional), mas o questionamento das formas de apresentação deste objeto que é o cinema, em seu uso industrial. Trata-se, portanto, de interrogar “a sessão”, bem como a configuração da relação induzida pelo espaço físico que é a sala, ou ainda as modalidades da gravação do suporte. Note-se que essa crítica é contemporânea dos happenings, e prenuncia o surgimento do expanded cinema (ou « cinema expandido », que incorpora a atualidade de uma performance durante a projeção – essa apresentação pode recorrer as múltiplas telas, ou as outras disciplinas artísticas), em seu questionamento dos elementos da projeção. No entanto, esses diferentes momentos do cinema experimental não são puramente político e militante : frequentemente eles prestar muita atenção ao trabalho da forma cinematográfica, explorando ou expondo zonas confidenciais, pois deriva em áreas urbanas sem objeto (como lotes de terrenos vagos).

O filme experimental têm um outro aspecto, transversal e recorrente : um interesse constantemente afirmado pelos corpos e suas capacidades muitas vezes impossíveis de antecipar. Isso traduziu-se primeiro, nos anos 1920, por um grande interesse na mecânica do corpo. O corpo-máquina se exibindo então já na tela, através da fragmentação e a redução dos corpos à alguns movimentos repetitivos. Elaborando assim um paralelo entre corpo e máquina, os exemplos mais marcantes do gênero continuam a ser o Ballet Mécanique (1924) , de Fernand Léger (1881-1955) & Dudley Murphy (1897-1968), e Impacience de Charles Dekeukelaire (1905-71). Encontra-se nos filmes de Ed Emschwiller (1925-90), este fascínio pela “maquinaria” corporal, mas apreendida segundo outras modalidades estéticas e ideológicas : saída do corpo-máquina, em favor de uma cosmogonia que só a imagem do corpo parecia-lhe capaz de invocar.
Mas este dinamismo encarnado, dispositivo bem lubrificado,, eficiente, e cuja finalidade é precisamente a fábrica de corpos mecânicos (The birth of a Robot, 1938, Len Lye), não é em nada idêntico aos que apresentam os filmes de Kurt Kren (1929-97) e Otto Mühl (1925), relativas às performances dos acionistas de Viena. E quanto às questões suscitadas pela representação da sexualidade, ela será, cada vez diferentente, o fato de cineastas como Stan Brakhage (1933-2003) e Carolee Schneemann (1939, na qual será uma tematização explícita e direta, autobiográfica), Taka Iimura (1937) ( a quem sera consagrada uma retrospectiva Galerie du Jeu de Paume em maio proximo), ou Alfredo Leonardi (1938, mais indireto, desviado). Mais perto de nós, com Kurt McDowell (1945-1987), Barbara Hammer (1939) , Jan Oxenberg (1930) ou Hiroyuki Oki (1964), podemos ver uma problematização explícita das questões relacionadas com a representação / visibilidade da sexualidade gay (segundo perspectivas de abordagem necessariamente plurais).
No entanto, o que todos têm em comum é, como se vê, o trabalho de lidar o corpo com a questão da representação e examinar os seus termos, uma vez que afeta os corpos. E o que se resulta é a aposta na crise deliberada destas noções sempre espinhosas que são o « público », o »privado », o’intimo… Ao fazer isso, todos trabalham o que é possível mostrar : nascimento, prazer, gozo, saúde, movimento, dor, morte, decomposição. Assim, nota-se que eles enfrentam, são sempre as lógicas ou as conduções tradicionais de representações, necessariamente mais organizadas.

Pela própria escolha do tema, e neste caso as representações da sexualidade dominam : o homo-erotismo em Jean Genet (1910-86), Kenneth Anger (1932), Gregory Markopoulos (1928-92), Andy Warhol (1928-87 ), Derek Jarman (1942-94), Lionel Soukaz (1953) ; afirmação de suas sexualidade s de mulheres com Carolee Schneemann (1939), Valie Export (1940), Bárbara Rubin (1945-80), Barbara Hammer (1939). Para outros ainda, é a possibilidade de mostrar uma sexualidade onde encontra-se imediatamente problématizada, ou mesmo evacuada, a norma imperativa do orgasmo (« Divirta-se ! »). Pois, assim como o desafio da reprodução (da « espécie ») é o culto dedicado ao corpo eficiente (até no erotismo e suas várias representações cinematográficas) que se encontra aqui radicalmente perturbado, ou melhor, deslocado – tanto por um Jack Smith (1932-89) como José Rodriguez Soltero (1943-2009). Não é de estranhar, portanto, que este tipo de percurso terminou por desentupir sobre uma tematização explícita das noções de « gênero » (gender), como um atributo triplo (e tripla atribuição) : social, histórica e cultural. É esta tematização que identificamos por exemplo, em alguns filmes Matthias Müller (1961), ou Mike Hoolboom (1959) ou Wayne Yung (1971)

Para outros, a câmera se torna uma prolongamento do corpo, como sua possível extensão. Os cineastas nãofazem então grande caso da fixidez do enquadramento, e os movidos são integrados. A fidelidade ou a conformidade da representação à coisa filmada não é então mais uma prioridade, o que é tanto visado, é sobretudo a imediatez e a espontaneidade da reação em relação ao que é filmado. Esta indiferença frente a técnica põe em discussão o primado da imagem sob controle, mais ou menos estéreis. O ato da filmagem como apropriação da representação efectua-se então através de uma afirmação das possibilidades que oferece ao mesmo tempo o domínio do instrumento-câmara e deste suporte que é a fita. Submetida a tais tratamentos, é a relação subjetiva à coisa filmada que domina : Apresentação da ’visão’(no sentido Inglês), singular, do cineasta. Historicamente, tal postura é encontrada primeiramente em Marie Menken (1909-71) através de seus desenhos e jornais filmados, que privilegiam todos uma grande liberdade de movimento de câmera, tanto quanto a espontaneidade da tomada de vista. Daí procede o que poderia ser chamado de economia do acidente, que não é sem entrar em ressonância com o percurso ademais diferente de um John Cage (1912-92). Na verdade, ela é uma das primeiras cineastas que trabalham a câmera tida na mão, liberta do seu tripé, muitas vezes abandonando o trabalho de montagem (para o benefício de uma qualidade de leveza, característica da montagem direta na câmara). Lembramos que a câmara “portada” igualmente permitiu a realização de belas seqüências de o Homem da câmara (1929) de Dziga Vertov (1896-1954), assim como, na admirável viagem efectuada por Oskar Fischinger (1900-67) através da Alemanha em Munique Berlim Wanderung (1927). Mas com Marie Menken (e os cineastas do final dos anos cinqüenta), a câmara torna-se independente, e facilita o surgimento de um método em que a prioridade imediata é atribuída à tradução de uma disposição sensível.

Esta liberdade, conquistada como se vê, encontra-se aumentada para Stan Brakhage, em seu « cinema visionário ». Seus filmes, de carater intimista, paradoxalmente, também assumem dimensões quase mitológicas. Window Water Baby Moving (1959) Dog Star Man (1961-64), bem como nas Canções (1964-69), faz desabrochar sobre a superfície da tela visões hipnagógicas e outras percepções ópticas internas, convencionalmente ocultadas, ou mesmo banídas pela cinematografia clássica. O suporte destes objetivos é então o filme doméstico, « amador », por assim dizer : home cinema. Privilegiando o borrão, trata-se de jogar com oposições cromáticas intensas, confrontando ao mesmo tempo as texturas : o grão da emulsão com planos de tintas coloridos ou as estrias, a qualidade das diferentes emulsões, o uso de imagens negativas, etc. Carolee Schneemann por sua parte, em Fuses (1964-67) ou Plumbline (1968-72), produz tratamentos gráficos que são semelhantes aos descritos anteriormente, mas para aplicá-los à suas seqüências de jornais íntimos. Encontramos de forma semelhante, nos jornais filmados por Jonas Mekas, esta libertação em relação a exposição « correta ». Porque o que conta nele é ao mesmo tempio a dimensão afetiva e o estado no qual se encontra no momento em que filma – quer se trate de produzir um plano de curta duração, ou uma seqüência de vários minutos. Em todos estes cineastas, a filmagem não responde à uma economia da rentabilidade, ela torna-se momento de “revelação de um sujeito” através das imagens que este regista. Esta descoberta será ainda mais eficaz do que ela é, tanto nele como em Jack Chambers (1931-78), acompanhada de um trabalho sobre as lembranças e a formação de uma memória subjetiva, quem procura assim inscrever-se no fluxo da história. em Lost, Lost, Lost (1949-76) ou Reminiscences of Journey to Lithuania (1971-72) por exemplo, são as lembranças ligadas à comunidade lituana de Nova Iorque que conduzem Mekas a se perguntar de seu pertencimento a um território, um país. Neste filme, ele confronta o seu deslocamento forçado (e, conseqüentemente, seu não-pertencimento efetivo a um país) à forte aderência que um Peter Kubelka (1934) assume em relação à Áustria. Jonas Mekas, ele, não se aparenta nem saberia pertencer à nada ; exemplarmente, ele assume o caráter inegável da sua situação de exilado – cineasta
cineasta que persegue de filme em filme os ecos de um país distante e uma infância perdida (cuja procura influenciará sobre a percepção de Nova Iorque da qual seus filmes testemunham ao fio do tempo).

Esta maneira de encarar o cinema como processo de implementação de subjetivação permitiu a realização de um grande número de filmes, e especialmente quando eles usam o pequeno formato como o « 8 milímetros » e « Super 8 ». A facilidade, a maneabilidade e a extrema flexibilidade do instrumento são exemplares desse modo de filmar todos os aspectos do cotidiano, até nos seus encontros mais imprevisíveis. É por exemplo isso de que soube tirar proveito, e magnificamente, um Teo Hernandez (1939-94). Mas estas mesmas qualidades também facilitaram em certo sentido o reconhecimento de um campo específico de investigação : a de uma reavaliação do « íntimo ». E é a partir da exploração da riqueza irredutível inerente às imagens ditas « de caráter privado » (tornados documentos visuais desde o advento da fotografia) que tal trabalho não deixou de comprometer-se.
Essa irrupção do íntimo como questão trabalhada, vale lembrar aqui que só recentemente ela se tornou prerrogativa do Cinema (com letra maiúscula, industrial pois), como do vídeo contemporâneo. No entanto, o que acabou sendo marcado sob a forma de dominação do íntimo como “objeto dardo « (Duchamp), tem a sua fonte (que é muitas vezes ignorado) nos trabalhos realizados durante o 1960-1970 por alguns artistas- performers. Aqui é o nome de Vito Acconci (1940) que, sem dúvida, vem em primeiro lugar entre os que o conceito de ritual foi constitutivo da ação, ela mesma produzida para registro. É então sobre suas rotas que se inscrevem filmes de Gina Pane (1939-90), Christian Boltanski (1944) Michel Journiac (1943-94), e de uma grande parte da « escola do corpo » , francesa, anos 70 (da qual Dominique Noguez tem sido a voz teórica por muitos anos).

Estes filmes-performances se diferem marcadamente de uma outra corrente decisiva do cinema experimental, o que lhe permitiu superar inclusive a noção de personagem (entendido como apoio psicológico da narrativa). E esse distanciamento deliberado efetuou-se em beneficio da única atividade do ator. Trata-se então de afirmar o papel de um performer, criando eventos, encontros, para a câmara (pensamos aqui, mas muito diferente em relação aos termos, nos filmes-performances de Bruce Nauman, Gordon Matta-Clark e Richard Serra). Mas esses atores no asumen então mais un papel : eles são o papel. E a questão não consiste mais em saber se são « boas » ou não. O que está em jogo, é este acontecimento do qual são ao mesmo tempo agentes e consequência : situações diárias e domésticas ;
situações que misturam mundos até então separados (inocência, droga, sedução, travestismo, queer, sexo, boêmia…). Situações que visam abolir a fronteira entre o « mundo da arte » e o da « vida ». Esta crítica da separação pela anexação do pessoal, e seu rebatimento no campo estético-político (dos mundos e das representações) pode ser encontrada tanto na produção feminista dos anos 70 (Adrian Piper (1948), Jan Oxenberg) como em certas trajectórias da arte contemporânea. Os dois instigadores de tal inversão de prioridades entre “autor” e “intérprete” ao cinema foram, sem dúvida, Taylor Mead (The Queen ofSheeba Meet The Atom Man (1963), Tarzan e Jane Regain sort of. .. (1963) Che (1968)) e Jack Smith (Camp (1965), Blonde Cobra (1959-1961)). Estes atores são para o cinema o que os happenings são para a pintura : uma terceira via. Diretos, crus, eles também são mais severos no uso que eles fazem deles mesmos – sábia dosagem feita de amadorismo fingido e do domínio perverso de seus meios. Não poderíamos aqui muito agradecer a esses recursos, pois se mantiveram a marca de suas trajetórias extraordinárias. Mestres incontestáveis da confusão de gêneros, eles não pararam de prejudicar a imagem do homem vencedor. Fazendo da ambigüidade uma arma perigosa, é um humor cáustico (da anfetaminas, mais exatamente) que alimentou indefinidamente cada uma das suas intervenções na tela – quebrando a linearidade de uma drama turgia pré-fabricados deliberadamente. Esta quebrada de narração se encontra nos filmes Hitler 3° Mundo de José Agrippino de Paula, e menos pronuciadamente nos filmes de Yvan Cardoso…
Acrescentamos aqui que é precisamente a capacidade inconcebível de tais personagens para apropriar-se de um filme (ou uma peça) que justifica-se o uso de stars de todos os matizes, improvaveis ou não, no cinema Warholiano.
Trata-se então de autorizar tacitamente cada um a tirar a (cobertura à ele ?),
de acordo com regras estabelecidas e logo minadas pelo próprio Warhol, a fim de permitir o surgimento de uma alteridade na imagem composta (Sreen Tests de 1963-1965, Henry Geldzahler 1964, Lonesome Cowboys, 1968).

Através da documentação de suas vidas, cineastas como Andrew Noren (1943), Saul Levine, Ming Yu Lee (1980), Joseph Morder (1949) ou Charlotte Anne Roberson (1949), à sua maneira igualmente puseram-se questões de cinema. Cada um a seu modo, eles investiram no campo da narrativa, através da restituição dos acontecimentos do quotidiano. Onde encontramos o surgimento da intimidade como assunto de um filme, e onde constata-se de novo que se trata de um espaço de questionamento em obra. Qualquer um que procure entender o que motiva a freqüência da representação da homossexualidade (masculina ou feminina) no cinema experimental não podera fazer economia deste desvio (eo mesmo vale para as questões das identidades e das minorias). Pensa-se naturalmente aqui em Jerry Tartaglia (1950), Friedrich Su (1954), Benning saddie (1973), Bordowitz Gregg (1962), Pratibha Parmar (1955), Trinh Minh-ha (1952), Lizzie Borden (1951), Isaac Julien (1960), Birgit Hein (1942) e Richard Fung (1954) …

Se definíssemos diferentemente o cinema experimental, então surgiria outro corpus, outras metodologias na abordagem da ferramenta, que beneficiaria a análise dos meios e dos elementos constitutivos do aparelho. Isso não significa que as abordagens divergentes não se cruzem nem se alimentem , muito longe disso. Simplesmente parece-me que o enfoque histórico deste corpus permite delimitar mais facilmente linhas de força, de onde podemos libertar as categorias ou « tipos » de filmes. Desta abordagem mais analítica, emergem naturalmente a maior parte das figuras das vanguardas históricas, aquelas dos anos 20 e 30, tanto quanto as dos anos 60-70. Breve exame.
Se a primeira vangarda questionava a possibilidade de construir um « cinema puro », um « cinema integral », emprestando seus conceitos e ferramentas para analisar a música ea pintura abstrata, não é mais o caso para a dos anos 60, que questionou todos os elementos constitutivos do filme : da projeção à distribuição, passando pela apresentação.
Trata-se pois para os artistas dos anos 20, que participam do modernismo, de constituir uma nova linguagem de acordo com modalidades que emprestam os seus esquemas para a compreensão da abstração, sobre o modelo do discurso musical e da pintura não-objetiva, da poesia ou do maquinismo. Esta elaboração passa pela afirmação de algumas qualidades relativas à este médium e o que o distingue de outras suportes.
Os cineastas e artistas dos anos 20 cuidaram de elaborar novas possibilidades perceptivas. Entre elas, selecionamos aquelas que dizem respeito à questão de luz e ritmo. Devemos ter em mente a célebre conferência de Hollis Frampton (1936-1984), intitulada Uma Conferência (1968), pela qual se liberou « da luz qualificada » que o cinema é inicialmente, lembremos o seu exemplo a respeito da filme como fita, cujo assunto “pode às vezes ser Lana Turner” e que, “à tal momento, mostrou-se sensível à luz”. Agora, conservando um vestígio fiel dos lugares onde havia, ou não, da luz, ele modula o nosso raio luminoso, opera subtrações, há um vazio, o qual toma para nós a aparência, por exemplo, de Lana Turner « …

Para alguns cineastas, tais Viking Eggeling (1880-1925), Hans Richter (1888-1976), Walter Ruttman (1887-1941), Oskar Fischinger e Len Lye, a questão do deslocamento e da circulação de formas no espaço do quadro é concomitante àquela de suas transformações. Essas transformações convocam soluções musicais a partir das quais nós fazemos evoluír formas no tempo, dentro de um conjunto de variações, horários e padrões ou temas cruzados.
A utilização de conceitos musicais facilita o desenvolvimento filmes que trabalham relações sinestésicas. Elaboram-se assim das obras que trabalham o deslocamento de formas orgânicas, em função de linhas mélodiques (como seria uma pintura no tempo de Walther Ruttmann, ou por meio de formas geométricas, de acordo com uma rítmica e uma composição contrapunctique precisa com Viking Eggeling e Hans Richter). Tais abordagens privilegiam as noções de velocidade e de síncope, a fim de estabelecer os elementos de uma linguagem específica. Nós encontramos o mesmo controle tocando a qualidade de abordagem sinestésica nos Estudos (1929-1934) em preto e branco de Oskar Fischinger, quem vêem evoluir arcos e linhas, transpostas cinematograficamente. Estas investigações visam evidentemente a constituir o cinema como prática artística autónoma, de acordo com o desejo modernista, emancipado dos imperativos de dramaturgia e de encenação herdados do teatro clássico ou do referente literário, em prol de uma afirmação da visualidade. Quanto ao campo musical e usar seus recursos, eles constituirão na história do cinema experimentais um dos motores mais férteis, propício à criação de obras singulares.

A criação de tal arte, que se quer « absoluta », encontra-se em cineastas que, como Wagner ou Kandinsky, promovem uma espiritualidade da prática artística,
concebendo a obra como etapa desta elevação para um “outro lugar”, desejado como ninguém “aqui” (James Whitney, 1921-82 , Jordan Belson, 1926, ou em um Harry Smith,1923-91).
A defesa deste “cinema absoluto” explica a maior parte das pesquisas teóricas destinadas a estabelecer o cinema de vanguarda como o único “verdadeiro” cinema.
O estabelecimento de tal programa destinado a constituir uma nova arte de ver. Assim à questão do modernismo e da apologia do maquinismo em Eugène Deslaw (1900-93) ou Dziga Vertov, substitui-se uma corrente mais fotográfica, mas quase pictórica, impressionista, que favorece a emergência de um cinema poético (Paul Strand, 1890-1976, Germaine Dulac, 1882-1942). É este cinema que apagará a voz de um registo mais realista, proximos dos documentários, e fortemente influenciados pela escola russa (Eisenstein, Vertov, Poudovkine e Schub). Pensamos, naturalmente, em Joris Ivens (1898-1989) e Laszlo Moholy-Nagy (1895-1946), mas também em Erno Mezner (1892-1942), Jean Vigo (1905-34) et John Grierson (1898-1972). Este cinema, não lhe exclui em nada uma relação ao espaço literário. Ele incorpora alguns elementos : fazendo da palavra um sinal, uma imagem (em Léger e Vertov), mas também jogando com o fora-de-campo que implica a presença da palavra na tela (Man Ray, 1890-1976) Marcel Duchamp (1887-1968 ))… Estas investigações estimuladas pela efervescência e trépidation da época esclarecem novos territórios que serão reexaminados nos anos 60. A presença da letra, da palavra será constante neste cinema depois dos anos 20 (quer se trate de Joseph Cornell 1903-72, de Bruce Conner 1933, Maurice Lemaitre, ou Hollis Frampton, de Michael Snow, Peter Rose1947, Yvonne Rainer 1934, Paul Sharits (1943-93), Joyce Wieland 1931-96, ou Jennifer Burford 1952). A inclusão da letra no espaço cinematográfico abre o campo a um uso heterogêneo, que encontra-se no recurso trans-histórico ao found footage. O cinema de found footage é também um gênero em si : o cinema de prélévements, de recuperações que, radicalmente, faz a economia da filmagem e afirma somente a edição como o momento de elaboração (Esfir Schub, Bruce Conner, David Rimmer, Al Razutis, Artur Omar, no Brasil, etc. ..).

Inicialmente, são as questões da luz que predominam e que nos permitem escrever esta outra história do cinema, história que teria por objeto não tanto as relações com o fotográfico como com o cromatismo. Contudo constata-se nestes em filmes uma predominância das relações entre as texturas, o reflexo das matérias (como por exemplo nos filmes de Nathaniel Dorsky, 1943). Estes filmes de cores parecem assim prefigurar um cinema que não relevaria mais da montagem. Então é um processo que, articulando a materialidade do suporte, procura livrar-se da questão da imagem como um reflexo de uma realidade externa a si mesma. Consideremos, então, um cinema que trabalha a dissolução, a perda, dos quais Jurgen Reble (1956), David Sherman (1966) e Cecile Fontaine (1957) Lee Hangjun, Carl Brown (1959) estão entre os representantes mais destacados contemporâneos. Mas ainda existem outras maneiras de impressionar o suporte, por rayograms : raspagens e aplicação direta de cores, marcações sobre a película (era o que concebiam e exploravam Man Ray, Len Lye, Norman McLaren (1914 -87), Dieter Roth (1930-98), Hy Hirsh (1911-1961), Maurice Lemaitre e outros). Estas técnicas diretas são frequentemente utilizadas, bem como a imagem fotografica e são entremeadas com elas para gerar comentários, por adições ou por subtrações usando rotoscopia (Robert Breer, 1926). Elas podem também se perguntar sobre as maneiras possíveis de desdobrar uma arte da luz. (entendido como médium temporal), trabalhando portanto a luz como questão : interrogando o transporte da imagem, ou variando as modalidades da própria projeção.
E esta consideração do fenómeno da projeção beneficia os trabalhos multi telas bem como instalações de cinema que (re) colocam em questão a pertinência da sessão, tanto quanto a sala de cinema como um espaço de pura frontalidade (Linha Descrevendo um Cone, 1973 Anthony McCall). Essas questões abordadas radicalmente nos anos 70 por cineastas como Paul Sharits, Malcolm LeGrice (1940), Ken Jacobs (1933), estão novamente reconsideradas hoje pelas novas gerações que interrogam a natureza do fenômeno de exposição, através da produção de performances cinematograficas (live cinema) (Metamkine, Jurgen Reble, Peggy Ahwesh) ou instalações (yann beauvais, Keith Sanborn ,Thomas Köner). O que importa é a constituição de um fenômeno cinematográfico que analisa o objeto cinema. É a partir de tais questões que os cineastas examinarão o que é, tanto do suporte como da projecção.

Esta abordagem rigorosa nas questões endereçadas ao objeto cinematográfico não é evocar aquelas que colocam os trabalhos (radicalmente diferentes), realizados por muitos artistas e cineastas na área de cinema expandido. De fato, quando os artistas procuram abrir as práticas multiplicando as linhas de fugas e os cruzamentos, eles questionam a natureza da projeção, não tanto como suporte de gravação, mas bem como, suporte de distribuição.
Esta revisão do suporte levou os cineastas a trabalharem os fotogramas, os movimentos dos dispositivos e a própria tela. Determinar o que acontece quando você coloca à prova a cada elemento isolado vindo a estabelecer as condições de possibilidades da experiência cinematográfica em si. Produzir uma realidade cinematografica , é abordar o cinema a partir daquilo que ele pode produzir no momento que é para ser visto. Esta realidade cinematografica, a qualquer momento, não pode ria ser cpreendida fora da experiência da projeção do filme, é o que se revela nos filmes que trabalham a serialização photogrammique (distribuição em ciclos mais ou menos complexos a partir do tecido de fotogragramas ou de seqüências inteiras). Incluem-se aqui Nekes Werner (1944), Rose Lowder (1941) e Takashi Ito (1956), Jean Michel Bouhours, para citar alguns.

Hoje, o cinema experimental não é mais dependente do suporte de distribuição : a pelicula, a sala. Estas preocupações são comuns a muitos artistas contemporâneos que, através do seu trabalho, fazem propostas que questionam os usos do tempo, às vezes impondo uma atemporalidade ao menos encorajadora. Assim, a manifestação dos processos, retardado devido à própria natureza do médium (desvio entre a filmagens, o desenvolvimento, tratamentos secundarios…), encontra-se hoje reintegrado pelos protagonistas do « cinema ambiental ». Estes compartilham com as pratiques musicais contemporâneas (techno, electro-acusmática …) modalidades de intervenções e de registros semelhantes, favorecendo, ao mesmo tempo, uma nova abordagem do cinema experimental, esta arte do movimento.

O uso contemporâneo dos filmes de found footage (Pt)

3 dezembro 2010 12 Festival internacional de Curtas Belo Horizonte, Palacio das Artes

Curso de Introdução ao Cinema Experimental (3)

Apropriação não é uma coisa nova no mundo da arte, a freqüência do seu uso denota sua atualidade. Este uso que quer que se retome uma idéia, um som, uma melodia, um motivo, um tema para lhes desenvolver novamente, trabalha os processo, os tratamentos criando as vezes grandes desvios que é impossível encontrar as origens dos documentos iniciais. Apropriação como gesto artístico tomou uma dimensão que corresponde na multiplicação dos suportes da reproduções mecânicas, magnéticas e numéricas.
O século vinte não tem o monopólio da apropriação como postura artística, mas o fez um uso predominante, que manifesta a sua democratização. O acesso e a circulação dos usos interrogam as redes da difusão, assim como a(s) noção(es) do autor.
O filme de found footage manifesta no campo cinematográfico e mais precisamente no cinema experimental e vídeo cujos usos e através dos quais apropriações e desvios dos objetos encontrados beneficio da reciclagem de pedaços de filmes. Quando se trata de found footage, a gente deve entender simultaneamente : os pedaços, os objetos encontrados assim como um gênero protéiforme : filmes de arquivos, compilações, filmes de montagem…

O recurso a os found footage existem desde o inicio do cinema. Encontramos os traços nos primeiros espetáculos cinematográficos nas quais os feirantes misturavam novos filmes com outros já mostrado em programações anteriores . Porem a reutilização das seqüências por os cineastas diferentes daqueles fizeram os filmes, verdadeiramente generalizou se nos anos 1910 1920 com o usos aos stock-shots (catalogo de seqüências postas a disposição pelos distribuidores ). A pesar do cinema de vanguardia gostar muito destes tipos de apropriações e desvios que o surrealismo preconizava, é so nos anos 50 e 60 que este uso largamente espalhou de acordo com as estéticas letristas e situacionistas, os ensamblagistas e da pop art. Se nos Estados Unidos, Bruce Conner é a figura que fundou este gênero , a sua influencia foi mas tardia na Europa onde outros cineastas tinham trabalhado neste gênero antecipando seu trabalho como Maurice Lemaître citando um clássico do cinema em : Le film est déjà commencé ? (1951), ou ignorando o como Gianfranco Baruchello e Alberto Griffi desviando filmes norte americanos dos anos 50 e 60 com La verifica incerta (1964-65).
Para estes artistas que importava não era a citação mas sim a possibilidade de incluir parte da historia do cinema como fizeram Maurice Lemaître e Guy Debord, trabalhando com as imagens dos meios de comunicação dominante ou seja os filmes comerciais, os filmes educativos e as noticias. Estas apropriações assina a possibilidade que o cinema tem de produzir uma metalinguagem cujas as Histoire(s) du cinéma são um exemplo tardio, e que o Ken Jacobs inaugurei com talento com Tom Tom The Piper’s Son (1969-71). Neste filme, Ken Jacobs revisita um curto metragem de Billy Bitzer de 1905 que ilustrava uma canção infantil na qual Tom rouba um porco, foge-se antes que se come o porco, e que o menino levou uma surra grita nas ruas . O cineasta analisa o funcionamento deste filme a partir de um grande numero de variações que decompõem, isolam, acelerando ou retardando o fluxo das imagens originais. Com cada visão que duplica o trabalho do cineasta, nos descobrimos as potencialidades especificas das imagens em movimento quem emprestam na pintura para a composição das cenas tanto quanto a arte do movimento que produzi a continuidade a partir do descontínuo e do piscal. Encontraremos outra atitude para auscultar a historia do cinema a través o cinema primitivo ; em Visual Essays : Origins of Film 1973-84 AL Razutis questionava diferentes filmes e cineastas para entender filmicamente o que lhes trazem o cinema. (aqui se mostra um trecho desse filme a parte Lumière’s Train (arriving at the station (1980) que annexa os filmes de Lumière O trem chegando na estacione La Ciotat, A roda do Abel Gance, e Spills for Thrills courto americano da Warner Brother).

Este filme é o resultado de uma metahistória, parece-lhe realizar a descrição que Hollis Frampton fez do filme : O filme conta uma infinidade de passeios sem fim nos quais nenhum fotograma não se assemelha de nenhuma maneira, e uma infinidade de passeios onde os fotogramas sucessivos são também idênticos que concebível .
Esta similaridade do fotograma pode explicar o uso da reutilização simples na qual nenhuma modificação foz feita no objeto encontrado que consista na modificação do contexto é a destino da recepção do filme (filme, vídeo, fluxo). Estas estratégias parecem próximas do ready-made do Duchamp ; mais em sua versão assistida. O deslocamento não marca só um desvio , mas ele permite observar os usos e as significações dos objetos e representações dos quais não estamos atentivos. Estas são praticas que se encontram muito nos filmes de arquivos e nos documentários.
Outros artistas pensam no reemprego, na reciclagem dos filmes, dos trailers como uma atividade que permite privilegiar o montagem e autoriza “ fazer surgir coisas ausentes da intenção inicial. Os exemplos não faltam sobre a maneira de alterar o sentido mudando o contexto” . O filme A Movie do Bruce Conner é a reposta do cineasta ao desejo de interromper um filme comercial anexando lhe uma seqüência encontrada numa casa quando ele estava 13 anos de idade ; em qual uma mulher tirava as meias . Em seus ajuntamentos Bruce Conner uso todos tipos de materiais, lixos que ele gostava como fiz Jackson Pollock transformando as suas telas em espaço sujo . Esta mesma relação pessoal nos objetos encontrados preside as escolhas das seqüências que compõem seus filmes de found footage. Se encontra com Chick Strand e Abigail Child uma atitude parecida. “ Em Prefaces, eu queria solicitar as imagens encontradas como recursos, como um dicionário, eu queria destruir nosso banco de dados, quebrando o banco de imagens a fim de redistribuir, reestruturar um campo de impulsão a partir do qual o ato de permutar constitua a troca. A estrutura e densidade, um mosaico .”
A prática do filme de found footage provoca a constituição de coleção, e o recurso nos bancos de dados cujos certos elementos vão talvez incitar novos projetos. Os filmes de Matthias Mueller e Christoph Girardet participam de uma reciclagem temático : as estrelas em Homes Stories (1991)de Matthias Mueller e também em Encuentros entre dos Reinas (1991) de Cecilia Barriga quem evoca uma encontro entre doas estrelas do cinema , um objeto em Telephone (1995), tiros em Crossfire (2007) de Christian Marclay). Só o reciclagem do cinema no sentido expandido este tornado o objeto privilegiado dos cineastas, os amostrados contemporâneos, não se limite a isto. A historia do cinema e de seus clássicos se torna como o território o mais frequentemente amostrado para os artistas da media contemporâneos. Si nos se limitamos ao Alfred Hitchcock a lista é grande : Stan Douglas (Subject To a Film : Marnie 1995), Douglas Gordon (24 Hour Psycho 1993), Les Leveque (2 Spellbound 1999, 4 Vertigo, 2000) nos mostraremos trechos dos dois filmes), Matthias Müller & Christoph Girardet (Phoenix Tapes, 1999) Ichiro Sueka (Seagulls are screaming, « kiss her, kiss hier 1998) para citar alguns. Trabalha com os found footages é trabalhar com a historia de acordo com Keith Sanborm : « Penso ainda em uma coisa, que para as pessoas de minha geração a vídeo encarna o presente eterno, quando o filme encarna a historia. Lhe representa a categoria da memória do qual estava anterior, de uma maneira distinta da televisão e do vídeo. O found footage é uma forma concreta da historia, e trabalhar com este tipo de material da-vos a oportunidade de fazer investigações na historia que sempre foi para mim um assunto fascinante : criar significações da historia o encontrar-lhes criar coisas a partir do material pré existente . Com isto trabalha-se com a grande historia e também com as pequenas historias. E a possibilidade de anexar fluxos de representações que a gente não criava, mais que sofre-se, suporta-se, que atravessa-nos, habita nos, assombra-nos. Como Abigail Child constatava : “ A historia é escrita, retratada por e através a reprodução. Pensem a que conhecemos do far-west norte americano, e quanto vem de Hollywood. Os medias distribuem ficções, que tomamos como o real. O passado ficcional é vigorosamente reconstrói no processo .” Algumas seqüências repetidas de mais, deram formas (o assassinado do JFK para Bruce Conner, Oliver Stone, o 11 de setembro para muitos artistas contemporâneos e anônimos, a pendura do Saddam Hussein para Keith Sanborn, as motins dos subúrbios em 2005 na França , para Alex Chan alias Koulamata , e yann beauvais ) tanto quanto filmes mais clássicos que povoam abundantemente o nosso imaginária. O recurso aos found footages devi uma vingança sobre estes imagens que fascinam-nos e exasperam-nos. O uso dos filmes hollywoodiens fato para Martin Arnold, Peter Tscherskasky, Raphael Ortiz, ou Matthias Müller seja uma maneira diferente mostram uma irreverência para os imagens que povão-nos. “As qualidades plásticas do meu filme, longe do glamour original, são supostas dizer coisas sobre os caminhos que estas imagens percorram para atingir mim. Mais eu queria também entregar-los de uma maneira alterada, mas danificadas, como si não estive suficientemente degradar essas mulheres dominantes fazendo-las como minhas bonecas .” (Home Stories 1990) Estes imagens que fascinam nos sem que os sabemos e cuja apropriação assinara um efeito ‘camp’ põem por obra Nguyen Tan Hoang e Wayne Yung. Com The Big Sleep, Cyriaco Lopes, sublinha a cegueira do gringo na frente de um pais em via de desenvolvimento fazendo gaguejar seqüências.
Então o reciclagem participa da arqueologia, quem consiste a entregar em circulação objetos o representações e isto de uma maneira critica o não. A elaboração que propunha Michel Foucault em redor da noção do documento parece relevante cuja o uso do found footage na medida, ou a arqueologia evoca como uma sociedade dá estatuto à uma massa documental de acordo com séries de relações multiplicando as perspectivas aos e a partir destes documentos. E assim mesmo que os cineastas explorarão o potencial das seqüências de acordo com percurso e configurações inconcebíveis. Esse trabalho releva de uma estética, de uma política da diferenciações, em quais os documentos devem diagnósticos. Este afirmação de uma subjetividade talvez estende-se de acordo com os discursos minoritários em função do gênero, das raças , dos territórios. Em Triste Trópico (1974), Arthur Omar pergunta as visões que a gente tivesse do Brasil. Ele fala do projeto de este filme assim : “Um dia resolvi homenagear os 50 anos do seu filme En Rade (No Porto) realizando um filme experimental dedicado ao mestre. Utilizei apenas trechos de documentários etnográficos exibidos na televisão e outros encontrados no lixo de uma sala de montagem.
Através de refilmagens, trucagens, reenquadramentos, aumento de granulação, alteração desmesurada de mínimo detalhes da tela, repetições, criei um fluxo ininterrupto e hipnótico de ritmo e luz que descontraia o documentário tradicional, misturando as figuras de homens, animais, vulcões, tribos, arvores, estádios avalanche sem qualquer preocupação com a informação, apenas com a emoção do inconsciente atento. ”
Isaac Julian (1960) ou Charles Lofton interrogam a homossexualidade dos negros quando os filmes de Kevin Emerson são repostas no eventos do quotidiano, da condição social : dos gestos e tarefas das pessoas de descendência áfrica a partir do filmes de família o das reportagens. Bárbara Hammer e Abigail Child seguiram caminhos similares de acordo com uma óptica lesbiana.
O recurso aos documentos cinematográficos o televisais abrem campos das explorações quem se focalizam menos sobre o ajusto nos abismos que impulsiona frequentemente o uso das seqüências de filmes hollywoodiens, que sobre os usos e práticas do quotidiano. Assim se pode ver a vídeo de Regina Vater Todo dia que agonia (2010) em qual uma mulher lava as roupas, no centro da imagens uma incrustações do zapping de canais durante um dia no Brasil. A irrupção do intimo, do banal, do anônimo dos filmes sim qualidade, permite trabalhar com outros registros de acordo com topografias e cartografias mais o menos definidas. Se penso no uso que fizeram Michael Wallin, Jay Rosenblatt, Gretta Snider com os filmes educativos, ou Su Friedrich, Abigail Child usando filmes de família para fazer filmes que não sempre autobiográficos.
Estas apropriações definem novas modalidades de trabalho que desviam ao autoria. Por exemplo no filme Covert Action (1984) o uso dos filmes de família de dois irmãos partindo no fim de semana com diferentes companheiras é trabalhado com o som e com as imagens de modo que a parcialidade dos documentos quebra-se. Outros cineastas terão uma aproximada diferente do home movies, quem se desistir-se com dificuldade de uma fascinação para o documentos encontrados. Como observa Peter Forgacs : “existe uma pratica experimental por qual o material e totalmente subtrai de sue contexto social, cultural e psicológico, para criar uma expressão pessoal” . Um cinema vazio, quem estétiza as imagens de uma maneira nostálgica ; quem faz o luto que não se referia a uma vivencia fora da plasticidade das imagens.
O uso do found footage não se reduze ao cinema químico só. Este tipo de apropriação se encontra em todos os campos do cinema come lhe esta definido para Gene Youngblood : “além um meio dado. O cinema é então a arte de organizar um fluxo de acontecimentos audiovisuais no tempo. É um fluxo de eventos como a música. ” Si os lixos dos laboratórios, os mercados das pulgas foram para longe os espaços mais pertinente para encontrar : pescar os found footage, hoje as bancos de dados livre de acesso o não são muitos usados para encontrar os documentos a partir do quais os cineastas trabalham. Johan Grimonprez (1962) , Craig Baldwin (1952) tenham usado muito isto. O primeiro com o filme : Dial History (1997) o segundo com Tribulations 99 Alien Anomalies under América (1991) o Spectres of the Spectrum (1999). De seu lado, Keith Sanborn fez-se uma especialidade de perseguir filmes nas redes da internet, e apagar documentos na televisão que são disponíveis na internet. O filme seu Operation Double Trouble (2003) e também The Forces of Beauty (2008) interessam-lhes na produção de imagens pra os Marines dum lado e de outro lado por as forças armadas russas.
Si o aparecimento dos vídeos e leitores dvd tenham transformado os nossos uso das produções audiovisuais incitando nos a se tornar produtores, emissores a partir das listas a tocar, (play list) e outras coleções ; a generalização da prática da rede alterou mais ainda as relações que mantínhamos com as imagens em movimentos. Podemos interagir com mais velocidade aos acontecimentos e a loros comunicações. A acessibilidade, a apropriação, os desvio e a recontextualizaçao fazem-se em poucos tempos induzindo uma participação, uma interatividade que não ofereciam os instrumentos anteriores. Por exemplo The French Democraty foi postado no web o 22 novembro, ou seja antes que os motins são apagados.
O recuso nas técnicas do sampling e o acesso no software de montagem produzem uma democratização por multiplicações. A proliferação do desvios e do sampling constroem outros espaços para a difusão que funcionam ao lado dos quais mais tradicionais do cinema e da vídeo. You Tube, Daily Motion, Vimeo, Xtube… acrescentaram os espaços difusões e facilitaram em retorno a circulação e apropriação virtual. Hoje quanto filmes se realizam com o ajudo dos bancos de dados livre o não. Só o campo de uso do found footage e do sampling estão generalizando não tem o menos divido que as perguntas da representação das minorias foram um catalisador essencial na distribuição e circulação das imagens, inauguradas para os movimentos de liberações das mulheres e dos negros. A irrupção do Aids provocou via o queer studies um crescimento dos estudos e de produções quem se interessam e trabalham na imagens pornografia. Assim a questão da representação das mulheres como objeto do prazer e do voyeurismo foram questionadas por Peggy Ahwesh The Color of Love (1994), Naomi Uman em Removed (1999) a partir das seqüências dos filmes pornográfico dos anos 70, que se opõem com os trabalhos de Yves Marie Mahé (Bitte 2001, Va te faire enculer 1998), Scott Stark em Noema (1998) quando William E. Jones, interessa-se na produção pornô gae, (Massillon 1991, e Finished 1997) ou fazendo um trabalho de arquivista a partir das imagens de câmera de vigilância realizadas em 1962 nem lavabos públicos no filme Tearoom (1962-2007). As seqüências foram feitas para a policia no midwest para prosseguir homens fazendo sexo com outros homens em lugar publico. O cineasta Lawrence Brose observa ”para a comunidade gay que estava assistindo nestes filmes ; os pornôs gays dos anos 1920 e 30 estivessem como os filmes de família .” Este sentimento de pertença é auxiliado no Chat e nuns diversos blogos no quais se prepara-se para o espetáculo publico. Bate Papo 22cm (2001) de Edson Barrus trabalha com um Chat de pegações 1991 gay brasileiro quando Who is Live Now ? (2007) e uma apropriação das imagens do web, como fez Lionel Soukaz com seu www.webcam (2005).
Os jogos não estão fora da apropriação porque são laboratórios na produções e criações da imagens em movimento. Eddy Stern recicle números jogos (Settlers III Amazons, SinCity, Nuclear Strike, Delta Force, Command & Conquer, StarCraft, Red Alert, et Tom Clancey’s Rainbow Six) para seu filme Sheik Attack (2000) ou para Vietnam Romance (2003). Este ultimo projeto, compile fonte disponíveis unicamente com o ambiente da mesa de um computador : jogos, grafismos, musicas. Um remix da experiência do Vietnam com trilha sonora MIDI e extratos do vídeo games. Ao mesmo Peggy Ahwesh em She Puppet (2002) recicle seqüências do jogo Tom Raider, transformando a missão da Lara Croft.
Este exame rápido das praticas do found footage e do sampling permite de mostrar a importância de quais usos do desvios e loros aplicações contemporâneas seguindo os trabalhos iniciados para os cineastas experimentais e cujo alguns continuam trabalhar neste campo

Coisas de viado ! (Pt)

Retratos do Brasil Homossexual : fronteiras, subjetividades e desejo / Horácio Costa … São Paulo : Editora da Universidade de São Paulo : Imprensa Oficial, 2010

Para falar sobre a relação entre filmes experimentais e a cultura gay no Brasil, estarei focando este ensaio em poucos filmes. Parece que no Brasil, assim como em muitos outros países, o campo da produção experimental no cinema tem sido desenvolvido por indivíduos que com frequência pensam que estão produzindo alternativas para o cinema comercial. A prática de cinema e/ou de vídeo se tornou um ato de resistência, assim como uma forma de produzir imagens a partir de um espaço, que foi com frequência proíbido, censurado ou nem mesmo concebido.

Neste sentido, fazer filmes experimentais nos anos 60 e 70 foi uma forma de articular diferentes tipos de prática, dentre as quais foi muito importante a afirmação da subjetividade e do desejo, lado a lado a uma aproximação analítica ao aparato cinematográfico. Eu gostaria de enfatizar as possíveis correspondências encontradas entre a prática de cineastas brasileiros com a de cineastas de outras partes do mundo.

Vale lembrar a importância da produção cinematrográfica feita por cineastas gays e lésbicas na história do cinema experimental. Se pensarmos dentro desta história, veremos a importância de Jean Cocteau, Kenneth Anger, Gregory Markopoulos, e Curtis Harrington, em formar a figura do homosexual através do desejo, da ansiedade… A partir dos anos 30 e 40 o homosexual não é somente uma vítima, um fora da lei, um ser menospresado. O personagem do homosexual está a deriva no mundo, se reflete através do filme, que se afirma como uma forma de cinema pessoal, ou mais precisamente como cinema EU. Um cinema que expressa o eu, uma expressão pesoal através da câmera, com frequência mediada por um personagem vivido pelo diretor, seguindo o caminho aberto por Maya Deren com o filme Meshes of the Afternoon em 1943.

Em muitos destes primeiros filmes, a afirmação do desejo é condensada dentro de formas cinematográficas específicas, apesar da subversão da narrativa através do deslocamento, da fragmentação, e da rápida edição. Este cinema está lidando com a ruptura e o êxtase, portanto sua forma é mais livre, e não segue a narrativa canônica. A representação do desejo, sendo algo novo na tela, teve que encontrar novas soluções formais para se manifestar. Os filmes desses cineastas, que fazem parte da geração Americana e da Européia seguinte, consistem em revelar um sujeito através da busca da identidade, ou através de um ato autobiográfico, que será compreendido por uma iconografia específica como a do bad boy, ou a do rebelde para Kenneth Anger. Mas a maioria deles, pelo menos até os final dos anos 70, não se posicionará como representante de uma minoria. O que está em jogo é a afirmação do desejo individual e específico. Esse desejo e sexualidade são diferentes e consequentemente questionam o modelo dominante heterosexual, o que não significa que o cineasta representando um grupo. A partir de então, essa minoria pode vir a utilizar múltiplas representações que estão disponíveis e que podem ser compartilhadas/usadas/ e recicladas por seus membros. Nos anos 80 e 90 este fenômeno será importante dentro da comuninade gay Afro-americana, por exemplo, do mesmo modo como o foi para a comunidade lésbica nos anos 70 e 80.

Cineastas como Jean Genet, Sidney Peterson, Donald Richie, Jack Smith, Andy Warhol, Barbara Hammer, Jane Oxenburg, Maria Klonaris and Katerina Thomadak, entre outros, vão produzir representações de acordo com diferentes estratégias de questionamento, não somente do objeto de desejo, mas também de sua tradução em filme. Para mostrar a intrínseca natureza de seu objeto, os cineastas quebram a linearidade, utilizando-se não somente da edição acelerada (como a de Gregory Markopoulos e Kenneth Anger), ou a maneira incomum de gravar uma cena através do movimento da câmera, da sobreposição, das cenas desfocadas, para transmitir uma sensualidade que o cinema tradicional não transmite.

Reinvindicando uma sexualidade polimórfica e perversa através de figuras andrógenas (Jack Smith, Werner Schroeter), ou enfatizando figuras de inocência infantil como retratadas por Taylor Mead, ou afirmando uma urgência em relação à realização do desejo como no caso de Jean Genet, Kenneth Anger, e Barbara Hammer. A variedade de abordagens é essencial. Elas inscrevem multiplicidade no coração do cinema ecoando a diversidade de desejos e práticas que vão além da reprodução santificada. Desejo, prazer se tornam os aspectos principais para esse tipo de filmes, testando o limite daquilo que é posível filmar e mostrar. Da representação alegórica de atos sexuais à pornografia radical, o leque é bastante grande e tem sido muito bem explorada já há algumas décadas.

Parece existir uma relação próxima entre encenar este mundo invisível e a liberdade que cineastas experimentais desenvolvem em relação ao fazer dos filmes. Uma liberdade explorada de filme à filme, na qual a expressão pessoal e a busca pela identidade são os principais componentes. Se era possível jogar fora os códigos de narrativa, e um cinema de convenções, era portanto também possível apresentar pessoas diferentes. Esta diferença seria vista de forma ultrajante, como ‘Flaming Creatures’, no caso de Jack Smith e o Andy Warhol dos anos 60 e no Brasil, nos anos 70 e 80, com Hélio Oiticica ou Jomard Muniz de Britto. Aqui a ênfase é no camp, que na cultura gay é celebrado como forma de subversão da codificação do papel masculino, e também como manifestação do obsoleto e da estética ultrapassada e trash. O camp induz outra forma de codificação, uma encenação que muitas vezes será o centro do filme. Para conseguir estes resultados, cineastas irão insistir num aspecto ritualístico como na maquiagem, no figurino e na limpeza. Alguns exemplos podem ser encontrados em Lupe (1966) de José Rodriguez-Soltero, onde Mario Montez improvisou em volta da ascenção e queda de Lupe Velez, e se tornou uma sátira, Flaming Creatures (1963) (https://www.youtube.com/watch?v=YrAlBrWpDSw) de Jack Smith , onde o uso do batom provocou alguns momentos visuais interessantes, e My Hustler (1965) de Andy Warhol (extrato https://www.youtube.com/watch?v=D4e6U-TjBNg) , onde um garoto de programa loiro realiza diversas atividades, especialmente a cena no banheiro que lembra trabalhos anteriores como Haircut (1963). Estas atividades pareciam levar um longo tempo, ou mais precisamente, elas obedecem à uma expansão do tempo, o que as torna em algo especial. Parece que esta expansão empurra a audiência ao seu limite, tanto quanto a música experimental, como as de La Monte Young e Dream Syndicate 1 [1]. Este tempo expandido induz uma forma de transgressão em relação ao cinema convencional e seu rítmo, em direção a restrição da do narrativo criando um espaço original para figuras singulares que por acaso são gays, travestis, rejeitados… O que é exatamente o que Jack Smith estava fazendo em seus filmes, fotografias e performances, estendendo a duração da avant-scène, procurando entre os detritos a jóia que o filme, a performance, farão brilhar.

Em Agripina é Roma-Manhattan (1972), nós estamos exatamente em uma situação similar. Como Hélio Oiticica afirmou : Há um cineasta que quer me fazer de ator – filmes mudos underground : é Jack Smith, mito do underground americano, estive lá uma vez e ele depois ficou me procurando, até que …
Fui a uma projeção de slides com trilha sonora, uma espécie de quase-cinema, que foi incrível ; Warhol aprende muito com ele, quando começou, e tomou certas coisas que levou a um nível, é claro ; Jack Smith é uma espécie de Artaud do cinema, seria o modo mais objetivo de defini-lo
 [2]

Pode-se encontrar nos filmes de Hélio tendências similares como a aceitação da improvisação e uma fascinação por detritos. Em seu filme, Hélio utilizou Mario Montez (aka Dolores Flores, aka René Riveira) para atuar como um tributo a figura cult de Jack Smith.

Mario Montez e Antonio Dias estão vagando pelo centro de Nova York, jogando dados, mas não estão realizando nada. De alguma forma a performance é improdutiva, e neste sentido ela se aproxima da estética de Jack Smith [3] .

O convite de Mario Montez pedia por um mundo underground e criaturas que transgredissem as regras do planeta heterosexual, produzindo novas relações que gentilmente subvertem questões de gêneros, através de uma mistura de clichês, da jovem personagem feminina que parece uma modelo, uma noiva vermelha e um noivo gigolô, etc… Se homosexualismo é concebido, será na margem, como se por acaso. Mas de fato, assim como alguns filmes da vanguarda antecessora, mas de uma forma mais distanciada, o filme de Oiticica está lidando com questões de gênero). Tudo no filme é teatral, cheio de artefatos e glamour barato que demonstra o aspecto do camp, e autoriza essa interpretação. Neste filme, podemos dizer que a vida do homosexual é insinuada, mas não monstrada abertamente. Isso facilita a vida de muitos críticos que se recusam a falar sobre este aspecto de Hélio Oiticica, e portanto não farão a conexão entre este filme com os retratos de rapazes como na série Neyrótika (1973) ; como se alguém não devesse mencionar este aspecto queen do artista. Esconder este lado pode ser um programa, mas de forma geral nos mostra as dificuldades de uma sociedade em relação as diferenças, e reflete uma forte homofobia. Tudo isso é muito estranho/esquisito !

Com Jomard Muniz de Britto a cena é diferente. Seus filmes feitos em super 8 [4] lidam em parte com assuntos gays, de uma forma mais direta. No começo eles foram feitos com o grupo teatral de Recife : Vivencial Diversiones. Esses filmes compartilham muito com o teatro baseado na improvisação, no happening, e na reciclagem de objetos e personagens, seguindo a estética do lixo [5] , fazendo deles parte do reino estético promulgado por Jack Smith entre outros. De acordo com Sivério Trevisan : “Com Vivencial Diversiones, ser gay era um elemento inflamatório do elemento subversivo.” [6]

Elemento subversivo que pode ser visto nos filmes feitos por Jomard Muniz de Britto de 1974 até o final dos anos 70. O que está em questão aqui não é somente a afirmação da ambiguidade que subverte o papel e sua interpretação dentro dos códigos da sociedade, mas também a afirmação do caráter gay em todos os seus aspectos e variedades. Dois filmes de Jomard Muniz de Britto são exemplares : Vivencial 1 (1974 https://www.youtube.com/watch?v=Dnp9Y3m-yic) no qual a troupe questiona o mito do andrógeno, o que é seguido por uma espécie de orgia que acontece na escadaria de uma igreja. A dimensão ritualística, a atmosfera festiva, para não dizer carnavalesca, facilitam a subversão e a transgressão. O uso de símbolos religiosos e gozação dos representantes católicos evocam mais Jean Genet que o anti-catolicismo do surrealismo. Este filme retrata uma sexualidade livre, uma sexualidade fluída, a qual por não se atribuir à um objeto parece ter algumas similaridades com o que promulgou em seus filmes, Jack Smith. Inventário de um feudalismo cultural (1978 https://www.youtube.com/watch?v=k5bwOU2K6sM), mistura elucubrações de um grupo de travestis evocando uma jornada pela história do Recife. As figuras flutuantes dos travestis, e do rapaz são essenciais para este cineasta, tanto quanto foram tão proeminentes para Derek Jarman, ou Lionel Soukaz. Seus filmes parecem seguir uma pessoa só, até encontrar outra, e assim por diante. Oscila-se antes de ir de um para o outro, enquanto o garoto se vai trepando com outro. O que está em questão aqui é uma forma de militância pelo prazer, que significa neste caso, prazer gay e que encontramos em muitos filmes underground Europeus e Americanos das décadas de 60 e 70. Nesta ordem pode-se abranger os filmes de Jomard Muniz de Britto, aos do movimento hippie vistos nos trabalhos de Ron Rice e Saul Levine, que celebram a liberdade do sexo e das drogas.

Se, no mundo ocidental pode-se seguir um desenvolvimento regular dentro da cena de filmes experimentais, uma geração após a outra, parece que no Brasil este não foi exatamente o caso. A produção de filmes parece ter se modificado, como citado por Arlindo Machado entre outros, de filme para vídeo bem cedo, mas conforme minhas pesquisas até este momento falta um pedaço desta história, não que não houvesse uma produção nos anos 80, mas esta era certamente menos prevalente. O vídeo era a forma predominante já que estava mais disponível e de certa forma, mais barato que filmes.

Rafael França foi uma figura dominante dentro da vídeo arte no Brasil, segundo Arlindo Machado [7] ele teve um papel importante na junção entre as artes vísuais e a arte de vídeo, mas ocupou uma posição passageira. Alguns de seus trabalhos lidam diretamente com conteúdos gay, como O Profundo Silêncio das Coisas Mortas (1988) e Prelúdio de uma Morte Anunciada (1991). Se o primeiro lida com amor e traição entre dois amantes, ele é feito de uma forma que mistura passado com presente, memória com realidade. Neste sentido o vídeo está utilizando a possibilidade do deslocamento que a edição oferece nesse meio. O seu vídeo partilha com alguns trabalhos de Gary Hill um interesse por uma estrutura de narrativa elaborada, que não segue uma linearidade tradicional mas que envolve questões sobre a semiótica do aparato. O seu último trabalho lida com a questnao da Aids. Essa fita feita alguns dias antes de sua morte mostra dois corpos se acariciando (ele e seu namorado), enquanto nomes de alguns amigos (18 no total), passam sobre cenas em close das mãos, bocas, e faces dos dois amantes. Abre-se em preto e branco até que o texto sobrepõe-se aos corpos vestidos filmados em cor. Este filme lida com a Aids, e desta forma fala e retoma outros que lidam com o mesmo assunto. Se a propagação da epidemia da Aids foi dramática na comunidade gay, também impulsionou uma mudança no fazer de filmes nos final da década de 80. Primeiramente nos Estados Unidos e na Inglaterra e depois em todos os lugares com a erupção através do ativismo em torno da Aids do novo cinema gay. Para os cineastas e astistas, as questões eram múltiplas, por um lado ele deveria saber como produzir filmes que lutam contra a vitimização da comunidade gay, e por outro lado mostrar que ser gay nessa epidemia não significava a falta de prazer, de sexo. Para alguns cineastas isso significou fazer filmes lidando com questões que não eram abordadas até então, como a etnicidade (os trabalhos de Isaac Julian, Marlon Riggs foram cruciais naquele momento tanto quanto o trabalho de Richard Fung), pornografia transgênicos, etc … [8]
Cineastas e artistas estavam preocupados com tópicos nos quais a questão da comunicação estava em jogo, ou seja, como acessar uma audiência mais expandida, para poder transmitir a mensagem ou a contra-mensagem e produzir alternativas para a mídia dominante hetero. Vídeo e Aids tem sido um campo fértil de produção devido à urgência da crise, e porque a Aids revelou, como ainda faz, uma sociedade feita de desilusão e tabus [9] . Esta fita do Rafael França foi uma das primeiras a lidar com a Aids no Brasil (1991) de uma forma alegórica. Esta, mostra um amante acariciando, beijando, mas você não vê o seu rosto, exceto no final, onde vemos que este personagem é o próprio artista. As estratégias utilizadas neste vídeo são similares, até mesmo similares à trabalhos feitos por diferentes ativistas com o propósito de mostrar que o afeto entre homens existe à despeito da Aids. Neste sentido pode-se ver uma conexão entre o trabalho de Rafael França e teses de Grand Fury, Tom Kalin, Gregg Bordowitz, e John Lindell para citar alguns. Não é a raiva que é dominante, mas o afeto, que é próximo à melancolia e a tristeza [10]. Esta forma de melancolia, que me faz pensar em Saudade, também está presente em diferentes fitas de Cyriaco Lopes, ao qual iremos retornar.

Em Paixão Nacional (1994), Karim Ainouz com seu filme de 16mm sugeriu diferentes questões, lidando com o turismo sexual e com o fato de que para um brasileiro não é muito fácil ser reconhecido como homosexual. De certa forma o filme fala da paixão dominando a razão. O filme mistura diferentes técnicas que se relacionam com a tradição de filmes de diário, mas sabe-se que é uma mera ficção e não um documentário, que mistura duas vozes. Uma é a do extrangeiro fascinado pela sensualidade do Brasil, e a outra é a do brasileiro morrendo pela hipocrisia de seu país. Neste sentido o filme compartilha mais com algumas das questões que o Novo cinema Queer estabeleceu em filmes de Tom Haynes [11] , Gregg Araki [12], e Rose Troshe [13] …o que será confirmado, pelo seu longa – Madame Satã (2001).

Os dois últimos artistas de que gostaria de comentar brevemente, fazem filmes/ fitas em conjunção com outras práticas visuais. Cyriaco Lopes começou seu trabalho no Rio de Janeiro mas mora nos Estados Unidos já faz nove anos, enquanto Edson Barrus [14]vive entre São Paulo e Paris e começou a fazer vídeos quando morava no Rio de Janeiro no final da década de 90.

Em Beijos de Língua (2005-2006), e em Lovers and Saints (2007) os conteúdos são mais explicitamente gays que em outros trabalhos do artista, mas ao mesmo tempo não são travalhos ativistas. Eles abordam uma temática gay entre outros assuntos. Eles inscrevem, para dizer que não anexam, conteúdo gay. Em Beijos de Língua, as fitas feitas de frases curtas evocam situações peculiares de conteúdo cifrado que pode ser interpretado como camp, como gay, assim como se podia encontrar em muitos filmes de Hollywood quando era proíbido/censurado lidar com certos assuntos. Aqui encontramos uma estratégia similar mas com um toque poético. Nós falamos sobre isto sem sermos muito óbvios, insistentes, gentis e de certa forma bem quietamente. Estamos bem longe da provocação dos anos 60 e 70 onde excesso era essencial. Estamos num tempo onde a homosexualidade é aceita como uma forma de se viver, onde não se briga mais pela diferença… questão de crença. Neste trabalho, os textos são de fato um pretexto para outra história : Traçando a genealogia da lingua portuguesa, demonstra-se como a mistura a constitui. De uma certa forma estas noções de híbridismo são também produtivas em Lovers and Saints, no qual imagens de criminosos, homens mais procurados, são apresentados como amantes e santos. À estética utilizada aqui nos lembra Pierre e Gilles, uma certa paródia kitshy..

Alguns dos trabalhos de Rafael França e Cyriaco Lopes compartilham estratégias estéticas em torno da fragmentação e do uso das palavras como representação [15] , que foram utilizadas por alguns artistas chamados pós-modernos e em filmes e vídeos ativistas em sua maioria ; é aqui que encontramos o gay e a Aids, no qual o uso do texto é fator chave para a articulação de diferentes níveis de significado, apesar da velocidade de suas aparições como nos trabalhos de Tom Kalin, John Lindell, ou meus próprios trabalhos..

As fitas de Edson Barrus que eu quero discutir são trabalhos realizados, mas pouco vistos. Parece que estes trabalhos que lidam principalmente com a reciclagem de imagens gays pornográficas precisam ser feitos, mas não existem para serem promovidos como a maioria dos vídeos do artista. Trabalhar com imagens pornográficas explícitas sempre foi importante para a cena gay [16]. Estes vídeos constituem um tipo de coleção, catalogando um cenário similar de sexo de diferentes filmes. Eles reconhecem a democratização do acesso à pornografia que de certa forma aboliu as fronteiras e está disponível à quase todos em qualquer lugar do mundo em fitas e DVDs. O cinema não é mais o único lugar onde estes filmes são vistos.

Muitos cineastas experimentais influenciaram a produção pornográfica nos final dos anos 60 e começo dos anos 70 nos Estados Unidos [17], ou por fazerem filmes que beiravam a pornografia (ver os problemas ocorridos nos anos 60 e 70 com Jean Genet, Jack Smith, Kenneth Anger, ou Shuji Terayama e nos anos 80 com Lionel Soukaz [18]) ao empurrar o limte do que era aceito pela sociedade dentro da representação cinematográfica, ou fazendo o que era considerado pornografia do qual Pink Narcissus(1971 James Bidgood https://www.youtube.com/watch?v=lhuOGAGmXY0) poderia ser um exemplo histórico, ou Sodom (1989) de Luther Price que foi recentemente re-editado para que pudesse ser mostrado com mais abrangência [19]. Nos anos 80 muitos cineastas experimentais pelo mundo inteiro trabalharam com found footage/material filmico encontrado [20]. No entando, parece normal que como um objeto as imagens pornográficas tanto como a mídia, a web não será excluída desta apropriação. Muitos cineastas experimentais gays, têm desde os anos 80, incluído dentro de seus filmes imagens pessoais roubadas de filmes pornográficos, re-filmados da televisão ou piratiados de DVDs. À epidemia da Aids colocou em questão alguns comportamentos sexuais e nota-se que assistir filmes pornô se tornou um hábito compartilhado por todos. Não é mais um comportamento escondido e encoberto.

A inclusão do fórum gay é o objeto do Bate Papo 22cm (2001) no qual a tela é rabiscada e filmada durante uma conversa com algumas pessoas. O uso privado se torna público. À exibição dessa troca questiona a noção mesma do sexo privado e público. O que há de interesse neste vídeo é o fato de que estamos imersos num tempo diferente, ajustando à uma troca na qual somos somente o receptor passivo ? Mas este novo campo aberto que Lionel Soukaz explorou com um de seus videos mais recentes : www.webcam (2005) no qual ele evoca a prática do encontro contemporâneo dentro do universo gay através da imagem e da interação que pela web é sempre induzido pela imagem. Isto não é sem lembrar uma das frases ditas por ele ou por Guy Hocquenghem em Race d’Ep (1979) que a foto de um homem jovem será sempre o item mais emocionante. É sempre uma questão de representação e, mais importante, uma questão de como lidar com a representação.

Em outros trabalhos é a reciclagem de imagens pornô, uma forma de apropriação e revisitação de algumas sequências que dão à estas imagens outra dimensão. De fato os filmes que vemos feitos por Edson Barrus são uma re-filmagem, feita com uma camera digital pequena, ouve-se na trilha sonora a respiração do artista dando uma codificação suplementar à imagem. Nós assistimos não somente à um filme pornô, mas somos testemunhas de uma pessoa assistindo e selecionando sequências e escolhendo parte das imagens para se olhar. A conjunção destas temporalidades é estimulante porquê é reflexiva e nos coloca em outra dimensão, incluindo nosso próprio olhar como uma outra camada de codificação. Isso acontece nos filmes Pour hommeFilmex, e Xbookfeitos em 2005, ou até em 69 e THEND, os dois de 2006. Muitos filmes tem lidado com imagens similares mas eles eram uma apresentação de coleção, como no caso de alguns de Hundred Videos (1992-96) de Steve Reinke, ou All You Can Eat (1993) de Michael Brynntrup, ou More Intimacy (1999) de Chen Hui Wu. A especificidade de vídeos do artista Brasileiro tem a ver com a inclusão dele, mesmo através do som da respiração e do tremor da camera. Em ambos os casos o corpo do expectador/ cineasta é incluído no processo, e faz parte do que vemos. O uso privativo se torna público. Ele se torna parte do filme que estamos assistindo. Nos não estamos sosinhos ! Em Filme X, por exemplo, ouve-se ruídos que não vem dos vídeos, mas da filmagem, e é -se transportado para outra paisagem imaginária, que transforma ou duplica a nossa experiência de voyeur, e isto especialmete porque neste filme existe uma forte ênfase na abstração da imagem devido à camera lenta, foco suave ou closes extremos, borrando formas e cores, algumas vezes padrões opticos moiré transformam os corpos.

Com Videopunhetas, um trabalho em andamento iníciado em 2001, o artista se masturbou em frente ao monitor que esta mostrando uma masturbação precedente. Um trabalho em uníssono ! Um pinto encarando sua própria imagem. Todas estas masturbações são feitas para vídeos e evocam trabalhos anteriores feitos por Vito Acconci. Nós podíamos ouvi-lo, mas não vê-lo pois estava escondido embaixo do chão da galeria. Trinta anos se passaram desde a exposição, nós estamos agora encarando o espetáculo da sexualidade que foi realizado para e com a assiatência de novas ferramentas digitais. O que é importante nesta experiência feita por Edson Barrus, a despeito do orgasmo descrito ou não, é o fato de que os filmes foram mostrados numa galeria. O deslocamento do olhar, a locação onde o evento foi mostrado, transformou e colocou em questão este espaço público, que foi invadido por partes íntimas. É um acesso diferente e maior abertura do que os oferecidos pelo papo virtual ou pelos sites como o X-tube no qual pode-se ver e compartilhar os próprios encontros sexuais ou masturbação com qualquer um procurando a fita.

Parece que com trabalhos deste tipo, o que estava em questão inicialmente para a maioria dos cineastas experimentais que lidam com o cinema pessoal, era fazer imagens que afirmem a identidade do artista, seu desejo tanto como suas imagens foram democratizadas de maneira que qualquer um pudesse fazê-lo. Para a maioria dos cineastas hoje novas questões em relação à acessibilidade a enorme quantidade de trabalho pruduzido vão modificar a investigação voltada ao processo de criação audiovisual.

O que ainda é surpreendente é o fato de que apesar da produção de filmes pela indústria que incluem conteúdos gay, ou até novelas, questões gays parecem com frequência entendidas commo de menor importância, e são deenfazidas não somente pelos críticos, mas também pelos próprios autores, como se fossem sempre um trabalho secundário. Espero que isto seja somente uma questão de ignorância da minha parte…

Tradução : Marília Fernandes
Relectura por Cyriaco Lopes e Edson Barrus


[1] Neste exemplar ver Branden W. Joseph : Beyond the Dream Syndicate, Tony Conrad and the Arts after John Cage, Zone Books, New York 2008.

[2] 2 ver Hélio Oiticica Quasi-Cinema, ed Carlos Basualdo, Wexner Center, Hatje Cantz, publishers, 2001, e carta para Waly Salomão, 25/04/71, arquivo projeto HO.

[3] Com frequência críticos focam-se na natureza inacabada do trabalho para minimizá-lo. André Parente ; Cinema de vanguarda cinema experimental e cinema do dispositivo em Filmes de Artista Brasil 1965-80, curadoria de Fernado Cocciarale, Contacapa, Rio de Janeiro 2007.

[4] Para uma filmografia de Jomar Muniz de Britto, Marginália 70, O experimentalismo no Super-8 Brasileiro, por Rubens Machado Junior, Itau Cultural 2002, para um estudo sobre ele ver :http://www.yannbeauvais.fr/article.php3?id_article=360

[5] JMBritto em Vivencial diversiones, Memórias da Cena Pernambucana 01, Leidson Ferraz, Rodrigo Dourado e Wellington Júnior, Recife 2005, e Nos abismos da Pernacumbalia.

[6] 1986, p.131 citado em Tentative Trangression Homosexuality, Aids and the Theater in Brazil, por Sevério João Medeiros Albuquerque, University of Wisconsin Press, 2004, e João Silvério Trevisan : Devassos no Paraíso 6a p 327/29 coleção contraluz, edição Record Rio de Jjaneiro/São Paulo, 2007

[7] As linhas de força do video brasileiro in Made in Brasil, três décadas do video brasileiro, org de Arlindo Machado, Itau Cultural, São Paulo 2007

[8] Um dos primeiros textos sobre esse assunto foi : How do I Look : Queer Film and Video, ed Bad Object- Choices, Bay Press, WA 1991, mas também Queer Looks : Perspective on Lesbian and Gay Film, de Martha Grever, John Greyson e Pratbha Parmar, Routledge, London 1993

[9] Sobre Aids e vídeo ; Bill Horrigan : Notes on Aids an its Combatant in Michael Renov ed.,Theorizing Documentary, New-York, Routledge, 1993 e yann beauvais De la vidéo et du Sida in Vidéo Topiques, Éd. Les Musées de Strasbourg / Paris Musées, 2002.

[10] Sobre melancolia e Aids, Douglas Crimp : Melancholia and Moralism Essays on AIDS and Queer Politics, MIT Press, 2002, inicialmente publicado em Outubro °43, AIDS Cultural Analysis / Cultural Activism MIT press 1987 e 1988

[11] Poison 1991,

[12] The Living End 1992

[13] Go Fish 1994

[14] Sobre Edson Barrus, yann beauvais La vidéo selon Edson Barrus in Revue & Corrigée issues Sept 2008 n° 77, e Dec 2008. Na Internet http://www.yannbeauvais.fr/article.php3?id_article=374

[15] Eu curei uma exposição no centre Pompidou chamada Mot : dites, images, (imagens como texto em filme e vídeo), ed Scratch, Paris 1987

[16] Thomas Waugh : Hard to Imagine : Gay male Eroticism in Photography from their Beginnings to Stonewall, Columbia University Press, 1996, é um estudo exemplar.

[17] Ver David E. James : The Most Typical Avant-garde, History and Geography of Minor Cinema in Los Angeles, University of California Press, Berkeley 2005

[18] Respectivamente : Un chant d’amour (1950), Flaming Creatures (1963), Scorpio Rising (1964),L’empereur Tomato Ketchup (1971), Ixe (1980).

[19] Hoje em dia este filme está disponível para aluguel e visualização no site Light Cone. Este último filme lida de forma geral com a reciclagem de filmes gay hardcore de uma forma que se aproxima àlgumas estratégias instauradas pela Boston college of arts na década de 80.

[20] Em Found Footage : yann beauvais, Jean Michel bouhours, Monter Sampler, centre Pompidou Paris 2000 ; Eugenie Bonnet : Desmontaje, Film, video /apropriacion, reciclaje, Ivam Valencia, 1993 ; James Paterson : Dreams of Chaos : Understanding the American Avant-garde Cinema, Wayne Sate University, Detroit 1993 ; William Wees : Recycled Images The Art and Politics of Found Footage, NY Anthology Film Archives, 1993

Cinema to Think (Eng)

Cinema to Think – Presentation

13° Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte October 2011 Cinema para pensar

The films that make up the four programs of this exhibition allow us to go through different periods of experimental cinema and make us reflect on the potential of cinema and its uses. The set of films reflects not so much an immediate actuality, but rather important stages of the practice. Each program is proposing a particular drift. Diving in autobiographical and personal space, whether to produce narratives or keep a diary for daily observations behavior observations according to a diversity of approaches that indicates the extraordinary wealth of history and contemporary uses of the film. Analysis of the device operation and exploration of what is at stake in the power of media representations ; diving in cinematographic matter for building new modes and territories of vision.

If the filmed diary played a major role in setting up a personal cinema, elevating it to an art form, it allowed us to analyze the autobiographical production according to open narrative plots, which question the principle of linear continuity. Jonas Mekas paved the way, weaving temporalities, preceded by Marie Menken and Stan Brakhage, who had worked with their notebooks and sketches, elaborating a virtual (auto) biography. Likewise, Hollis Frampton with his f(r)ictions, close to those advocated by the Oulipo [1], has developed some uniquely coded autobiographical narratives that respond to restrictions principles and had nothing behind computer programming. These principles define the very conditions of experience and transform the projection in a process of awareness.

Program two is structured around the diary and the autobiographical project. The queer dimension is openly claimed. The development of an identity passes through the recognition and sharing of different social, political and aesthetic codes. Thus the camp dimension comes amid the recycling of the 50-60 soap series of Su Friedrich, or extracts from musicals comedies at the same epoch in Matthias Müller. Everything seems to oppose the two films : one responds to the sophisticated development of an inverted alphabet from which the narrative tells us the complex story of a girl, while the other accounts the mourning and rebirth work after the death of a friend. In both cases, a narrative is constituted, although Aus der Ferne The Memo Book refers only briefly to verbal language and written words (newspaper pages open and close the film), this is a movie in which the past is heard, as well as the experience one has of it. In turn, Sink or Swim [2] would be unthinkable without a word, without text, from this point of view, the writing of the father’s letter in a Schubert “lied” is central to condense many mnesic sources. The experience of each director manifests itself in a privileged way, where the movies are a reflective manifestation.

The return of a story or an event is through the manifestation of an identity, weakened by different events the film tells more or less explicit. Aus der Ferne illustrates this weakness using scratched, dented and literally abused super-8 images, with bodies sometimes emerging on the surface, while Sink or Swim promotes a refinement of nuance and sensuality, restricted to black and white film.

Program three explores two aspects of the production of reality in cinema. In one aspect, the capture of reality actually responds to a patient selection of a subject, of an event and its recording, it being from a single shot like in La vache qui rumine by Georges Rey or an accumulation (akin to a collection) of short sequences like in Formigas Urbanas (Urban Ants) by Edson Barrus. In both films, observation constitutes the experience of filming and viewing. The ludic dimension is not absent from Georges Rey’s film or in the coquelicots singui dance in Rose Lowder’s film. The thorough observation of the behavior of flowers, a cow, humans carrying their burdens, gives the film its forms. The second part of the program emphasizes the production of a reality through film. The analysis of the device and its components triggers every proposition. The flasher, looping and repetition are in the core of T.O.U.C.H.I.N.G or Spacy, while the return on lagged slightly overprint sequences makes Water Pulu a cosmic mediation. The three films respond to particular restrictions : a mandala for the film by Paul Sharits, who works with flasher and the repetition of a word, a sequence of straight moves, circular and parabolic with Takashi Ito, the structure of the Ladislav Galeta’s film exceeds the water-polo match. Chicago, by Jurgen Reble proposes and disposes these two aspects immersing us in the dusty image of the displacement of an elevated metro in Chicago. The film dust generated by chemical attacks in the coil generates the sound of Thomas Köner.

Program four is interested in the relations of language, history and politics. Three films use found footage to interrogate the representation of history, domestic power, the military, machismo… With Secondary Currents Peter Rose interrogates the relationship between language and spirit, entering a world of nonsense, in which the intermingling of commentary and subtitles detract from the diktat of one against the other. The film considers critically and playfully the power of the word as well as modes of significant production. Image criticism and production of meaning are put into question, thou stressing the importance of story in relation to models and impact on our behavior. Thus, Abigail Child, in Covert Action, deconstructs a series of holiday films revealing « the eroticism beyond the social » through permutations and variations of visual and sound loops. A similar strategy appears in Displaced Person by Daniel Eisenberg, who works with short loops of films from Marcel Ophuls, the incomprehensible horror of Hitler’s reality, linked in two different sound systems, a Beethoven quartet and a conference given by Levi Strauss [3]. Valie EXPORT in … Remote … Remote, in turn, relates a performance manifesting violence related to other, internalized, which we do not always see its external manifestations. Operation Double Trouble appropriates a propaganda film of the American army, defending the benefits of neo-colonialism by their so-called humanitarian interventions. Keith Sanborn deconstructed this discourse producing a kind of history of stuttering, repeating twice every film shot. Chen Chieh-Jen, in Lingchi – Echoes of the Historical Photograph, revisits the history of the representation of the Chinese people as barbarians, and their use by Westerners, from photographs made at the beginning of the twentieth century. The deconstruction of the western view is achieved through the smile of the tortured, who question the projections the West imposes on others. In this program, the deconstruction of the meaning of cinema production reveals an important tool in shaping the new media [4].

The first program concerns to the auscultated film, recycling images of backgrounds, ages, genders and a wide variety of media : 9.5 mm film, with its center punched, the ancestor of 16mm, L’opera tore perforato happily abused by Paolo Gioli, through reductions of gay porn Super 8 film, perforated by Luther Price in Sodom, or in a spoiled straight porn, with decomposed colors in The Color of Ahwesh by Peggy Love, as well as the 35mm discolored by the skillful magician Peter Tscherkassky in Instructions for A Light and Sound Machine. Numerous uses of film are examined, from advertisement to the great spectacles of Hollywood (Hoolboom), passing through an Italian western (Tscherkassky), amateur films (Gioli), incunabulum (Legrice, Hoolboom) and pornography (Ahwesh, Price). Recycling and looping are moving principles of production, in which the progressive transformations in Berlin Horse by Malcolm LeGrice, violent graphic changes or abrupt montage subvert as well as manifest aesthetics and proposed reflections on film, exemplified by the movie by Mike Hoolboom (Imitations of Life ). This is a reflection on cinema through films of all kinds, which have modeled us and made us believe in the possibility of other worlds… But in this world science fiction cinema is promising to us, is there still a place for cinema ?

YannBeauvais – translation from the French by Matthew Araujo

[1] Ouvroir de littérature potentielle, usually designated by its acronym OuLiPo, an international group of writers and mathematicians, among them Raymond Queneau, Italo Calvino, Harry Matthews and Georges Perec, who would define themselves as “rats which construct themselves the labyrinth from where they propose to get out of it”, a formula attributed to Queneau.

[2] The text of the film was published in em Screen Writtings Scrpits and Texts by Independent Filmmakers, by Scott MacDonald (Berkeley : University of California Press, 1995).

[3] See the interview of Daniel Eisenberg to Alf Bold in Millennium Film Journal n°27, Winter 1993-94 (version available online \ : mfj-online.org/journalPages/MFJ27/ABoldDEiseb.html).
[4] See Lev Manovich, Pour comprendre les nouveaux médias (Dijon, Les presses du réel, 2010).

Cinéma pour penser (Fr)

13° Festival Internacional de curtas de Belo Horizonte Outubro 2011

em Português no catalogo do 13° Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte  2011

Les films qui composent ces programmes permettent de traverser différentes époques du cinéma expérimental et nous font réfléchir sur les potentialités que déploie le cinéma à travers ses usages. L’ensemble des films ne reflète pas tant une actualité que quelques moments privilégiés dans cette pratique. Chaque programme propose ainsi une dérive particulière. Plongé dans l’espace autobiographique et personnel qu’il s’agit de produire des récits ou tenir un journal d’observations des comportements du quotidien selon une diversité d’approches qui est le signe de l’extraordinaire richesse que l’on trouve dans l’histoire et dans les usages contemporains du film. Analyser les fonctionnements du dispositif et dévoiler les enjeux de pouvoirs des médias liés à la production de certains types de représentation. Plongée dans la matière cinématographique en façonnant de nouvelles modalités et territoires du voir.

Si le journal filmé a tenu un grand rôle dans la constitution d’un cinéma personnel en l’élevant à la forme d’un art, il a rendu possible d’aborder la production autobiographique selon des trames narratives ouvertes et pour lesquels le principe de la continuité linéaire est remis en question.Jonas Mekas a bien sûr ouvert la voie en tissant les temporalités, bien que précédé par Marie Menken, Stan Brakhage qui avaient fait du carnet de notes et de l’esquisse des chemins dans l’élaboration d’une (auto)biographie virtuelle. De même, Hollis Frampton à travers des f(r)ictions, proches de celles, défendues par l’Oulipo , a développé des récits autobiographiques singulièrement codés, qui répondaient à des principes de contraintes et, qui n’ont rien à envier à la programmation informatique. De tels principes définissent les conditions mêmes de l’expérience et font de la projection un processus de conscientisation.

Le premier programme s’articule autour du journal intime autant que du projet autobiographique. La dimension queer est ouvertement revendiquée. L’élaboration d‘une identité passe par la reconnaissance et le partage de différents codes sociaux, politiques, esthétiques. Ainsi la dimension camp surgit au détour du recyclage de séquences de soap des années 50-60 chez Su Friedrich, ou d’extraits de comédies musicales de la même époque chez Matthias Müller. Tout semble opposer les deux films, l’un répond à l’élaboration sophistiquée d’un alphabet inversé à partir duquel des récits nous content l’histoire familiale complexe d’une jeune fille, alors que l’autre film rend compte du travail du deuil et de la renaissance après la mort de l’ami. Dans les deux cas, un récit se constitue bien que, Aus der Ferne The Memo Book ne recourt que très brièvement à la parole et aux mots écrits (des pages de journaux ouvrent et ferment le film) ; il s’agit d’un film dans lequel on ausculte le passé autant que l’expérience qu’on en garde. De son côté Sink or Swim ne saurait s’envisager sans mot, sans texte ; à cet égard l’écriture de la lettre au père sur un lied de Schubert est centrale en ce sens qu’elle condense plusieurs sources mnésiques. L’expérience de chaque cinéaste se manifeste dans la forme qu’il/elle privilégie, le film en est la manifestation réflexive.
La restitution d’une histoire, d’un sujet se fait au travers de la manifestation d’une identité, fragilisée par différents événements dont le film rend compte plus ou moins explicitement. Aus der Ferne illustre cette fragilité en recourant à des images super 8 rayées, froissées, littéralement maltraitées desquelles, émergent parfois, en surface, des corps alors que Sink or Swim déploie un raffinement de nuances et de sensualité en se limitant au seul noir et blanc.

Le second programme travaille deux aspects de la production de la réalité au cinéma. Dans l’un la capture de la réalité répond à une patiente sélection d’un sujet, d’un évènement et de son enregistrement, qu’elle procède d’une seule prise comme c’est le cas avec La vache qui rumine de Georges Rey ou d’une accumulation de courtes séquences avec Formigas Urbanas d’Edson Barrus qui s’apparente à une collection. Dans ces deux films, l’observation constitue l’expérience du tournage et de son visionnement. La dimension ludique n’est pas absente du film de Georges Rey ou dans la danse de singui des coquelicots dans le film de Rose Lowder. L’observation minutieuse des comportements des fleurs, d’une vache, d’être humains portant leurs fardeaux, confère aux films leurs formes. Alors que l’autre versant du programme va souligner la production d’une réalité au moyen du cinéma. L’analyse du dispositif et de ses constituants, déclenche chaque proposition. Le clignotement, la boucle et la répétition au cœur de T.O.U.C.H.I.N.G ou Spacy, alors que la reprise en surimpression légèrement différée des séquences va faire de Water Pulu une médiation cosmique. Les trois films répondent à des contraintes particulières ; un mandala pour le film de Paul Sharits qui travaille sur le clignotement et la répétition d’un mot, une suite de mouvements rectilignes, circulaires et paraboliques, avec Takashi Ito ; alors que la structure du film de Ladislav Galeta excède la partie de water-polo. Chicago de Jurgen Reble propose et dispose de ces deux aspects en nous plongeant dans la poussière de l’image d’un déplacement dans le métro aérien de Chicago. La poussière de films générée par les attaques chimiques du ruban génère le son de Thomas Köner.

Le troisième programme s’intéresse aux relations avec le langage, l’histoire et la politique. Trois films travaillent à partir de found footage et interrogent la représentation de l’histoire autant des pouvoirs, domestiques, militaires, machistes… Avec Secondary Currents Peter Rose interroge les relations entre le langage et l‘esprit et nous plonge dans un monde de non-sens, dans lequel le réseau de relation entre commentaire et sous titre remet en cause le diktat de l’un vis-à-vis de l’autre. Le film envisage de manière critique et ludique les pouvoirs du mot et leurs modes de productions signifiantes. La critique des images et la production de sens sont interrogées en soulignant l’importance du rapport à l’histoire qui nous façonne et son incidence sur nos comportements, ainsi Abigail Child, dans Covert Action, déconstruit une série de films de vacances en dévoilant « l’érotisme par-delà le social » aux moyens de permutations et de variations de boucles visuelles et sonores. Une stratégie similaire est à l’œuvre dans Displaced Person de Daniel Eisenberg, qui à partir de courtes boucles d’un film de Marcel Ophuls travaille l’incompréhensible horreur de la réalité hitlérienne en l’articulant à deux régimes sonores distincts, un quatuor de Beethoven et une conférence de Lévi-Strauss . Valie EXPORT dans … Remote … Remote, de son côté met en rapport une performance en manifestant la violence subie à celle, intériorisée dont on ne voit pas toujours les manifestations externes. Operation Double Trouble se saisit d’un film de propagande de l’armée américaine, prônant les bienfaits du néocolonialisme par ses interventions dites humanitaires. Keith Sanborn déconstruit ce discours en faisant bégayer l’histoire, répétant, chaque plan du film, deux fois. Chieh-Jen Chen dans Lingchi – Echoes of a Historical Photograph, re-visite l’histoire de la représentation du chinois comme barbare et de ses usages par les occidentaux à partir de photographies faites aux débuts du XXe siècle. La déconstruction du regard de l’occidental s’effectue au moyen du sourire du supplicié, qui interroge les projections que l’occident impose aux autres. La déconstruction de la production du sens au cinéma se révèle un outil important dans le façonnage des nouveaux médias à travers l’outil de la programmation .

Le cinéma ausculté c’est ainsi que ce quatrième programme s’appréhende qui recycle des images de toutes provenances, de toutes époques et genres, et ce, quelque soit le support. Du 9,5mm avec sa perforation centrale, ancêtre du 16mm, dans L’operatore perforato joyeusement malmené par Paolo Gioli, en passant par des réductions super 8 de pornos gays, perforé par Luther Price dans Sodom, ou de porno hétéro abîmé, aux couleurs en décomposées dans The Color of Love de Peggy Ahwesh, jusqu’au 35mm scope décoloré par l’habile sorcier Peter Tscherkassky dans Instructions for A Light and Sound Machine. De nombreux usages du cinéma sont examinés, de la publicité en passant par des grands spectacles hollywoodiens (Hoolboom) ou un western italien (Tscherkassky), des films d’amateurs (Gioli), des incunables (Legrice, Hoolboom), des films pornographiques (Ahwesh, Price). Le recyclage et le bouclage sont alors des principes moteurs de la production que les transformations progressives dans Berlin Horse de Malcolm LeGrice les violentes altérations graphiques ou les montages abruptes subvertissent autant qu’elles manifestent des esthétiques et proposent des réflexions sur le cinéma, que le film de Mike Hoolboom : Imitations of Life exemplifie. Il s’agit d’une réflexion sur le cinéma au moyen des films de quelque nature que ce soient qui nous ont façonnés et qui nous ont fait croire à la possibilité d’autres mondes… mais dans ce monde que le cinéma de science fiction nous a promis le cinéma aura-t-il encore sa place ?

Interview with Anthony McCall (Eng)

Interviewed made on the occasion of the exhibition of Anthony McCall at BCubico, Recife and published during Spa das Artes, within the Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães.

versão português : http://bcubico.com/entrevista-anthony-mccall/

Anthony McCall / Yann Beauvais July 2011

Yann Beauvais : In some of your early films such made after Line Describing a Cone(1973), Conical Solid (1974), (I can’t remember if that was the case with Partial Cone(1974), the rhythm were different ; faster, and more using some flickering effects. The crossing and closed rotation of the cross was like a projection of the Maltese cross of the projector. Were you not satisfied with the type of spaces, lines configurations these speeds were conveying ?

Anthony McCall : The form in Line Describing a Cone is defined by a membrane of light that gradually traces the outer surface of the conical form ; Conical Solid (1974, 10-minutes), made a year later, attempted to describe the same form, but from the inside. This becomes clear if we recall the final movement, the slowest in the film. A single, flat, triangular blade of light takes five seconds to rotate on its own axis (the axis running from the projector lens to the wall). During that rotation the blade passes through the entire internal space of an imaginary volumetric cone. If the blade of light had left a trace behind itself as it rotated, after five seconds we would have created in three-dimensional space a dense cone of white light-not just the outer surfaces, but the entire form. Hence the title Conical Solid. Of course, this cone is never there at any single instant, only incrementally and only in the mind. And the idea I have described gets a thorough workout because the film is composed of eight sequences. Each part rotates at a different speed, starting fast and ending slowly. To achieve the illusion of a smooth rotation, we need a minimum of 36 frames (one and a half seconds). But I begin with a rotation speed that is so fast that we only have four frames to define it. We perceive this as the rapidly pulsing cross you refer to. Gradually, the rotation speed slows down enough that a single rotating form becomes legible, but that isn’t until the last two or three movements. So the film is produced from a collision between the idea of the rotating plane and the limitations of the 24-frames-per-second film strip.

yb : The use of the cross in Conical Solid has reappear in later works using double lines configurations, or multi-projection such has in Doubling Back (2003) Between You and I (2006) ; are these works an extension of long Film for Four Projectors and Four Projected Movements (1974) ?

Between You and I mccall_00002

AMcC : Although both early and late works are based on membranes of light projected through three-dimensional space, Doubling Back (2003) and Between You and I (2006) are perhaps a little different from the solid-light films of the seventies. The earlier works are built from one single form. The later works are built from two forms acting on one another. For instance, Line Describing a Cone (1973) comes from a single circular line, Conical Solid (1974) from a single line that successively changes position, and Four Projected Movements (1975) from a single line that rotates slowly through 90 degrees. The whole of Long Film for Four Projectors (1974) is constructed from a single, slanting, straight line which passes repeatedly through the frame. But the new series, which I began after a twenty-five year pause, is not quite as simple. Doubling Back (2003), for instance, is built from two travelling wave forms that pass through one another and thereby create an irregular, mutating object ; and Between You and I(2006) is based on two dissimilar forms (an ellipse and a travelling wave) which, using the cinematic device known as a “wipe”, are brought into shifting juxtaposition with one another, again creating an irregular and rather unpredictable new object ; “Between You and I” is also profoundly different in that it’s axis is no longer oriented horizontally ; it is a vertical form, 10-meters tall, with the projector high up, projecting downwards onto the floor.

longfilm
yb : When I am thinking of Long Film for Ambient Light (1975) it conveys some early works of Michael Asher in which the ambient light of the space gallery was questioned, did your partake some aesthetics with him ? As the text you wrote in 75 could inform us : « I am now interested in reducing the ‘performance’ aspect, in order to examine certain other fundamentals, viz. Temporality, light. I am presently assuming that it is possible to do this without using the customary photochemical and electro-mechanical processes (which have the disadvantage of being expensive, i.e. slow).
AMcC : I came to know of Michael Asher’s work rather late, which I regret. Richard Serra was the first person to tell me about it, I think around 1975, but it was some years after that before I actually saw anything. A very interesting artist.

yb : Did you know the installation work of Paul Sharits ? Did you have any relation with him ?
These two questions come from the fact that I have the feeling that exist some relation between your works despite their differences.

AMcC : I met Paul Sharits sometime in the mid seventies, and I before that I knew of his work through live screenings in New York. I don’t recall precisely, but I think that I saw photographs of his installations before I actually experienced them, probably in the catalog of a solo exhibition of his work written by Regina Cornwall. Paul and I spoke at the International Forum of Avant-Garde Film in Edinburgh in 1975, and we were both in Documenta 6 in 1977, which I think may have been the first Documenta to show both avant-garde film and artists video. There are undoubtedly affinities between his work and mine ; we both pursued a reductive, materialist aesthetic and, as you observed, both of us developed or moved into installation, and this was before there was the technology (or indeed the context) that could really sustain it : however extended those installations were in time, they still required the full-time attention of live projectionists, making them a kind of extended performance ; nowadays, installations are typically made of computer-managed video projection.

yb : In Miniature in Black and White, 1972, a work optically challenging, one could feel an aspect of immersion despite the small size of the work, it is an intense piece. We are in a situation where the audience is facing at the eye level a challenging sequence of black and white slides ? Were you working with a specific pattern in mind ? Have you too watch the piece from beginning to end, or is it like an installation in which you take it when you are facing it ?

Miniatures in Black

AMcC : Miniature was conceived from the very start as a continuous installation, an object in a room, with a temporal structure that was repetitive ; it assumed a mobile spectator who would decide for himself how long to stay. The Kodak Carousel Projector enabled this approach, with its circular magazine that could seamlessly project and re-project 81 slides contained within the circular magazine. Plus the Carousel was designed for exhibition use : it was built to run 24-hours a day without overheating. It was a tough little machine. I see this work as pre-figuring Line Describing a Cone ; the small screen with its tiny, back-projected images was only 10 or 15cm from the lens of the projector, and the observer was facing that screen with the projector immediately behind, and looking at stark images made of white light. In fact, all I had to do to get close to the configuration I used for Line Describing a Cone was to remove that tiny screen, leaving the observer looking directly at the projector. Miniature in Black and White was completed early in 1972, and Line Describing a Cone was made in the summer of 1973.

yb : Another things that I am aware with this piece as with Line Describing a Cone(1973) and Long Film For Four Projectors (1974) is the presence of the apparatus (the noise of their performance) which produce/make the piece live at the precise moment we are seeing them. Don’t you think you are loosing something on that level with the digital pieces ?

AMcC : When I began making these films again in 2002, using digital means, this very problem worried me. You are right about the sound. The rhythmic clattering sound of the Carousel projector changing slides, with its cooling-fan undertone is an absolutely integral part of Miniature in Black and White. Similarly, the rhythmic mechanical whirring of the 16mm projector (or projectors) creates a kind of drone tone, an ambient atmosphere for the installation. This has the important effect of masking voices, which creates a kind of acoustic privacy for the observer. By contrast, digital projectors, computers etc, are relatively silent, though you now hear the puffing of the haze machines. But in the 70s making films without a sound-track seemed an obvious part of the rendering down of the medium ; and it was precisely because of the deliberate absence of a constructed sound-track that the ambient sounds of the apparatus became foregrounded. Currently, image and sound co-exist within the same digital medium and there now seems no necessity to ‘expel’ one of them. So sound for me has returned as an aesthetic question.

yb : Miniature in Black and White was made at the same year as Interface by Peter Campus which include the audience within the circuit of the piece, while your include our eye, as a reflection, but the full body as a stand.

AMcC : I remember first coming across Peter Campus’s installations at Paula Cooper Gallery, in SoHo, I think, in the mid or perhaps late 70s. The presence of just a video projector quietly projecting an image of your face onto a wall in an almost dark room in real time, very large and perhaps upside-down (I recall such an installation) created a very new possibility : there was a silence to it which I remember appreciating : this alone set it apart from film, which always carried with it that mechanical whirring sound, as well as – usually – a finite duration. The other quality, of course, that set film apart from video then was that they were largely seen in different contexts. There were exceptions, but on the whole film was seen in avant-garde film places and video (Campus, Acconci) was shown in galleries.

yb : The question of duration is important, as much as the flawless, the continuity of the performances ; if one think of SoundStrip/FilmStrip and Long Film For Four Projectors, (1974) one perceive that it is humanly impossible to get over the works. One can see what it is about, understand how it works but one can’t experience the full length of it. Is it even necessary to experience the full length of them ? The question of its experience is informed through an analysis of its process, and induced other levels of interaction with the works. The question of the duration emphasized the idea of the placement of the body within the piece, within the space where the work is evolving. Were you taking into account all these parameters when making them ?

Long Film For Four Projectors

AMcC : During the seventies I gradually increased the length of my fire performances and my films because I wanted to escape from the expectations of an assembled audience. By making a work last five hours or all day or all night, the audience as a group ceased to exist. That audience was replaced by individuals arriving and leaving when they wished, and deciding for themselves how long they would stay. An extended duration required a different type of structure, a non-narrative structure, and this is when I found permutation to be a useful tool. Perhaps Long Film for Four Projectors(1974) realized this most successfully. I thought of the spectator there as being surrounded twice : firstly by the duration which was so extended that it outlasted any individual’s attention ; and secondly by the spatial arrangements of the installation : if you were in the room, you were absorbed within the spatial field of the film.

yb : Another relation has to do with the scoring for the pieces, before and after their making. As a filmmaker I understand the purpose of making after a completion of a piece because, often in the making what was planned very often is altered, but I don’t think that is your motivation to do these drawing pieces, or is it ?

AMcC : Whatever else they are I think of these solid-light works as drawings from beginning to end – even, or perhaps especially, at the moment of projection. There are the preparatory drawings made in notebooks where I work out a three-dimensional, sculptural idea, or follow the logic of the piece in the form of a two-dimensional story-board ; then there are the instruction drawings I prepare for my programmer, which resemble a score – with detailed sketches, measurements and time-schemas. Then after I receive the programmed animation interface I spend sometimes months projecting, constantly changing the various values embedded in it. Finally after a work is finished, it often offers up aspects of itself that I hadn’t thought of or noticed before. I like to produce follow-up drawings that explore these sorts of revelations.

yb : The relation to sculpture and the organization of the image within the space is important, but often you require the black box, and in that sense could we say that you are still making film ?

AMcC : These pieces operate in a zone that includes both cinema and sculpture, and perhaps even architecture. Not having to choose one of these but being able to draw on each in different ways and different proportions is a great freedom. I can say that I am still making films, but as a description it does go quite far enough.

yb : You always convey the body in your work, being the position or size of the projected form ? But also in some of your titles (Between You and I) there is aspect of negotiation between the work and the audience, but also between different member of the audience sharing or discovering the piece. Is this so ?

AMcC : Yes, I think so. Obviously, there is the exchange that takes place formally between the graphic elements. But then there is the exchange that takes place between the observer and the piece, which at one remove is an exchange between myself and the observer. Then, as you noted, there is a negotiation between the spectators themselves, as they move carefully around in the dark ; also, each of them becomes part of what others look at, which effectively turns their actions into performances. Work titles like (Between You and I and Meeting You Halfway hint at these different relationships.

yb : The idea of performance is important in your work, being films, drawings, installations, but its reading is more obvious in the simpler pieces such as Landscape for White SquareEarthworkLine Describing a Cone (the two version) You and I… ; they seem somehow more related to our understanding of what is happening, while the other ones tends to direct us towards other directions, and issues, contemplation, not producing a solid meaning, but not facing a chaos, just floating in between, on the edge of disorder and process. Is question of meaning becoming more important in relation to the repetition of the cycle, of the piece ?

Landscape For Fire

AMcC : I am interested in what people find in these works ; but this doesn’t really inform new work. I suppose that I consider the meaning of a piece is something that is created by the spectator in their engagement with this formal object, not something that I place there to be found. ‘Floating in between, on the edge of disorder and process’ sounds like a good place for a work of art to be !

yb : I found stimulating the relation one can draw between Long Film for Ambient Light and the bridge project, the question of the cycle, day, year inform us of this impossibility to experience the work in its entirety, but at the same time gives us the possibilities to experience different moments. We have a physical fragmented experience of it while we have a more entire experience of it on a conceptual level.

AMcC : Yes, installations like Long Film for Ambient Light are extended over a period of time that is so long that it must outlast the spectator’s attention. As a result, the piece is experienced physically as a kind of fragment or sample. My proposal for theCrossing the Hudson, turned the 1-kilometer wide, deserted, Poughgkeepsie railroad bridge into an armature for a light piece, whereby the bridge would be lit up, very gradually, starting from the left bank of the Hudson and moving to the right. It would take six months for the bridge to pass from dark to fully lit, and then another six months to pass from being fully lit to being dark again, and so on, ad infinitum. I see this work of art, massive in scale and with a time structure of one year in repeating cycles, as being ‘embedded’ within a place ; for those living in the region, the understanding of the structure would come quickly ; the pleasure would be in the occasional glimpses of that structure at different moments, different seasons and different times of the night, not to mention (given that the piece would ideally be permanent) different times in ones life. With work in public spaces there is also the intriguing possibility of the ‘accidental’ spectator, which cannot happen within an art institution since a visitor there knows that they are looking at ‘art’.

yb : In your first performance films (EarthworkLandscape for Fire) the sound is shaping the space as the lines do in the later works. In all your light installations the sound only comes from the audience and its interaction and from the environment. Is the absence of sound a prerequisite to experience the work ? Is the space that sound conveys or requires opposite to the experience of your work ? Will-it disturbed our perception of the work ?

AMcC : I used to think so. But as I indicated earlier, to expel sound in order to maintain the purity of just looking or the purity of the medium, now seems arbitrary. And yet I dislike so-called ‘immersive’ audio-visual environments in which you are expected to lose yourself. I believe in a receptive but self-conscious, thinking observer.

yb :In 1978 and 1979 you made two talkies films, both of them were collaborative work :Argument and Sigmund Freud’s Dora, both of them were dealing the production of meaning. Was it necessary, for you, at that time to invest other fields, escaping from the abstraction of the solid light films ? In Argument the political dimensions is directly present, that dimension is less obvious in the more abstract work. Are these works engaged with a critique of the precedent work you did ? Could you speak about these matters ?

AMcC : When Andrew Tyndall and I made Argument there seemed to be an urgent problem. The world of avant-garde film was cut off from the real media and political world surrounding it, with tiny audiences consisting mostly of other filmmakers. Typically, you made a film then showed it to your peers and discussed it. We decided that we would start with our given audience (ourselves) and initiate a dialog by making a film about the problem. The project included not only the film but also the publication of a small book of critical writing and structured discussions after each screening. In retrospect both projects were part of the same ‘institutional critique’ impulse that produced the work of the “pictures” generation, being made at the same time. “Sigmund Freud’s Dora” was made the year after Argument, with an extended group of collaborators. In some ways, Dora was the more successful of the two, precisely because it was of interest to additional audiences : not only avant-garde film people, but also those interested in feminist film theory, and those interested in psychoanalysis. It succeeded in moving out of the narrow confines of the avant-garde, but at the price of moving into the confines of the Academy ! As things stand I haven’t returned to the ideas in these projects, but nothing is out of bounds.
July 2011

It’s all the same, you’re queer anyhow ! Les films de Mark Morrisroe

images-1

Gruppen n° 4, Hiver 2012, Mont de Marsan

www.revuegruppen.com

L’œuvre de Mark Morrisroe excède sa seule production photographique, qu’il s’agisse de performances ou de films. Ce texte explore la relation qu’entretiennent ses films super 8 avec le reste de son travail et met en écho sa pratique cinématographique au regard du cinéma expérimental du début des années 80 et principalement à New York.

 

Version portugaise disponible ,  tradução em português no site B3

http://bcubico.com/its-all-the-same-you-youre-queer-anyhow

images-3 images-1

O Expanded Cinema de Valie EXPORT (Pt)

Tatuí 13, Recife 2012

O Expanded Cinema de VALIE EXPORT Uma resposta ao esgotamento do cinema estrutural

Considerar o cinema como uma prática artística emancipada de todo controle, afirmá-lo desdobrando as particularidades que o meio esconde, compreender e esclarecer a singularidade de atuar que ele permite, examinar as modalidades de fabricação, apresentação e distribuição dos filmes. Aqui encontramos algumas das particularidades que caracterizam o campo conhecido como cinema experimental, e que tantas vezes responde de maneira crítica ao cinema dominante por suas formas, conteúdos, meios de produção e condições de exposição (distribuição e espaços de exibição). Nas relações estabelecidas entre cinema experimental e as artes plásticas, encontra-se a singular posição de Valie EXPORT. Desde o início, a artista escolheu trabalhar com cinema. Não com qualquer tipo de cinema, mas com aquele que ela chama de expanded cinema (cinema expandido).
Conservaremos o nome inglês, pois se trata de uma compreensão do cinema mais próxima àquela dos artistas plásticos dos anos 90 e, portanto, radicalmente diferente do cinema expandido dos cineastas experimentais do fim dos anos 60 e 70. Diversamente à produção americana – dominada desde o fim dos anos 60 pelo cinema estrutural -, mas também diferentemente da escola materialista europeia, encarnada pelo cinema britânico e alemão do início dos anos 70, Valie EXPORT privilegia o conteúdo em detrimento da forma, tal como tradicionalmente compreendida. A artista não cultiva uma dinâmica essencialista em relação ao cinema : “nunca fui ligada a uma interrogação puramente formal do material fílmico, mas sempre me preocupei com o conteúdo da imagem, isso sempre foi importante para mim ”..

 

Rencontres/conférences dans le cadre de l’exposition Valie EXPORT au Centre national de la photographie, Paris 29-10-03

La question de l’identité, la question de la représentation d’une identité, la question de l’appartenance à un corps donné, sous représentée, mal représentée dans le sens d’exploité, fait tradition chez les artistes femmes. Ce n’est donc, pas un hasard que celles-ci s’emparent de support nouveau pas encore formater par la domination masculine, ou bien qu’elles investissent des supports en déplaçant leurs usages comme c’est le cas avec la photo, le cinéma ; la vidéo, la performance. Valie EXPORT en dehors de toute polémique quant à l’importance de son œuvre, poursuit le travail, et donc la lutte initiée par de nombreuses artistes de l’avant-garde des années 20. Par ailleurs, elle renouvelle dans le cinéma, le travail impulsé par la génération des cinéastes des années 40 aux états-unis et qui s’approprièrent un outil et en façonnèrent des usages pour le moins inédits. Proche en cela de la démarche de Maya Deren, Valie Export joue dans ses premiers films, elle est même son sujet.

J’aimerais vous parler de cet ancrage afin d’en signifier à la fois la pertinence mais aussi les limites et montrer comment Valie EXPORT se singularise vis-à-vis d’une telle approche. Comment elle s’inscrit en porte-à-faux et comment elle inaugure des attitudes et des formes de travail qui mêlent aux questions esthétiques des revendications politiques et qui par conséquent l’ont maintenu à la marge des circuits de reconnaissances classiques, qu’ils s’agissent du marché de l’art ou du champ du cinéma expérimental. Mais tout d’abord il nous faut revenir à un problème pour le moins majeur et dont je ne peux faire l’économie. Au nom de quoi et pourquoi un homme parle-t-il de Valie EXPORT ? La question n’est pas secondaire car, c’est entre autres, de ça dont il est question dans le travail artistique de Valie EXPORT. La question de la représentation des femmes, d’un sujet la femme qui n’a pas de voie puisqu’elle est énoncée, confisquée, assujettie aux représentations sociales qui sont le fait des dominants, c’est-à-dire : les hommes. Pour être bref, en me situant dans un champ que je maîtrise un peu mieux, je dirais que la rencontre avec Valie EXPORT s’est produite lors de la vision de son film Syntagma(1983) en 1985. Les précédents films que j’avais pu voir jusqu’alors m’avaient d’une certaine manière échappé, trop concerné que j’étais par des questions quant à la matérialité du support et son agencement selon une approche plutôt formaliste. Avec Syntagma, il m’a semblé qu’on était en présence d’un film somme, un film qui posait tant de questions, investissait tant de domaines qu’il fallait impérativement entrer en contact avec la cinéaste et favoriser la diffusion d’une pareille œuvre. Cela ne relevait pas militantisme vis-à-vis des femmes, il s’agissait pour moi de faciliter l’accessibilité à une œuvre forte. On fait parfois preuves de naïvetés impardonnables. Etais-je ? Etions-nous vraiment l’organisation (Light Cone) la plus à même à faciliter une telle diffusion ? Groupe de cinéastes d’avant-garde à un moment ou pour beaucoup le cinéma n’avait plus aucun intérêt et encore moins celui qui se définissait comme cinéma expérimental…

La position de Valie EXPORT vis-à-vis du cinéma expérimental et des arts plastiques est singulière. Tout d’abord elle choisit dès le début de travailler le cinéma, mais pas n’importe quel type de cinéma. Un cinéma qu’elle nomme Expanded Cinema (cinéma élargi). Nous conserverons la nomination anglaise car il s’agit là d’une compréhension du cinéma, qui s’apparente plus à celles des plasticiens des années 90, et qui est aussi antérieur, pour ne pas dire déplacé dans son radicalisme par rapport à l’expanded cinéma, pratiqué par les cinéastes expérimentaux de la fin des années 60 et 70. À la différence de la production américaine, dominée dès la fin des années 60 par le cinéma structurel, mais aussi à la différence de l’école matérialiste européenne, incarnée par le cinéma britannique et allemand du début des années 70, Valie EXPORT privilégie les contenus sur la forme. Elle n’est pas dans une dynamique essentialiste vis-à-vis du cinéma. Comme elle le rappelle lors d’une interview en 1995 : « Je n’ai jamais été lié par une interrogation purement formelle du matériau filmique, mais j’ai toujours été préoccupé par le contenu de l’image, cela a toujours été important pour moi. [1] »

Examinons le contexte d’émergence de l’œuvre de Valie EXPORT.

Valie EXPORT connaît les travaux de Peter Kubelka (figure emblématique de la scène autrichienne) comme ceux des actionistes viennois qu’il s’agisse des films d’Otto Mülh, de Gunther Brus ou ceux réalisés par Kurt Kren. Ce dernier ainsi que Marc Adrian a été influencés par la musique et la poésie autrichienne de l’époque. Le Wiener Grupp groupe de poètes artistes actifs entre 1954 et 1960 a été essentiel pour toute cette génération d’artistes autrichiens. Il préfigure l’actioniste viennois par son goût dans la production d’événement et de mises en scènes ou d’actions, autant qu’il anticipe de nombreuses tendances de l’art des années 60 aux années 80 (à travers les happenings avant la lettre, l’art conceptuel, un certain type de détournement etc…). En 1985, Valie EXPORT réalisera dans Table Quotes, un portrait de l’un des membres de ce groupe qui détruisit la plupart de ses œuvres à la fin des années 50, Oswald Wiener. Les figures prépondérantes dans le cinéma en Autriche sont, très certainement Peter Kubelka et Kurt Kren. La reconnaissance de Kurt Kren est avant tout européenne, alors que Kubelka jouera un rôle essentiel auprès de Jonas Mekas dans la fondation de l’Anthologie Film Archive à New York. Peter Kubelka est considéré comme l’un des fondateurs du cinéma indépendant européen aux côtés de Maurice Lemaître [2]. Peter Kubelka interroge le cinéma à partir de son matériau même. Son travail à la fin des années 50 dans trois de ses films les plus achevés investit la nature de l’objet cinématographique. Il s’agit d’un cinéma formel, un cinéma matérialiste qui manifeste le support à partir de son fonctionnement selon ses constituants élémentaires. Il opère par réduction tout en visant à l’universalisme, il préfigure le cinéma structurel de quelques années. Il définit ce cinéma comme métrique. Cette croyance en l’universalisme sera invalidée par Valie EXPORT et par la plupart des artistes femmes des années 60.

Le premier film de Kubelka Mosaik im Vertrauen (1954-55) est une co-réalisation avec Ferry Radax qui devient le cinéaste du Wiener Grupp en travaillant avec un de ses membres Konrad Bayer (1934 -1964), ils réalisent ensemble Sonne Halt (1959-62). Pour sa part Peter Kubelka ne sera jamais associé à aucun des groupes viennois de ces époques, bien qu’il soit ami de certains de leurs membres [3] . L’influence du cinéma de Peter Kubelka sera très forte aux Etats-Unis, alors que Kurt Kren [4] exerce une influence plus importante en Angleterre et en Allemagne. Ces détails ont leur importance car ils vont nous permettre de comprendre plus facilement les enjeux et la nature de la réception des travaux de Valie EXPORT au début des années 70. À côté de cette tabula rasa initiée par Kubelka, que découvre Kren au début 60 et dont la radicalité l’influence dans ces trois premiers films de 61, on trouve un grand nombre d’actions filmées lors des événements conçut par les actionistes viennois. Leur art se révèle comme absolument nécessaire vis-à-vis d’une société cléricale et ultraconservatrice. Le travail de sape déclenché dans la poésie par le Wiener Grupp [5] . prend une autre dimension dans la mesure où les actionistes ne font pas un numéro de cabaret, comme l’étaient encore les deux actions du Wiener Grupp, qui se rattachaient ainsi du dadaïsme. Les actionistes ont pour premier matériau le corps dans toutes ses expressions. Il s’agit avant tout d’une insubordination caractérisée qui vise à mettre à mal une société ramassée sur elle-même, enfermée dans un conservatisme postfasciste. La plupart des actions qui dénotent un rapport avec les happenings d’Alan Kaprow [6], interrogent les représentations du corps au travers son anéantissement, sa sexualité en utilisant des matériaux tel le sang, la merde etc. Ces actions remettaient en cause la réalité policée, aseptisée de la société autrichienne. Il s’agissait de s’opposer par l’art à la répression constante d’une société normalisée. Ces actions usaient, abusaient des corps. Elles utilisaient la femme, la représentaient malgré leur radicalisme revendiqué comme tout autre groupe, c’est-à-dire qu’elle était un objet qui n’avait pas droit aux chapitres hormis celui d’être l’un des éléments de la performance, trituré par l’instance dominante : l’homme. On voit immédiatement pourquoi et comment la pratique de Valie EXPORT se singularise par rapport à ces artistes-là. « Je critique le rôle des femmes dans les actions matérielles, qui ont été le fait d’artistes masculins (En tant que féministe, je ne m’intéresse pas aux rôles des hommes). » Pour elle en effet dans ses performances, l’action «  vise à obtenir l’union de l’acteur et du matériau, de la perception et de l’action, du sujet et de l’objet, l’actionnisme féministe, le matériau « femme », subjuguée et tenue en esclavage par le créateur masculin, en une actrice et créatrice indépendantes, elle est sujet de sa propre histoire. Car, sans capacité à s’exprimer par soi-même et sans champ d’action, il ne saurait y avoir de dignité humaine » Valie EXPORT fait partie de cette génération d’artistes autrichiens qui après les actionistes viennois [7] interrogent le social, la politique selon des modalités différentes. Si l’on pense à Ernst Schmidt Jr [8] . dans le cinéma expérimental, à Peter Weibel et Valie EXPORT dans les arts plastiques qui comprennent le cinéma dans une acceptation particulière ce n’est plus la surcharge signifiante comme l’Actionnisme l’a préconisée mais la réduction, l’analyse, le décodage des signes pris dans un système plus large de la communication qui sont investit. Si les actionnismes saturaient le sens par la surcharge en dénonçant de manières spectaculaires les tabous et la répression de la société autrichienne, ils le faisaient encore avec des moyens qui relevaient de la peinture gestuelle et d’un certain expressionnisme. (C’est en ce sens que l’on comprend les liens unissant cette peinture avec l’expressionnisme abstrait ou avec la peinture gestuelle japonaise). Ce qui n’est plus du tout le cas chez Valie EXPORT, ou Peter Weibel. On est en présence ici, d’une analyse de la communication qui s’expose dans la projection d’un corps qui est lui-même compris comme surface réceptrice productrice des phénomènes de socialisation. C’est dans ce sens qu’il faut comprendre les premiers travaux de Valie EXPORT. « Mon travail devrait être compris comme une critique des actions matérielles, une réponse artistique distincte afin de répondre à ces actions matérialistes » Quels sont-ils donc ces travaux qui nous préoccupent et qui aujourd’hui revêtent une importance extrême. Ils ont été identifiés comme de l’Expanded Cinema. Dans le cas de Valie EXPORT il s’agit d’actions cinématographiques, des projections de signes qui se produisent en dehors du lieu de consommation classique du cinéma. « Le concept et l’intention des premiers travaux en Expanded Cinema consistaient à décoder la réalité telle que manipulée dans le film. Apporter le dispositif cinématographique dans l’espace et la temporalité de l’installation afin de briser la bi-dimentionalité de la surface plane. Au cœur de mon analyse, on trouvait la déconstruction de la réalité dominante, la déconstruction et l’abstraction du matériau, la tentative de produire de nouvelles formes de communication et leur réalisation. Mon travail s’attachait à s’écarter des formes de cinéma traditionnel, de sa production commerciale – production conventionnelle des séquences cinématographiques selon le tournage, montage, projection et de les remplacer en partie avec des aspects de la réalité comme des nouveaux signes de la réalité. Présentation, produit, production, réalité forment un tout dans l’Expanded Cinema. Dans l’action cutting (1967-68) je ne coupais pas le ruban de celluloïd, mais le corps de l’écran éclairé par la lampe du projecteur. Le son de la coupe (le rasage), de la respiration, et du projecteur sans film constituent la bande-son. L’éclairage, le développement et les images étaient donc produits simultanément [9] Lorsque Valie EXPORT explore ce concept d’Expanded Cinema, elle redéfinie la compréhension du cinéma comme lieu d’échange. Elle active cet espace en tant qu’espace de communication qui a pour habitude de ne fonctionner que dans la douce neutralité de son environnement ouaté, il s’agit d’un lieu à sens unique. En effet il n’y a pas de réciprocité dans cet usage du cinéma. Valie Export boute littéralement le cinéma hors les murs, il sort de son placard et de son usage feutré. Il s’expose. Cette exposition est particulière puisqu’elle déploie à la fois le dispositif même autant qu’elle se réalise à travers des actions précises qui ne font appel que très secondairement aux outils du cinéma. Ce renversement est particulièrement excitant dans la mesure où il déplace à la fois le sujet, et l’objet du cinéma autant qu’il se réfère aux usages dominant du cinéma en les critiquant par le simple fait de les exposer. Au moyen de ce déplacement, on pourrait parler de renversement, Valie EXPORT cherche à restituer de nouvelles perspectives de perceptions à nos sens amputés. Ainsi, si l’on examine quelques propositions de l’Expanded Cinema, est-on frappé par la manière avec laquelle l’artiste travaille différentes couches du dispositif cinématographique. Parfois elle interroge la question de la matérialité du support et les processus en y substituant certains de ses éléments. D’autres fois, elle privilégie les moments de la réception du film c’est-à-dire l’interaction induite par le dispositif, d’autres fois encore elle fera du corps, le sien, celui des spectateurs le matériau de l’action. Parfois elle combine ces différents aspects. Le remplacement des éléments du dispositif se retrouve dans Abstract Film N°1 (1967-68). Dans cette installation, il est question de production et projection d’image selon un système d’échange particulier qui peut faire appel à d’autres éléments naturels comme écrans comme des pierres, des arbres etc. Ce qui est intéressant avec ce travail c’est le lien que l’on discerne entre des propositions de Gina Pane et de Valie EXPORT. En effet, le recours à des éléments naturels, comme l’eau, la pierre, permettent d’écarter l’aspect technologique au profit du rapport entre nature et culture. Ce n’est pas tout à fait le même geste que l’on retrouve avec Gina Pane lorsqu’elle déplace des pierres d’un sentier pour les exposer au soleil dans Pierres déplacées (1968), mais j’y vois cependant une relation qui permet par un léger déplacement, une réduction de l’acte d’ouvrir de nouveaux espaces de représentations. Ce geste ouvre pour Gina Pane le chemin de la performance, de l’action, comme il s’inscrit aussi chez Valie EXPORT. On constate que pour Valie EXPORT et Gina Pane, le corps est un système de signe ; il est pour Gina Pane un écran de projection où s’inscrivent des images personnelles et étrangères, alors que pour Valie EXPORT il est le lieu de déterminations culturelles, l’endroit ou la loi de la société est gravée dans l’individu [10], mais ce corps est aussi capable de se signaler au monde et de communiquer avec. Chacune de ces artistes travaillera cet écran selon ses intérêts. Remarquons qu’elles mettront toutes deux en scène la douleur, les images de mutilation sans cependant travailler selon le même registre que les actionnistes viennois et, pour cause, elles sont femmes. Avec Instant Film (1968) Valie EXPORT et Peter Weibel semble partager avec Fluxus attitude et proposition, ce film évoque aussi des propositions lettristes, qui seront plus tardives dans leur actualisation. Dans Instant Film c’est le rectangle de plastique transparent qui tient lieu de film instantané. « Instant Film est un méta film qui est le reflet du film et de la réalité. Après le développement du café instantané et du lait en poudre, nous avons finalement réussi à produire le film instantané, qui est écran, projecteur et caméra d’un coup. Leur assemblage dépend du spectateur. » Ce film favorise la participation des spectateurs pour exister en tant que film alors que bien souvent les installations ne font pas appel à la participation du spectateur, elle le laisse de côté. (il faudra attendre parfois le cinéma numérique qui demande une participation plus active des spectateurs comme c’est le cas chez gremwrith dans sonata). Il existe cependant dans la production de Valie Export de nombreux projets interactifs d’une manière ou d’une autre à cet égard Ping Pong (1968) est l’un des meilleurs exemples de ces travaux alors Tapp und Tastkino (1968) illustrerait un autre versant de l’interactivité et du déplacement des modalités de la réception d’une performance qui serait un élargissement du cinéma d’où l’Expanded Cinema. Avec Ping Pong, la question de la réception est envisagée sous la forme du jeu. À partir d’une action qui recourt à un acteur, une actrice en tant que substitue des spectateurs joue avec la projection de rond qui se déplace dans la profondeur de l’écran. Muni d’une raquette et de balle le joueur, donc tente de viser ces cibles rondes qui apparaissent et disparaissent indépendamment de la réaction du performer. Si Tapp und Tastkino nécessite un dispositif particulier c’est qu’il interroge le cinéma selon des modalités distinctes et surtout qu’il met en scène le voyeurisme inhérent à la consommation cinématographique. La pulsion scopique déclenche des attitudes et des modalités d’appréhension qui ne font que souligner le pouvoir du regard de l’homme vis-à-vis de la femme-objet, sujet de toutes ses convoitises, a tel point qu’il en fixe les règles du regard et du dispositif même. Avec Tapp und Tastkino l’artiste inverse le processus de consommation du film dans la salle obscure. Le regard du voyeur n’est plus protége par l’obscurité, engagé de manière anonyme à satisfaire son plaisir falsifié, ici, il se trouve engagé à prendre son plaisir pour de vrai, publiquement face au regard de l’autre qui le toise, mais aussi du public qui le voit faire. Un dispositif d’échange, de communication s’actualise en direct. Arrêtons nous un instant aux différentes présentations de Tapp und Tastkino qui ont été réalisés par EXPORT. Si la première faisait appel à un complice, un bateleur qui rabattait le client, en la personne de Peter Weibel, c’est à la deuxième présentation de cette action que Valie EXPORT fit appel à une femme comme rabatteuse. Ce qui déclencha de plus amples réactions, en majorité hostiles. « Cette action fut très intéressante parce que nous étions deux femmes, les gens sont devenus très agressifs. Ils croyaient que nous étions des prostitués. » On pourrait les situer au même échelon que celles que Aus de Mappe der Hundigkeit déclencha. Dans cette dernière action, l’inversion des rôles est plus accentuée dans la mesure où Valie Export tient en laisse Peter Weibel. Avec Tapp und Tastkino Valie EXPORT reconnaît qu’elle tend à vouloir modifier la conscience des gens en effet : « Dans cette action, dans le langage du film, j’autorise mon corps écran, ma poitrine à être touché par n’importe qui,. Je brise les confins légitimes socialement de la communication sociale. Ma poitrine n’était plus partie de la société du spectacle, cette dernière faisant de la femme un objet. Ma poitrine n’est plus la propriété d’un seul homme, au contraire, la femme tente, par la libre disponibilité de son corps, de déterminer son identité indépendante, le premier pas qui va de l’objet au sujet. »

Cette action incarne pour Valie EXPORT « Les premiers pas d’une femme d’objet à sujet. Elle montre librement ses seins et ne suit plus aucune prescription sociale. Le fait que tout se passe dans la rue et que le consommateur puisse être n’importe qui, homme ou femme, constitue une infraction révélatrice du tabou de l’homosexualité. » On retrouve un recours à l’homosexualité comme marqueur social dans Menschenfrauen (femme humaine) en 1979) ou les deux femmes enceintes Anna et Petra s’embrassent dans un restaurant, provoquant un tollé général. Avec Genitalpanik (1969) elle expose son sexe à la vue des spectateurs d’un cinéma dans lequel elle est entrée. Bardé d’une arme en bandoulière les cheveux ébouriffés on pense immédiatement à Angela Davis qui aurait décidé de s’attaquer au macho de service, comme déplacement de revendication raciale. L’inscription du politique dans ce travail est patente. Il s’agit d’une attitude féministe : « Avec Tapp und Tastkino, il y avait déjà cette confrontation avec l’analyse de la féminité et de l’image de la femme, du regard sur la femme – telle que ce fut formulé plus tard. Cette préoccupation a débuté dans les années 60, c’est un thème très présent et très important. » Ce travail préfigure les propositions des films courts des années 70. Ces questions, quant à l’image de la femme, investissent le lieu dans lequel l’artiste agit, à partir desquels Valie EXPORT acte, selon quels types de relations, quelles règles et réglementations sociales, pour reprendre ses termes. C’est le corps de la femme, en la personne de Valie EXPORT qui est interrogé, au travers de mis en scène qui vise à faire entendre une voix : sa voix ; la voix d’une femme. Ainsi se comprennent les pièces tel body and sign (1970), qui perpétuant les actions précédentes, en proposent une image figée dont le mouvement inscrit le travail de la pensée. L’équivoque du signe tatoué joue sur plusieurs registres, plusieurs plans comme le font aussi les dispositifs vidéos et les photographies qui disjoignent des couches successives de partie de corps. La photo, la performance, certaines photos et quelques films accentuent encore ces déboîtements, qui nous fait passer du corps d’une femme à celui de Valie EXPORT au profit d’une extériorisation d’états mentaux, dont la trace se lit selon divers média. Travail du transfert, on passe d’une surface à l’autre, faisant remonter l’encre pour se résorber ou s’imprimer sur une surface sensible, peau, pellicule, papier. Le signe fait sens par son transport même.

La réception de ces travaux est plutôt bonne, leur impact est important plus important dans le champ des arts plastiques qu’il n’est dans le territoire du cinéma expérimental [11]. En fait dans ce territoire en pleine effervescence la réception est double d’un côté bien accueillit de l’autre la spécificité de ces actions, les postures qui les sous-tendent sont identifiées comme prolongeant les actions Fluxus et ou celles des actionistes viennois. C’est en tout cas dans ces termes dont en parle Birgit Hein. Cette cinéaste invite Valie Export et Peter Weibel à participer à, un important festival qu’elle organise avec Willem Hein au mois de mars de cette année XSCREEN à Cologne. À la suite d’une nouvelle invitation, la même année à Munich, Tapp und Tastkino est montré sur l’une des places de la ville. À cette époque, comme le reconnaît Birgit Hein, le féminisme ne la préoccupait pas encore. « Pour moi c’était le cinéma structurel, Freud et Marx. » Valie EXPORT anticipe la réflexion qui s’engagera, quelques années plus tard chez les féministes anglo-saxonnes. Son Expanded Cinema est en marge de celui des cinéastes du moment, plus préoccupé par les questions structurelles du dispositif, quant à la matérialité du support que par des contenus qui interrogent autant le regard, que le regardant et investissent des champs forclos, pour ne pas dire prohibés. En effet, l’expanded cinéma de l’époque produit avant tout aux Etats-Unis, relevait de l’esthétique l’underground tel qu’illustré par Andy Warhol avec le Plastic Inevitable, ou bien encore celle d Events dans le Moviedrome de Stan Vanderbeek., dans lesquels de véritables collages, assemblages audio visuels s’élaboraient en direct. La plupart des travaux produits dans les années 60 sont une manifestation de l’ère psychédélique. Il faut attendre les années 70 pour voir éclore une école qui travaille les processus et investit les relations entretenues par la projection dans l’espace et qui est avant tout le fait du cinéma matérialiste britannique, et de quelques figures importantes aux Etats-Unis, comme Paul Sharits, Michael Snow pour n’en citer que deux. Inévitablement les actions d’Expanded Cinema de Valie EXPORT tombe en porte-à-faux, elle manifeste d’autres questionnement tout en privilégiant une esthétique minimale ? Elles sont proche de celles du body art, mais s’en distinguent par une affirmation proprement féministe. Valie EXPORT, s’aventure ainsi dans UN territoire relativement intact, ou tout EST possible car, tout ou presque, EST à faire. Il faut se rappeler que l’article essentiel de Laura Mulvey : Visual Pleasure and Narrative Cinema paraît dans la revue Screen en 1974. Dans cet article Laura Mulvey questionne au moyen de l’outil psychanalytique le travail patriarcal dans le cinéma narratif, et plus précisément quant à la représentation des femmes pour le regard des hommes. Elle n’est cependant pas la seule à interroger et à inscrire la spécificité d’une parole, à façonner une écriture féministe. Carolee Schneemann qu’elle ne rencontre pas avant 70 à Londres a déjà ouvert la voie, esquissé des chemins, en conflit avec les institutions. Ces actions autant que ses films explorent de manière explicite des représentations sexuelles, cependant on peut dire que ces actions telles que : Meat Joy (1964) ou Snows (1967) participent d’un certain actionnisme pictural. Meat Joy est une performance qui illustre un rite sexuel, alors que Snows est une réponse violente quant à la guerre du VietNam.

Si l’on doit comprendre le travail de Valie EXPORT comme un travail de résistance face à l’imagerie des femmes défendues par l’actionnisme viennois, on ne peut s’empêcher d’y retrouver une similarité avec les films de Carolee Schneemann et principalement avec Fuses qui s’oppose à l’esthétique d’un Stan Brakhage. Dans Window Water Baby Moving (1959) il s’approprie la naissance de son premier enfant, en confisquant l’autorité de celle-ci par la production d’une vision au travers de son regard, l’acte de donner naissance se trouve magnifier par la capture et la projection qu’en produit le cinéaste. Vénérée comme donnant la vie, Jane, la femme de Stan, n’a pas cependant pas de voix puisque soumise au diktat de l’autorité créatrice dans ce cas. Schneemann comme EXPORT ne travaillait pas un agenda, elle devait tout simplement bouleverser l’art afin de faire résonner leurs voix de femmes. Ces travaux ne sont pas encore des travaux féministes, mais ils sont indispensables pour comprendre à la fois les développements de la pensée féministe autant que la production artistique qui s’y rattache. Sestravauxontla particularité et c’est en ce sens qu’ils sont d’une incroyable actualité de travailler autour de la représentation du plaisir sexuel, comme c’est le cas dans Fuses (1965) et Plumb Line (1970) pour Carolee Schneemann et dans Menstruation (1967) aujourd’hui perdu et dans Mann, Frau & Animal (1973) d’EXPORT. L’affirmation du plaisir au féminin se révèle bousculer le bon goût autant que les habitudes des hommes dans la mesure ou soudain de leur plaisir, il n’est plus question. Ce qui parle, ce qui se montre à l’image, c’est l’autre, la grande absente. Celle, qui privée de parole autant que d’image, la prend soudainement, cette parole, et ce n’est pas pour dire la même chose, ni montrer la même chose. Un détail important sur la matérialité de ce film se dévoile à travers les rayures et les textures aquatiques dont le support est marqué. On peut y voir comme les manifestations de la manipulation soft et hard de la pellicule, de la peau du cinéma, dans sa chair même un peu comme un analogue avec les gestes d’amour. De plus n’oublions pas que les scènes de baises se déroulent toujours en présence d’un chat dont on sait qu’il peut être parfois possessif, câlin, et agressif. Cela marque. Cette parole est d’emblée politique. Avec Mann, Frau & Animal, et Remote Remote tous deux de 1973, Valie EXPORT explore des registres plus personnels, et met en scène la douleur, l’auto mutilation, le plaisir. On retrouve dans ces mises en scène, une fois encore, des similarités avec plusieurs actions de Gina Pane. Dans ces deux films Valie EXPORT extériorise des états mentaux. Dans un cas le plaisir, dans l’autre la douleur. Dans Mann, Frau & Animal, pour reprendre les termes de Juan Vicente Aliaga, Valie EXPORT explore le parcours allant du plaisir individuel, solitaire et autosuffisant d’une femme à une fin sanglante (viol symbolique ?) sur fond de grognements virils. L’irruption du sang, la menstruation à l’image brise un tabou. Ce qui est ici percutant dans tous les sens du terme c’est le fait de montrer faire voir à la fois le plaisir, orgasme et menstruation. Cette rencontre à l’image précède d’une bonne dizaine d’années les travaux de vidéastes canadiennes sur la sexualité des femmes et sur l’éjaculation féminine dans Nice Girl Don’t Do It (1990) de Kathy Daymond ou The Sluts and Goddess Video Workshop (1992) de Maria Beatty et Annie Sprinkle. Une scène de ce film évoque la scène de la douche de Psycho celle du pommeau, vu dans dessous. Renversement total dans la mesure ou la femme n’est plus un objet de désir qui ne peut s’assumer que dans le meurtre alors que chez Valie Export, la femme n’en a plus besoin, on ne l’entend plus comme animal.

Avec Remote Remote, ce n’est pas tant le plaisir que la mutilation qui est exposée, et plus exactement de l’automutilation. L’acte de se couper les peaux, c’est-à-dire le soin esthétique brut, la manucure appartient aux codes élémentaires de la représentation féminine. Dans Remote Remote, l’acte est prolongé dans la durée. Avec insistance on glisse du soin à la maltraitance, on se blesse, on inflige aux doigts des traitements pour le moins saignants. On le fait au moyen d’un cutter. C’est plus tranchant. Non seulement ça coupe, mais on insiste. La répétition de ces mutilations induit la perception d’une douleur chez le spectateur, la spectatrice et qui sait pour les spectateurs hommes cette pratique inscrit la peur face à la castration. Elle met à mal l’usage patriarcal du plaisir cinématographique, en le dénaturant. La main est rincée dans un bol de lait qui inscrit l’apaisement autant que la purification. La mixtion de ces éléments apparemment opposés se retrouve fréquemment à l’œuvre chez Valie EXPORT. Elle met à mal le confort de la performance lorsqu’elle quitte le champ pour nous nous laisser face à l’image deux enfants abusés vêtus de pyjama rayé qui évoquent d’autres souvenirs de la société autrichienne contemporaine.

Ces films proches des actions de l’Expanded cinéma s’en éloignent cependant, par l’utilisation partielle, en ce qui concerne Mann, Frau & Animal, de techniques qui mêlent différents supports (photos, graphisme) dans le même film, amorçant à la fois sur ce support un report de techniques prisées dans les pièces photographiques. Alors qu’une partie de son travail interroge la représentation de la femme, Valie EXPORT déploie avec la vidéo des dispositifs qui font côtoyer simultanément plusieurs points de vue, qui peuvent s’emboîter les uns dans les autres afin de produire un événement spécifique. Ainsi Split Reality (1970-73), ou Adjunct Dislocations (1973) et son deuxième pendant (1973-78) qui évoquent un travail proche de Dan Graham et qui sera formidablement orchestré dans Syntagma avec un seul écran. Les dispositifs à deux caméras que met en place Valie EXPORT, partage avec ceux de dan Graham des similarités d’attitudes et de questionnement quant à la perception simultanée d’une action au moyen de deux points de vue. Ainsi Roll (1970) et Helix/Spiral (1972) anticipe et rappelle les dispositifs de prise simultanée de Valie EXPORT. Dans ce couplage, d’un tournage simultané et de sa restitution synchrone est envisagée la question du hors champ, autant que l’annexion du champ contre champ simultané. Il n’y a plus d’écarts, on est à la fois dehors et dedans. L’un et l’autre, les deux à la fois. Ce travail sur la question de la simultanéité des points de vue se comprend par rapport à la situation du cinéma expérimental autrichien de l’époque. Comment pouvait-on encore réaliser des films après le cinéma métrique de Kubelka ? Comment travailler ce support sans tomber dans la redite et sans se cantonner aux filmages d’actions ? Comment ouvrir le cinéma vers d’autres horizons ? C’est ainsi qu’il faut comprendre cette interrogation autour de la simultanéité et dont la première trace se trouve dans le film d’Hans Scheugl : Hernals (1967), dans lequel « des procédés documentaires et pseudo documentaires ont été simultanément utilisés par deux caméras situées à des angles différents. Chaque phase de mouvement a été divisée. Pendant le montage, chacune de ces phases a été doublée. Les techniques utilisées pour cela varient. Le son a lui aussi été doublé et, là, encore, en utilisant diverses techniques. Deux réalités différemment perçues en raison des conditions de tournage ont été montées en une réalité synthétique dans laquelle tout se répète. Ce doublement détruit le postulat de l’identité de la copie et de l’image. Perte d’identité, perte de réalité (schizophrénie). » On retrouve des préoccupations similaires dans Interrupted Line (1971) en 16mm et Interrupted Mouvement (1973) en vidéo. Le côtoiement de deux temps, et les raccords, quasiment compression de deux espaces dans un trouve sa réalisation dans les assemblages photographiques qui joue les corps dans l’espace, pliant pour ainsi dire le corps à l’espace et dont quelques séquences de Syntagma, et d’Invisible Adversaries (1976) sont parmi les plus percutantes illustrations. La scène de l’escalier dans Syntagma, et la scène de sommeil dans le premier long métrage qui juxtapose la projection d’un lit en noir et blanc au-dessus du lit en couleur dans lequel Anna dort et rêve. Cette juxtaposition de plans similaires amis distincts ne serait ce que par leur rendu couleur/ nb se retrouve dans fréquemment dans les travaux photos de Valie EXPORT. C’est d’ailleurs à cette époque que Valie EXPORT produit une série que l’on retrouve dans Invisible Adversaries dans lequel l’artiste prend la pose d’une des femmes dune peinture classique. Avec Erwartung vierge à l’aspirateur, ainsi qu’avec la vierge à la machine à laver de 1976, on retrouve une des constantes du travail de Valie EXPORT, qui consiste à questionner la représentation des femmes dans l’histoire, et au présent. Déplacer le regard afin de le localiser vis-à-vis de la question du genre ; mais n’était-ce pas ce qui s’annonçait déjà avec Identité transfert de 1968. Avec Invisible Adversaries, Valie EXPORT, travaille la narration. L’ouverture et la clôture du film évoquent le dernier plan de Profession Reporter d’Antonioni, dans lequel une caméra sort d’une pièce pour parcourir une ville. Elle n’est pas la première à se lancer dans pareille aventure. C’est très certainement Yvonne Rainer qui impulse cette tournure dans le champ le champ du cinéma expérimental. Avec Lives of Performer de 1972, Yvonne Rainer quitte le champ chorégraphique en renforçant l’usage d’éléments narratifs. Mais tout cela est fait de manière distanciée. On retrouve des stratégies similaires chez Valie EXPORT en regard de la non-adhérence d’un personnage à son rôle, ou par le jeu subtil de répétitions décalées comme dans la scène du café à l’extérieur, ou lors d’un dialogue organisé par des moniteurs vidéos. Cet agencement de plans, qui anticipe, freine et relance le récit confèrent à ces films leur matière d’assemblage, constitués de moments plus ou moins narratifs, déplacent l’expérience du film du récit à la trame même le constituant en mêlant des éléments de différentes provenances. Des éléments autobiographiques côtoieront des répétitions et des pièces de danse chez Yvonne Rainer, alors que Valie Export incorporera ou recrée des pièces photographiques qu’elle met en situation. Pour les deux artistes et à des degré divers, avec ce travail cinématographique, il s’agissait d’aller au-delà du film structurel qui s’épuisait, allant tout droit dans un mur, alors que des indices laissaient apercevoir des alternatives à ce cinéma. Valie Export il s’agissait avant tout d’introduire des formes et des contenus de l’avant-garde au cœur des longs -métrages. « J’essayais d’introduire au sein des films conventionnels des discours alternatifs d’un artiste des media. » Je souhaitais trouver un moyen de créer une polyphonie à l’aide de métaphores visuelles pour illustrer les différents processus psychiques personnels. »

« Anna ne reflète pas seulement la rigidité de la mentalité bourgeoise, elle s’y confronte par son comportement. J’ai utilisé Anna afin d’adresser une critique de la société viennoise, autrichienne, et plus particulièrement sa culture politique. »

 

[1] Interview publiée (c’est nous qui traduisons) dans l’ouvrage de Roswitha Mueller Valie Export Fragmens of the Imagination Indiana University Press, Bloomington and Indianapolis 1994

[2] Il ne s’agit pas d’une liste car il aurait fallu ajouter beaucoup d’autres cinéastes ; il s’agit plutôt d’indiquer par ces deux figures la singularité des approches.

[3] Sur Peter Kubelka, voir Christian Lebrat Peter Kubelka ed Paris Expérimental, Paris 1990 et Peter Kubelka, par Gabriele Jutz et Peter Tscherassky, PVS Verleger, Wien 1995

[4] On pense à l’article Malcolm LeGrice, in Studio International, Londres nov/dec 1975 et aussi Ex Underground Kurt Kren seine filme ed Hans Scheugl PVS Verleger Wien 1996

[5] Sur le Wiener Grupp voir Die wiener gruppe A Moment of Modernity 1954-1960, ed Peter Weibel, SpringerWienNewYork BV 1997

[6] Voir Alan Kaprow L’art et la vie confondus, Supplémentaires ed centre Georges Pompidou, Paris 1996

[7] Sur l’actionnisme viennois Von der Aktionmalerei zum Aktionismus 1960-65 Ritter Verlag, 1988 et Wiener Aktionismus 1960-1971, Ritter Verlag, 1989

[8] Sur ce cinéaste voir Ernst SchmidtJr drehen sie Filme, Aber keine Filme, Filme und Filmtheorie 1964-87, Linden Bilda, Triton, Wien 2001

[9] Valie Export in RS p 219 ».

[10] On pense immédiatement à l’acquisition de la mémoire décrite par Nietzsche dans la Généalogie de la Mémoire, mais aussi bien à la Colonie pénitentiaire de Frantz Kafka.

[11] C’est en 1968, que Valie EXPORT, co-fonde avec Kurt Kren, Hans Scheugl, Ernst Schmidt Jr, Gottfried Schlemmer et Peter Weibel l’Austria Filmmakers Cooperative.

 

Fonografia de Thelmo Cristovam (Pt)

Revista Nós Contemporâneos VAZÃO n°71 BarrusMÀIMPRESSÃOeditora, Recife, Junho 2012

Há alguns anos Thelmo Cristovam cria paisagens sonoras designadas com o nome genérico de Fonografia.
Thelmo Cristovam é, antes de tudo, um artista sonoro, que toca diferentes instrumentos de sopro privilegiando a improvisação, interessando-se, ao mesmo tempo, pela gravação sonora em um espaço urbano ou na natureza. Em todos os casos, ele privilegia o som, seja ele gravado ou tocado. O som é o objeto de seu trabalho. As fontes sonoras são múltiplas ; assim, a paleta de trabalho do artista é extensa e ao lado de sons “naturais” encontramos também tanto ruídos digitais quanto sons de instrumentos de música.
A ideia de trabalhar a paisagem sonora remete ao visual e às suas modalidades de construir a paisagem, porém, diferentemente do que acontece na visão, só podemos nos abstrair do ambiente sonoro parcialmente. Não podemos fechar os ouvidos, como fechamos os olhos. Somos seres de sons, quer se trate de sons corporais ou dos que nos rodeiam, nos isolam, ou submergem…
Em suma, não se escapa do som. A ideia de produzir paisagens sonoras levará em conta essas camadas e estratos sonoros que nos atravessam, seja isolando-os a fim de nos fazer descobrir aspectos até então imperceptíveis, seja acrescentando-os àqueles de nosso cotidiano, ou ainda (re) criando experiências sonoras singulares.
Se a ideia do soundscape é a versão áudio do landscape, ainda assim essa noção está ligada à sua definição criada por Raymond Murray Schafer nos anos 70 : é « o ambiente sonoro. Tecnicamente, [o soundscape] é toda porção do ambiente sonoro vista como um campo de estudo.[1] » (Schafer, 1997, p. 366)). Portanto, para quem a concebe, a paisagem sonora é um ambiente que se estuda. É, pois, um campo delimitado, pode se referir a ambientes que já existem ou a construções. Admite-se, portanto, a priori, que uma paisagem sonora possa ser construída e não apenas extraída, à maneira de uma simples gravação.
Com frequência, quando se fala de paisagem sonora, não se pode deixar de lado as relações complexas entre a paisagem e o conceito de natureza. Nesse caso, opõe-se aos sons ditos naturais – o som dos elementos, dos animais, de paisagens naturais – os sons urbanos.
É preciso, de saída, distinguir a percepção desses sons : a escuta direta de um ambiente sonoro no qual estamos imersos, daquela que foi gravada e que manifesta a distância patente entre a fonte (a emissão) e sua restituição, reprodução (difusão). Com efeito, esses dois mundos sofrem quase de uma incompatibilidade de fato. Quando estamos num ambiente sonoro qualquer, a experiência que fazemos do espaço sonoro é tributária de nossa posição no espaço, nossos movimentos modificam a percepção e qualificam a profundidade, a opacidade do próprio espaço sonoro. Quando escutamos com fones de ouvido uma paisagem sonora, estamos quase diante de uma tela, os deslocamentos sonoros são recebidos e não gerados por nós. Somos separados das fontes e nos tornamos espectadores indiretos : assistimos ao espetáculo da natureza gravada ! É nesse ponto preciso da captação, da seleção, da montagem que se efetua, entre outros, o gesto do músico. Para Thelmo Cristovam, não se trata de fazer um documentário. Para além da especificidade de lugares, de tempos e de duração da gravação, a obra se funda na exploração das possibilidades oferecidas pelo material. É a qualidade do material, definido tanto pelas escolhas dos instrumentos a partir dos quais ela foi realizada, quanto pela natureza do espaço investido, que engendra a seleção, a transformação parcial ou radical do documento de origem. O que está em jogo aqui não é tanto a reprodução, e sim a produção de uma paisagem sonora. Assim, quando Thelmo vai para o sertão, ou para a floresta para fazer suas gravações, o que o motiva é a riqueza dos elementos sonoros, a densidade das camadas de sons, suas texturas… na qual nem sempre prestamos atenção, mas que uma escuta atenta poderá salientar ou nos fazer descobrir ; é nesse sentido que se falará de uma escuta dirigida pelo captador de som, mas também por aquele que trabalha, isola no material linhas de sons que seguem em direções distintas. Como o músico reconhece : « Estou me dedicando a mapear os sons naturais do estado de Pernambuco porque eles são singulares. » A localização, a hora da captação são essenciais, pois prefiguram e modelam a peça sonora que será criada. A decisão relativa à captação gera a montagem que, às vezes, consiste em um simples corte seco. « Algumas vezes a gravação se aproxima tanto do que eu queria que basta uma escolha do trecho da publicação pra publicar, um corte seco no começo e outro no final[2]. » O músico compartilha a atitude dos cineastas experimentais e documentaristas que, conscientes das qualidades intrínsecas do documento filmado, limitam-se a decidir selecionar um início e um fim de uma sequência filmada. O filme e a peça sonora não funcionam como um documentário através de um conjunto de validação quanto ao real, seu mimetismo, sua fidelidade…, o que está em jogo é a veracidade da peça, que se constitui como uma realidade separada da simples reprodução. É a distância entre o gravado e a reprodução que induz essa mudança de status dinamizado pela escuta. Assim, em certas fonografias, a montagem é intensa e, no entanto, não se deixa apreender no momento da escuta. A artificialidade da paisagem sonora não se revela na escuta, somente no momento de sua feitura, mas a paisagem, esta sim, se constitui no momento da escuta. Como Thelmo observa : « E tudo isto, após, caso seja necessário, muita edição, não deve ser notado, o resultado final deve ser indistinguível de um ambiente « natural », ou seja, eu tento recriar paisagens sonoras.[3] » A paisagem sonora criada vai responder a várias especificidades da escuta : um ambiente imersivo particular, ou seja, destacado de suas fontes. Estamos na (re) produção, ou, mais exatamente, no trabalho da representação aplicada ao som, e isso acarreta um grande número de questões relativas ao contexto no qual a e se dá, sua disposição no espaço…
Yann Beauvais
(Tradução : Eloisa Araújo Ribeiro)

[1] R. Murray Schafer : The Soundscape, our sonic environment and the turning of the world, 1977, Knopf, reed Destiny Books, 1994. SHAFER, R. Murray. A afinação do Mundo. São Paulo : Editora UNESP, 2001. (Tradução : nome do tradutor)
[2] E.mail de Thelmo Cristovam do dia 27 de maio de 2012.
[3] Idem.